O pastor americano Douglas Wilson, 70, teve sua participação cancelada no Congresso da Consciência Cristã em Campina Grande, na Paraíba, segundo anúncio feito após versões contra o religioso, acusado de defender a escravidão em seus livros. A organização do evento informou que a decisão foi tomada para preservar a integridade física do pastor, que estaria presente no evento nos dias 11, 12 e 13 de fevereiro, liderando conferências com temas como “marido cristão: princípios para o relacionamento conjugal” e “como criar meninos para serem homens”.
Um pastor de Moscow em Idaho, Douglas Wilson é pastor na Christ Church, sediada na cidade onde ele nasceu. O UOL informa que ele também é fundador da Associação de Escolas Cristãs e Clássicas, que reúne instituições de ensino com princípios bíblicos em seu método de ensino; eles têm afiliados para além dos Estados Unidos, em países como Indonésia e Nigéria.
Wilson ainda dirige um seminário com três anos de duração em que os alunos se preparam para abrir novas igrejas, seguindo o mesmo modelo que seu mentor. O pastor se disse “rejeitado por todas as grandes denominações presbiterianas conservadoras” depois de fundar a Confederação das Igrejas Evangélicas Reformadas. Ele também é conhecido pela sua editora, a Canon Press, que só publica livros da vertente teológica de Wilson. Segundo a Universidade de Idaho, a empresa fatura ao menos US$ 1 milhão ao ano (RS 4,9 milhões). A discussão é tema do livro “Black and Tan”, publicado pelo pastor em 2005. Trechos estão disponíveis no site The Gospel Coalition.
Nele, Wilson afirma que a Bíblia rejeita a ideia do sequestro de pessoas, mas que ter escravizados, em si, não era ruim. Segundo o pastor, essas regras de libertação e repatriação dos escravizados à sua própria terra eram ignoradas pelos donos de escravos do Sul dos Estados Unidos, que também iam contra as passagens da Bíblia que condenam o sequestro dessas pessoas para trabalhos forçados. Wilson afirma também que a grande maioria desses escravos já tinha sido escravizada na África e que a restauração desses escravos à sua condição inicial era fisicamente impossível. “Muitos dos escravos do Sul eram descendentes de homens e mulheres que já haviam sido trazidos por gerações anteriores”, diz o religioso.
Apesar de afirmar que “com certeza não deseja a volta da escravidão” o pastor afirma que ela foi extinta nos Estados Unidos de maneira inapropriada, por meio de protestos com uso da violência, o que iria contra os princípios cristãos. O pastor afirma ainda que a base racial da escravidão norte-americana é uma complicação adicional da prática e que os cristãos devem denunciar, por princípio, todo tipo de racismo. Ele sustenta que o ódio racial é uma forma de rebelião contra Deus, mas ao mesmo tempo o abolicionismo radical, que lutou pela abolição da escravidão por meio da violência, também. “Essas práticas devem ser combatidas fortemente porque a palavra de Deus é oposta a elas”. Os organizadores da Consciência Cristã confirmaram ter cancelado a presença do pastor após “polêmicas levantadas por interpretações de suas falas sobre o tema sensível da escravidão no contexto americano” e que a medida foi tomada para preservar a integridade física do religioso.