Nonato Guedes
Uma reportagem de Gabriella Soares, publicada no “Congresso em Foco” e repercutida pelo UOL, dá conta que o Partido dos Trabalhadores ganhou poucos filiados em 2023, mesmo com Luiz Inácio Lula da Silva empalmando novamente a Presidência da República e conduzindo reformas e políticas públicas de repercussão no terceiro mandato. Lula é um dos fundadores e considerado o nome de maior destaque da agremiação, no entanto, no ano passado, a legenda aumentou o seu número de filiados em somente 0,8%. Ainda assim, a sigla de esquerda é a segunda maior do Brasil. Saiu de 1,60 milhão de filiados em janeiro para 1,62 milhão em novembro de 2023, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que foram atualizados até 21 de dezembro. O crescimento pequeno foi uma fuga positiva do padrão dos partidos com mais de um milhão de filiados.
Todos os outros partidos situados nessa categoria tiveram quedas, ainda que tímidas. A exceção foi o PRD (Partido da Renovação Democrática), que foi criado em novembro de 2023 com a fusão do Patriota com o PTB. Por outro lado, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro cresceu 6% no primeiro ano do novo governo de Lula. Saiu de 761 mil para 807 mil em novembro. O partido é comandado por Valdemar Costa Neto e é de franca oposição à gestão petista, especialmente no Congresso Nacional, onde o governo Lula tem se socorrido do apoio de parlamentares ligados ao chamado “Centrão” para a aprovação de matérias cruciais, como se deu, no primeiro ano, com relação ao arcabouço fiscal e à proposta de reforma tributária, esta demoradamente discutida tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal. Tanto PT quanto PL devem ser adversários diretos nas eleições municipais de 2024.
O enfrentamento com a direita foi explicitado na resolução do Diretório Nacional do PT em 2023, conforme nota que foi divulgada no início de dezembro pela presidente da agremiação, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). No texto, consta o seguinte: “É nossa tarefa participar ativamente das eleições municipais de 2024, fazendo o embate contra a extrema-direita, para reeleger e aumentar as prefeituras em que estamos hoje, além de ampliar expressivamente nossa base de prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras, incentivando a participação de mulheres, negros, jovens e LGBTQI+”. Para o PT, a disputa pelo controle das prefeituras e pelas vagas de vereadores será uma oportunidade para “organizar e consolidar a base popular necessária para mudar a correlação das forças políticas e mudar, consequentemente, o Brasil”. É uma estratégia destinada, também, a repor perdas valiosas enfrentadas pelo PT diante de situações adversas, a exemplo do escândalo do mensalão, do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da prisão do próprio Luiz Inácio Lula da Silva quando ex-presidente da República. O próprio Lula tem feito exortações com vistas à atração da militância petista que teria se distanciado da legenda em meio aos golpes enfrentados.
Já o PL tem como objetivo conquistar mais de 1.500 prefeituras. De acordo com Valdemar Costa Neto, essa marca será atingida defendendo valores conservadores e mantendo a oposição ao PT, “sem a menor possibilidade de o Partido Liberal formar qualquer tipo de coligação ou acordo com os petistas”, segundo o dirigente já divulgou em seu perfil nas redes sociais. Em junho de 2023, o presidente do PL enfatizou: “Somos a legenda que mais cresce no Brasil e com a força dos nossos parlamentares e de Jair Bolsonaro iremos fazer mais de 1.500 prefeitos nas próximas eleições”. Bolsonaro já confirmou presença em algumas Capitais brasileiras, como João Pessoa, na Paraíba, onde o seu ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é pré-candidato pelo PL e figura na última colocação nos primeiros levantamentos informais que têm sido realizados informalmente. Um outro postulante que se diz identificado com o bolsonarismo, o comunicador Nilvan Ferreira, pretende usar o legado do ex-presidente na campanha, mesmo filiando-se a outro partido. Em 2020, ele conseguiu avançar para o segundo turno, mas em 2022, ao disputar o governo do Estado, já enfrentou baixas no percentual.
Sobre o perfil do filiado petista, a reportagem do “Congresso em Foco” revela que a maior parte faz parte da base da sigla há mais de dez anos. São 81,4% dos filiados, de acordo com os números do Tribunal Superior Eleitoral. Nos últimos cinco anos, o Partido dos Trabalhadores conseguiu filiar pouco mais de 200 mil pessoas. A maior parte dos filiados que moram no Brasil provém da região Sudeste, com 677,6 mil pessoas como integrantes do PT. A segunda região com mais petistas é um reduto importante da sigla, o Nordeste. Os nordestinos somam 401,8 mil filiados, segundo os dados liberados até novembro. Entre os filiados que vivem no Brasil, a maior parte da militância petista é masculina, concentrando 53,1% dos filiados. As mulheres são 46,7%, enquanto o restante não informou o gênero ao Tribunal Superior Eleitoral. No exterior, essa tendência se inverte. A maioria das famílias se identifica com o gênero feminino, num total de 56,4%. Já os homens chegam a 43,52%. O PT conta com 2.075 pessoas filiadas que não residem no território nacional.