Nonato Guedes
O deputado federal Hugo Motta, presidente estadual do Republicanos e líder do partido na Câmara, terá o apoio de dois adversários políticos – o governador João Azevêdo (PSB) e o senador Efraim Filho (União Brasil) como candidato a uma das vagas ao Senado no pleito de 2026. Com isto, ele tentará repetir a façanha do próprio Efraim, que na eleição de 2022, na disputa por uma única vaga ao Senado, assegurou o apoio de Hugo Motta e do Republicanos, apesar do compromisso destes com a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição. Nas últimas horas, em declarações a emissoras de rádio, Efraim admitiu o apoio a Motta em 2026 independente da posição que João Azevêdo manifestar em relação ao páreo senatorial, alegando que há compromissos em jogo, que é homem de palavra e que vai cumprir o compromisso assumido. Efraim se articula para ser candidato ao governo lá na frente, fazendo dobradinha para o Senado com Motta e com o atual senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB).
A situação confortável que se desenha antecipadamente para o deputado Hugo Motta em 2026 tem a ver com peculiaridades da nova conjuntura política que passou a vigorar na Paraíba, especialmente com a ascensão vertiginosa, no cenário local, do Republicanos, que emergiu das eleições de 2022 com bancadas expressivas na Assembleia Legislativa e na própria Câmara Federal. Esse histórico do partido se confunde com a própria trajetória de Hugo Motta, alçado ao comando da legenda e detentor de chefia inquestionável internamente. Com base política fincada nas Espinharas (região de Patos), Hugo Motta foi guindado do chamado baixo clero na Câmara dos Deputados, onde parecia obscuro e acanhado, para posições de destaque na política nacional, tendo sido prestigiado na Câmara ainda ao tempo da gestão do ex-deputado Eduardo Cunha, que teve passagem polêmica pela Casa e pela vida pública, sendo um dos protagonistas do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O cacife de Motta só fez crescer, sempre atuando nos bastidores políticos, de que foi exemplo a sua recondução à liderança do Republicanos na Câmara, passando pela posição de liderança no Estado da Paraíba, onde já foi cogitado mesmo para ser candidato ao governo.
O parlamentar se impõe no cenário pela sua habilidade política, pelo “estilo mineiro” de agir e pela forma colegiada com que toma decisões, sempre procurando articular-se com outros líderes do partido e, no plano externo, ampliando canais de interlocução com dirigentes e expoentes de partidos que reconhecem a força do Republicanos na realidade paraibana. Ainda agora, o PR promove um rodízio de deputados estaduais e federais para possibilitar a ascensão de suplentes à titularidade dos mandatos, como aconteceu recentemente com Raniery Paulino, da região de Guarabira, que ocupa a vaga do deputado Wilson Santiago, nomeado para a chefia do Escritório de Representação do Estado em Brasília. O partido também controla a Assembleia Legislativa sob a presidência do deputado Adriano Galdino, que se define como “sócio da governabilidade” na Paraíba e que tem sido peça decisiva para a aprovação de matérias do interesse do governo João Azevêdo na Casa de Epitácio Pessoa. Para 2024, o PR investirá na eleição de grande número de candidatos a prefeito, credenciando-se para a “pole position” nas eleições de 2026, que, como se sabe, já está sendo traçado a pleno vapor.
No âmbito nacional, o Republicanos mantém uma postura de independência em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo mais maleável na Câmara dos Deputados enquanto endurece posições no Senado, onde pontificam nomes ligados ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, como a ex-ministra Damares Alves e o ex-vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Um levantamento recente do “Congresso em Foco” apontou que o “Índice de Governismo” pró-Lula por parte do Republicanos no Senado é muito baixo – não obstante, o partido é listado como integrante da base situacionista, tal como ocorre, também, com o União Brasil, onde há parlamentares independentes como o próprio Efraim Filho, que votou contra o veto do presidente Lula ao seu projeto de desoneração da folha de pagamento de empresas e, posteriormente, criticou a Medida Provisória anunciada pelo Planalto e tratando sobre a reoneração da folha. A postura autônoma do Republicanos, no entanto, não o carimba como um partido radical, dado o jogo de cintura com que se movem os seus principais expoentes.
Um exemplo da habilidade do Republicanos na conjuntura política-eleitoral aconteceu nas eleições de 2022 na Paraíba quando o partido abriu mão do direito de indicar nomes para compor a chapa majoritária liderada pelo governador João Azevêdo, definindo como prioridade sua garantir a manutenção do controle do Legislativo Estadual. Vagas de vice-governador e senador foram oferecidas ao partido presidido pelo deputado Hugo Motta, mas elegantemente recusadas. Isto deu ao partido a liberdade para manter o compromisso com a reeleição de João Azevêdo e, ao mesmo tempo, apoiar a candidatura de Efraim Filho ao Senado, quando o parlamentar do União Brasil já estava rompido com João e abraçara a candidatura do ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo. A estratégia do Republicanos, na época, pareceu confusa a analistas políticos que, hoje, confrontados com a dinâmica dos movimentos do partido, entendem melhor os fundamentos que a nortearam. Na prática, o partido liderado por Hugo Motta prepara-se para ser o grande protagonista em 2026, cooptando legendas que ainda estão tateando em termos de fortalecimento para os embates futuros no Estado da Paraíba.