Nonato Guedes
Em dois casos distintos, verificados em localidades distantes do Estado, o governador João Azevêdo (PSB) ofereceu uma prévia do seu ‘estilo cirúrgico’ de agir ou de decidir quanto a candidaturas a prefeito, dentro do seu esquema político. Em João Pessoa, o chefe do Executivo conteve movimentos internos de socialistas para lançamento de candidatura própria à sucessão e tem reafirmado seu compromisso de apoio à candidatura do prefeito Cícero Lucena, do PP, à reeleição, cabendo ao PSB continuar indicando um nome para vice. Em Cajazeiras, o governador esvaziou uma articulação do prefeito José Aldemir, do PP, com o deputado Júnior Araújo (PSB) para impor o nome do pepista Alysson Lira, secretário de administração local, e decretou que o seu candidato a prefeito é o deputado Chico Mendes, líder do governo na Assembleia Legislativa.
O caso de Cajazeiras foi mais delicado no contencioso que cabia ao governador equacionar pelo fato de opor dois deputados do PSB, que é o partido dele, e o prefeito de um partido aliado. João Azevêdo chegou a ser procurado, na fase preliminar, por Júnior Araújo, que o informou da aliança com José Aldemir em torno do nome ungido por este, acrescentando que sua mulher figuraria como candidata a vice. Azevêdo foi enfático ao revelar que Chico Mendes se dispôs a ser candidato e que, sendo assim, teria seu apoio integral, juntamente com outras lideranças políticas influentes na terra da Cultura. José Aldemir e Júnior Araújo “pagaram para ver” e a consequência, nas últimas horas, foi uma debandada no círculo político do prefeito de Cajazeiras, isolando as chances de crescimento da candidatura pré-lançada com o aval do gestor municipal. Em relação a João Pessoa, a situação parece pacificada – pelo menos reduziu-se a pó a orquestração em torno da cabeça de chapa dentro do PSB, estando Cícero potencialmente seguro quanto ao aval oficial para sua postulação.
Em algumas áreas afirma-se que ainda há setores políticos da base do governador João Azevêdo querendo testá-lo na sua autoridade ou na sua liderança, embora ele já tenha tido tempo suficiente para mostrar como age na relação com fiéis e com adversários – estes últimos, antigos ou recentes. Afinal, João Azevêdo já cumpriu um mandato no Executivo paraibano, está no segundo ano da segunda gestão e já foi submetido à prova, pessoalmente, ainda que de forma indireta, em embates com adversários de fôlego como os ex-governadores Ricardo Coutinho (PT) e Cássio Cunha Lima (PSDB). O técnico que estreou triunfante na política em 2018, vencendo a disputa ao governo em primeiro turno com o apoio do então aliado Ricardo Coutinho, contabiliza conquistas como a vitória na queda-de-braço para controlar o PSB e no empenho para atrair o apoio do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que fosse no segundo turno do pleito de 2022. Teve a habilidade de manter seu espaço na esquerda mesmo atraindo para sua órbita forças de centro-direita que operam em outros partidos como o PP e o PSD. É respeitado nacionalmente, pela cúpula do PSB e por líderes de expressão de várias legendas e assegurou, no governo Lula, o trânsito que lhe foi negado na única gestão de Jair Bolsonaro (PL).
João Azevêdo tem surpreendido em termos administrativos pelo saldo de realizações e investimentos que já apresenta à população paraibana, destaca-se na presidência do Consórcio Nordeste e tem conseguido manter uma situação de equilíbrio fiscal-financeiro que confere ao Estado o rating A na avaliação da Secretaria do Tesouro Nacional. Ainda há, naturalmente, uma expectativa quanto ao deslanche propriamente dito de investimentos de monta que foram pactuados para o segundo governo de João Azevêdo, da mesma forma como se aguarda o reflexo de ações administrativas de interesse da Paraíba incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, do governo federal. Mas essas expectativas não deixaram o governo estadual de mãos atadas – e assim é que a Era João Azevêdo se mantém na crista com programas alimentados por recursos próprios ou por contrapartida de recursos próprios, quando compartilhados com investimentos do governo federal que começam a tomar forma e a sair do papel. Na média, é um dos governadores bem avaliados entre os titulares do Executivo na região Nordeste, que tem despertado uma atenção especial por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros que compõem a estrutura de poder.
O governador João Azevêdo está atento às eleições municipais deste ano porque tem consciência de que o seu desfecho será importante ou mesmo crucial para a atual administração com vistas a projetos pessoais futuros, que estão focados no ano de 2026, quando ele mesmo poderá concorrer a uma cadeira no Senado, tal como tem sido proposto e insinuado por políticos que estão alinhados na sua base de sustentação. Nesse sentido, sem descurar da gestão – que ele sabe ter forte efeito psicológico sobre o eleitorado – o governador acompanha os arranjos de formação de chapas e definição de candidaturas em localidades estratégicas do Estado, ampliando a perspectiva para o Estado como um todo. Em Campina Grande, segundo colégio eleitoral, deixou o secretário de Saúde, Johony Bezerra (PSB) à vontade para articular chapa que ele pode vir a encabeçar ou, então, apoiar de forma decisiva, viabilizando aliança com o ex-prefeito Romero Rodrigues, do Podemos. João Azevêdo trata cada caso de acordo com sua particularidade, ciente de que a realidade local tem muita força, ou seja, é determinante no processo eleitoral que começa a ser ensaiado entre as forças políticas que compõem o arco partidário no Estado da Paraíba.