Nonato Guedes
Desde o segundo semestre do ano passado, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, que se filiou recentemente ao União Brasil, livrando-se de incompatibilidades com o PSD que é presidido no Estado pela senadora Daniella Ribeiro, tem enfrentado um verdadeiro fogo cruzado contra o seu projeto de ser candidato à reeleição em outubro vindouro. As restrições partem de diferentes direções – tanto dos seus adversários declarados e potenciais competidores como, ultimamente, de supostos aliados políticos que patrocinam, nos bastidores, uma espécie de “fogo amigo” para desestabilizar a gestão de Bruno e descredenciá-lo à luta pela conquista de um segundo mandato. Na medida do possível, o prefeito tenta se esquivar dos golpes e fazer acenos, como os que passou a fazer junto ao ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), que se queixa de desprestígio, mantém-se distanciado de Bruno enquanto é cortejado por apoiadores do governador João Azevêdo (PSB) para encabeçar uma chapa de oposição a Cunha Lima.
Já se aventou, até mesmo, a possibilidade de substituição de Bruno no papel de candidato do esquema à prefeitura, embora ele tenha o direito legítimo de pleitear outro mandato, tal como Romero fez, cumprindo dois períodos à frente da edilidade da Rainha da Borborema. A administração de Bruno tem problemas, que ele se empenha em equacionar, mas é fora de dúvidas que também coleciona progressos ou avanços em favor da população, não havendo, até o momento, registro de rejeição mais grave ou comprometedora para eventual chance de uma candidatura à reeleição. Ele passou a contar, depois das eleições de 2022, com o reforço parlamentar do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), fiador de uma pacificação histórica com os Cunha Lima que repercutiu em toda a sociedade campinense e paraibana. Vice-presidente do Senado Federal, Veneziano tem carreado recursos, obras e investimentos para a Rainha da Borborema e, sempre que possível, diligencia junto a ministérios e outros órgãos federais, na companhia de Bruno, para destravar reivindicações que estão congeladas nos gabinetes brasilienses. A aproximação Bruno-Veneziano foi bem recebida pelo ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima e pelo ex-senador Cássio Cunha Lima, que embora revele não cogitar mais disputar cargos eletivos, é voz respeitada nas decisões relevantes sobre o futuro político no segundo colégio eleitoral do Estado.
Em meio às dificuldades políticas e aos incansáveis movimentos para desviá-lo do foco administrativo, o prefeito Bruno Cunha Lima teve que se deparar ultimamente com um impasse junto a vereadores da Câmara Municipal no tocante à votação da proposta orçamentária para 2024. Tornou-se um contencioso adicional muito sério porque o impasse prejudicou o planejamento equilibrado que a atual administração vinha concebendo para cumprir responsabilidades. O chefe do executivo municipal caiu em campo diretamente para dialogar com vereadores, muitos deles insatisfeitos por não terem tido atendidas pela prefeitura emendas impositivas que pretendiam apresentar para marcar posição, inclusive, pelo fato de que serão candidatos à reeleição e querem se cacifar junto a segmentos do eleitorado numa disputa que promete ser bastante acirrada. Houve momentos dramáticos decorrentes do tensionamento de relações entre o legislativo de Campina Grande e a prefeitura local, e Bruno se obrigou a fazer consultas junto a órgãos técnicos especializados para tomar medidas sem ferir dispositivos legais.
A respeito da suposta candidatura do deputado federal Romero Rodrigues, novamente, a prefeito, não há qualquer garantia de que ela venha a se concretizar. A bolsa de apostas se divide entre os que duvidam da combatividade de Romero para romper com um esquema em que tem feito carreira política ao longo de sua trajetória em Campina Grande e no Estado e os “pescadores de águas turvas” que acreditam que ele vai chutar o balde e partir para um divisor de águas na conjuntura da maior cidade do interior do Nordeste. O ex-prefeito tem sido açulado por apoiadores do governador João Azevêdo, inclusive, com ensaios de prestígio no governo estadual e na chapa majoritária de 2026 – e, entre os partidos da base, o mais renitente é o Republicanos, presidido por Hugo Motta, onde se destaca a mobilização do presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, para tirar proveito da intriga entre o ex e o atual prefeito. Os “bombeiros” ligados a Bruno reagem advertindo que Rodrigues não tem espaço garantido em chapa majoritária dentro do esquema liderado pelo governador João Azevêdo para as eleições de 2026 e, por isso, corre o risco de se isolar, ficar no prejuízo e comprometer, até mesmo, outras pretensões políticas que, lá na frente, venham a assegurar a sua sobrevivência. Atualmente o deputado é líder da bancada do Podemos e na legislatura do ano passado atuou na Comissão de Turismo na Câmara Federal, buscando abrir canais para facilitar pleitos, igualmente, em setores estratégicos como o da Saúde.
O fato é que a hipótese de um rompimento entre Romero Rodrigues e Bruno Cunha Lima é constantemente agitada na mídia paraibana, em meio a análises de entrelinhas de atitudes ou declarações tanto da parte de um como de outro. O ex-governador Cássio Cunha Lima, evidentemente, tem se preocupado com a situação pelos riscos para a sobrevivência do esquema político de que faz parte, mas tem evitado interferir de forma mais efetiva no contexto das divergências, expendendo o argumento de que ambos “estão crescidinhos o bastante para se entenderem”. A data-limite para um desfecho do “novelão” em que o assunto se converteu é, naturalmente, o fecho do primeiro semestre, com o calendário das convenções e das definições sobre nominata de candidatos a eleições proporcionais este ano. A oposição a Bruno está pulverizada entre alguns nomes e não pode invocar pacto de unidade, mas é claro que o desconforto maior é para o prefeito, que ainda por cima tem o desafio de mostrar serviço para poder se capitalizar a um retorno ao comando da edilidade da Borborema. Bruno tem a vantagem de estar no guarda-chuva do União Brasil, onde conta com todo o apoio do senador Efraim Filho para seguir na empreitada a um novo mandato.