Nonato Guedes
O cenário na direita para a campanha a prefeito de João Pessoa no pleito deste ano é, irreversivelmente, de racha ou divisão, não havendo qualquer possibilidade de uma conciliação ou entendimento entre o comunicador Nilvan Ferreira e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, este pré-candidato pelo PL. Em suas últimas declarações, Nilvan passa a impressão de que não brigará mais para ter o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, no seu palanque. Sabe que a pressão feita por Queiroga com o apoio das cúpulas nacional e estadual do partido (leia-se: Wellington Roberto e Valdemar Costa Neto) tem muita influência junto ao ex-mandatário, pela sua condição de ex-ministro, que foi colaborador decisivo do governo na guerra contra a pandemia de covid-19 e, também, pela credencial como filiado ilustre do PL, embora nunca testado nas urnas até agora. Mas isto não implicará num rompimento da parte de Ferreira com Bolsonaro.
O comunicador continuará agitando bandeiras do bolsonarismo com as quais se identifica, que se estendem a posturas de governo e, também, a posturas ideológicas focadas no conservadorismo e no combate sem trégua ao petismo e à esquerda de que fazem parte o PT e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nível local, o discurso de Nilvan Ferreira será centrado na estratégia de combate sem quartel aos governos de João Azevêdo (PSB) e Cícero Lucena(PP), este seu competidor num páreo que deverá agregar outros postulantes de extração variada. O foco de Nilvan consistirá em alternar as críticas a Lula, Azevêdo e Cícero com a formulação de propostas que sejam tecnicamente viáveis para superar impasses vivenciados pela população da Capital paraibana dentro do seu processo de crescimento natural. Nesse sentido, Ferreira terá que inovar na temática, incorporando ao discurso que proferiu em 2020 temas e proposituras mais modernas ou contemporâneas e policiando a própria linguagem para não incorrer no “politicamente errado”, sob pena de perder fatias preciosas do eleitorado de João Pessoa.
Diferentemente de quatro anos atrás, quando eclodiu como fenômeno e virou aposta do ex-senador José Maranhão no MDB, usando e abusando da condição de “outsider” da atividade política, Nilvan Ferreira terá que demonstrar, em 2024, mais preparo e conhecimento dos graves problemas que afligem a população pessoense, bem como criatividade na apresentação de projetos ou programas com que possa coroar uma gestão eventual à frente da prefeitura. Ele tinha a expectativa de que se repetiria na disputa deste ano contando com um Jair Bolsonaro mais forte e vitaminado pela reeleição – mas este não foi o resultado expresso pelas urnas em 2022. Pelo contrário, Bolsonaro comparece ao pleito de 2024 como um líder político decaído, alvejado que foi pela derrota na tentativa de se reeleger à Presidência da República e, ainda por cima, ameaçado de ter uma inelegibilidade tatuada no seu currículo. Nessas condições de temperatura e pressão, o bolsonarismo entra no pleito enfraquecido, embora possa vir a ser competitivo, especialmente contra o PT, em Capitais influentes do território nacional, nas quais a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com “entourage”, será inevitável.
Da parte do ex-ministro Marcelo Queiroga, que até prova em contrário continua pontuando lá embaixo nas pesquisas de intenção de voto, na corrida pela prefeitura de João Pessoa em 2024, houve um movimento recente para tentar aproximar-se de Nilvan e do “triunvirato” que ele comanda, através de convite que foi sugerido ao deputado federal Cabo Gilberto Silva para ser coordenador da sua campanha. A proposta, que a Queiroga pareceu tentadora, não sensibilizou o Cabo Gilberto, que se mantém aferrado na solidariedade ao projeto do comunicador, juntamente com o deputado estadual Walbber Virgolino e com outros políticos que orbitam no campo da direita e que fazem do conservadorismo profissão de fé para o exercício da atividade. O grupo dissidente do PL entendeu que um conchavo com o ex-ministro Marcelo Queiroga, a esta altura, seria demolidor para as ambições de Nilvan e desgastante para a tarefa de convencimento em que ele se jogou, perante parcelas do eleitorado de João Pessoa, para pedir um novo crédito de confiança no desejo de pontificar na galeria de prefeitos da história da Capital paraibana. O trio ainda avalia a definição de partido, mas deixa evidente que já virou a página em relação ao Partido Liberal.
Em relação a Nilvan Ferreira, parece haver consciência de que, além de polarizar com o prefeito Cícero Lucena, que disporá do apoio engajado de duas máquinas azeitadas, com possibilidade de ganhar reforços extras, ele precisará neutralizar um suposto crescimento do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que na disputa de 2020 já avançou para o terceiro lugar e que vem motivado para o debate, baseado, sobretudo, no confronto com a administração de Cícero Lucena. Os desencontros enfrentados por Nilvan Ferreira com a entrada em cena de Marcelo Queiroga, personagem ausente da campanha anterior, dão uma medida da conjuntura diferente que ele vai enfrentar em 2024 como candidato à prefeitura de João Pessoa. Mas não parecem intimidá-lo, como se conclui da sua renitência em manter-se candidato lidando com adversidades que não atrapalharam a sua jornada lá atrás. Ferreira continua confiante em que, junto com Cícero, é competitivo para a disputa e vai usar muito da sua lábia e intuição para tratorar adversários que possam vulnerá-lo no páreo, renovando uma mensagem que pretende ter interlocução direta com o eleitor. Essa obstinação de Nilvan é reconhecida pelos próprios adversários, que, no entanto, questionam o seu carisma ou talento para manter e ampliar a capilaridade que o tornou fenômeno na concorrida eleição municipal de quatro anos atrás.