Nonato Guedes
A cúpula do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa não avançou, concretamente, o calendário de etapas para definição da candidatura própria a prefeito da Capital, mas pelo menos um postulante, o deputado estadual Luciano Cartaxo, segue agitando a sua bandeira como provável ungido, promovendo articulações e contatos políticos e valendo-se de redes sociais e da imprensa para fustigar a administração do prefeito Cícero Lucena (PP), com quem não quer acordo. Cartaxo disputa a indicação de candidatura com a deputada estadual Cida Ramos, cuja mensagem é dirigida ao petismo-raiz, com quem procura alicerçar pontos de identidade, além de estreitar canais de interlocução com segmentos de esquerda com os quais já dialoga no curso da sua trajetória, a partir da militância intensa desenvolvida em centros universitários. Na opinião dos analistas, Cartaxo é mais agressivo na estratégia para tentar conquistar votos e ampliar sua popularidade.
Depois de ter criticado o prefeito Cícero Lucena lá atrás, quando da polêmica sobre o projeto de engorda da orla marítima pessoense, que foi condenado por setores ambientalistas, Cartaxo tentou “faturar” ultimamente em cima da controvérsia sobre construção de prédios de luxo na orla, acima do gabarito estabelecido pela própria Constituição do Estado e Plano Diretor da Capital. Em relação a esse caso, o prefeito acompanhou posicionamento do governador João Azevêdo (PSB), que o apoia, e disse ser contra edificações que desrespeitem aspectos legais. Adversários de Lucena consideram que nos dois casos ele demorou a ser enérgico ou profilático, abrindo brecha para a exploração por parte dos opositores (além de Luciano Cartaxo manifestaram-se a deputada Cida Ramos, o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que busca se viabilizar como candidato a prefeito pelo PL com o apoio de Jair Bolsonaro). As investidas de Luciano não são sincronizadas com a cúpula petista, indicando que são da sua própria iniciativa como tática para se firmar na ocupação de espaços político-eleitorais.
O diretório municipal do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa, que passou por uma reestruturação com a eleição do advogado Marcos Túlio para a sua presidência, havia acenado com um calendário de discussões prévias sobre propostas para uma candidatura a prefeito da Capital, mas o ritmo em que isto se verifica não é o que círculos políticos esperavam. Como não há espaço vazio, partidos do campo da esquerda, como o Psol, preparam-se para lançar uma candidatura à sucessão pessoense, optando entre três nomes que estão colocados em pauta. O PT também anunciou preferência por uma candidatura própria, invocando a necessidade de fortalecimento da legenda ou de retomada do protagonismo político nos grandes centros na Paraíba, até como passaporte para uma participação mais atuante nas eleições em nível estadual em 2026. O governador João Azevêdo ainda tem feito acenos para uma composição com petistas, mas parece não estar sendo bem-sucedido. Pelo menos em primeiro turno essa aliança está descartada.
A desenvoltura de Cartaxo é justificada com o fato de que, até 2020, ele ocupou a prefeitura de João Pessoa, tendo sido eleito por duas vezes consecutivas. Nesse meio termo, deixou as fileiras do Partido dos Trabalhadores quando estourou o escândalo do mensalão, que tinha implicações de caráter nacional, receando efeitos colaterais para a imagem da legenda nos Estados e Capitais. Havia, também, a necessidade de Cartaxo de dispor de um partido seu, que estivesse sob o seu controle e o controle do seu grupo político-familiar. Foi assim que ele transitou pelo PSD e, posteriormente, pelo PV. Quando cogitou a hipótese de retornar aos quadros do PT, chegou a sofrer restrições de alguns petistas ortodoxos que o acusaram de vacilação ou falta de firmeza na fidelidade e na confiança no partido. Acabou sendo reabsorvido e por ele se elegeu deputado estadual em 2022. Mas na disputa à sua própria sucessão não logrou eleger a candidata que havia lançado do bolso do colete, uma concunhada sua, Edilma Freire, que foi secretária de Educação de João Pessoa. Não obstante ter sido derrotado em 2020, Cartaxo manteve média favorável em termos de aprovação junto a parcelas do eleitorado pessoense.
A dados de hoje, desconfianças que existiam já estão praticamente superadas e ele tem sido readmitido sem problemas no ambiente das discussões do PT paraibano, dialogando, também, com lideranças nacionais do partido, a exemplo da presidente nacional, deputada Gleisi Hoffmann (PR). O discurso de Luciano Cartaxo é centrado na defesa do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entremeado por duras críticas ao bolsonarismo, seguindo o radar que norteia o tom de campanhas plebiscitárias em diferentes regiões do país. Mas ele sabe que se conseguir ser indicado pelo PT será pessoalmente julgado pelo eleitorado pessoense com relação aos dois mandatos que exerceu na prefeitura da Capital paraibana. Cartaxo garante que está pronto para qualquer tipo de discussão sobre João Pessoa e programa de governo. A questão é saber se o PT vai lhe dar a oportunidade para ter de novo palanque na disputa no maior colégio eleitoral paraibano.