Nonato Guedes
Bombardeado por críticas internas de correligionários do próprio Partido dos Trabalhadores, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganhou o apoio do ex-ministro José Dirceu, condenado na operação Lava Jato e que continua a ser uma figura proeminente na legenda, embora sem ocupar protagonismo como se deu em gestões anteriores. Dirceu cobrou apoio público do PT à política econômica liderada por Haddad, argumentando: “O PT também precisa de uma atualização política, teórica, de organização, para enfrentar os desafios. No caso de Haddad, é quase uma covardia não dar apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, enfatizou Dirceu numa entrevista. Ele foi deputado federal, presidente nacional do PT e um dos principais aliados do presidente Lula em seu primeiro mandato, chefiando a Casa Civil entre 2003 e 2005. Deixou o governo por causa de denúncias relacionadas ao mensalão, que resultaram na sua condenação e prisão anos depois.
No ano passado, lideranças do PT, incluindo a presidente nacional da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PR) questionaram publicamente propostas de Haddad para a área fiscal, considerada por eles uma “política dura de austeridade”. Chegaram a qualificar a política implementada por Haddad de “austericídio”, o que magoou profundamente o ministro, que passou recibo de descontentamento com essa ala do partido numa entrevista ao jornal O Globo. Gleisi Hoffmann não se fez de rogada – rebateu as queixas de Haddad e afirmou ser um “direito do partido” fazer esses debates. Tem sido endossada no bombardeio pelo namorado, deputado federal Lindbergh Farias, do PT-RJ, que é natural da Paraíba, o qual também tem cobrado resultados mais concretos por parte da área econômica pilotada por Haddad, que, por sua vez, se vê às voltas com desafio de superávit e enrolou-se em polêmicas como a da reoneração da folha de pagamento de empresas de 17 setores, que não tem consenso no Congresso Nacional.
O colunista Josias de Souza, do UOL, considerou que José Dirceu está correto ao rebater as críticas de Gleisi Hoffmann a Fernando Haddad, mas sugeriu que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria defender mais o ministro da Fazenda, até para não alimentar sobressaltos nem ataques especulativos por parte do mercado diante das divergências que constituem fraturas expostas na terceira gestão do líder petista. “José Dirceu tem razão, mas Fernando Haddad mereceria um defensor melhor do que ele”, alvejou Josias de Souza. Na opinião do colunista, o ex-ministro da Casa Civil ainda tem muito prestígio dentro do Partido dos Trabalhadores, mas, atualmente, não está dando as cartas no partido e no governo. “Do ponto de vista do poder, é uma pessoa secundária, diferentemente de Gleisi Hoffmann, que recebe mão forte do presidente da República para conduzir os interesses do PT”, acrescenta Josias de Souza, ponderando que as críticas de uma ala do PT a Haddad não fazem o menor sentido.
Ele rechaçou a tese da presidente Gleisi Hoffmann, que alertou para o risco do governo de Lula ser “engolido pelo Congresso Nacional” e até sofrer um impeachment. Diz Josias de Souza: “Gleisi se fixou como principal contraponto à política econômica de Haddad e essa estratégia do PT não faz nexo. Ela insinua que, assim como Dilma, Lula poderia sofrer impeachment. Isso é conversa para boi dormir”. Em primeiro lugar, o colunista compara que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB) não é um Michel Temer (que foi acusado pelos petistas de conspirar para a derrubada de Dilma Rousseff para ascender ao poder, juntamente com o MDB). Alckmin, conforme Josias, é conhecido pela lealdade e não é crível que pudesse conspirar contra o presidente Lula. “Em segundo lugar, Lula não é a Dilma. Ele não sofreria um impeachment impassível, sem agir. É uma tolice essa premissa da Gleisi”. Na questão do impeachment de Dilma, Lula não fez segredo, em conversas reservadas, das restrições ao estilo pouco diplomático da ex-presidente de se relacionar com a classe política justamente para evitar a concretização do seu afastamento do cargo.
Josias de Souza arremata que não é sábia a estratégia do Partido dos Trabalhadores centrando fogo no ministro Fernando Haddad. “Quando alveja os calcanhares do Haddad, ele sujeita o ministro aos ataques do Centrão, aumentando a cobiça e o preço. Lula deveria sair mais em defesa do seu ministro”, acentua. No que diz respeito à reoneração da folha, que o Planalto tenta emplacar junto ao Congresso Nacional, as versões são de que o ministro Fernando Haddad tem desafios jurídicos pela frente, bem como desafios na relação com o Parlamento, diante das votações maciças favoráveis à desoneração, registradas tanto no plenário da Câmara como no plenário do Senado. Haddad estima em R$ 32 bilhões de impacto com a desoneração. Cobra-se do ministro da Fazenda, no entanto, que tenha mais habilidade política para fazer a interlocução com o Parlamento, que já demonstrou, desde o início do terceiro governo Lula, ser muito cioso da sua autonomia nas deliberações sobre temas polêmicos da conjuntura institucional e econômica brasileira.