Nonato Guedes
Na avaliação do analista e consultor político Antonio Augusto de Queiroz, feita ao “Congresso em Foco”, a expectativa é de que 2024 seja marcado por uma relação mais amena entre o Parlamento e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), depois de um 2023 marcado por cabos de guerra entre os dois Poderes. Queiroz projeta um ano menos combativo em razão dos anseios do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) em ser candidato ao governo de Minas Gerais e da tentativa do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, de se acomodar como ministro na gestão de Lula após deixar o comando da Casa. Antonio Augusto é jornalista, mestre em Políticas Públicas e governo e foi um dos expoentes do Diap – Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar, que teve atuação marcante na Constituinte de que resultou a Constituição-Cidadã de 1988.
Ele acredita também que o governo dependerá menos do Congresso este ano e o clima deverá ser amenizado pela necessidade de Lira de se aproximar do governo até o início de 2025, quando acaba o seu mandato de presidente da Câmara e precisará se fortalecer politicamente. Na entrevista, Antonio Augusto pontuou: “Se não tiver do lado do governo, vai ter sobre ele uma pressão muito grande dos dois senadores de Alagoas, os Renans (Carneiro e Filho, que atualmente chefia a pasta de Transportes) e também do governador Paulo Dantas, que são adversários políticos dele”. O analista considera que Arthur Lira deverá conter o “espírito autocrata e difícil no relacionamento com os demais parlamentares”, se quiser permanecer como figura fundamental da política brasileira. “Então, a tendência dele é moderar o seu apetite, a pressão sobre o governo, para que tenha condições de entrar para o governo assumindo algum ministério, a fim de ter sobrevida política até a eleição de 2026”, avalia. Lira protagonizou diversos embates com o governo, condicionando aprovações de propostas à execução de emendas parlamentares e ao preenchimento de cargos públicos federais por aliados políticos.
Como lembra a reportagem do “Congresso em Foco”, os presidentes das duas Casas Legislativas foram reeleitos no início de 2023, ou seja, não poderão mais concorrer à presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Antonio Augusto acredita que, assim como Lira, Rodrigo Pacheco deve adotar uma postura menos combativa em relação ao Executivo, tendo em vista, igualmente, o seu próprio futuro político. Embora não assuma publicamente, Pacheco ambiciona ser governador de Minas e, para esse desideratum, espera contar com o apoio do Partido dos Trabalhadores no Estado. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, é um dos principais aliados políticos do senador. No passado recente, Rodrigo Pacheco cogitou a hipótese de se candidatar à Presidência da República. Em 2022, quando se desenhou a perspectiva de uma polarização acirrada entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, Pacheco sensibilizou líderes políticos que buscavam uma terceira via para entrar no páreo, já que o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB) não avançava concretamente no projeto de ser postulante e acabou, mesmo, sendo rifado ao final do processo. Pacheco sonhava reeditar a saga do conterrâneo ilustre Juscelino Kubitscheck, que foi alçado à suprema magistratura da Nação.
Com o foco, agora, voltado para o governo de Minas Gerais, Pacheco, na opinião de Antonio Augusto de Queiroz, vai buscar uma postura de equilíbrio com algumas ações que sinalizem para o eleitorado conservador ou ligado ao eleitorado mineiro. “Um desses exemplos foi aquela votação da PEC em relação à limitação dos poderes do Supremo Tribunal Federal, e Pacheco fará outro gesto para essa base mais conservadora a fim de se viabilizar como candidato a governador”, conjectura Queiroz. Além de acenar para o eleitorado conservador do Estado das Alterosas, outro ponto fundamental para Pacheco, conforme Antonio Augusto, é estar “de bem” com o governo. “Ele não terá chance de se eleger se não tiver o apoio e a bênção do governo federal. E é por isso que ele vai ficar numa postura de equilíbrio. Vai dar duas para o governo e uma para a oposição, ou para esses setores que são tidos como mais conservadores. Com isso, ele consegue dar governança no Senado e consegue penetrar no eleitorado mineiro sem a pecha de que se aliou integralmente ou 100% a um governo mais à esquerda”, conceitua Antonio Augusto de Queiroz.
Na entrevista ao “Congresso em Foco”, o analista político apontou erros e acertos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023 e fez um alerta para o mandatário: é preciso se reaproximar dos evangélicos e do agronegócio, dois segmentos fortemente ligados a Jair Bolsonaro, para avançar sobre o eleitorado que não votou nele em 2022. Um cuidado que deve levar em conta, ressalta ele, já as eleições municipais deste ano. “A tática do presidente tem que ser coerente com o seu discurso de união e de reconstrução. Assim, deve cultivar ao máximo a relação com as forças que o apoiam e sempre na perspectiva de cumprir o seu programa de governo. O erro a ser evitado é o isolamento político, especialmente perante o agronegócio e os evangélicos, que ainda o rejeitam muito. Do enfrentamento aos excessos do bolsonarismo devem cuidar a Justiça e os partidos de esquerda, especialmente o PT. O partido, por sua vez, não pode deixar de lançar candidato próprio ou fazer aliança no campo da esquerda, centro-esquerda e centro, só compondo com setores de sua base à direita onde não tiver a menor chance de disputar e mesmo assim mediante um acordo de não agressão ao governo. Tem que fazer o contraponto às forças de direita e à extrema direita”, finaliza Antonio Augusto de Queiroz.