Nonato Guedes
De tão constantes que se tornaram, os adiamentos de visitas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Paraíba provocam, naturalmente, exploração e especulação no próprio meio político. A última agenda envolvendo sua presença no Estado fora anunciada para a próxima sexta-feira, 26, na cidade de Patos, no Alto Sertão, onde haveria entrega de pelo menos 865 apartamentos do Residencial São Judas Tadeu I e II, projetados, na verdade, no governo Michel Temer, iniciados e interrompidos no governo de Jair Bolsonaro. Patos é o principal reduto do deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, um partido que não é totalmente fiel ao governo Lula no Congresso, embora políticos paraibanos da legenda, que são ligados ao governador João Azevêdo, defendam o petista. Ontem, sem maiores explicações, o Planalto informou que haverá um reagendamento da visita presidencial.
Lula foi expressivamente votado na Paraíba tanto no primeiro como no segundo turno da disputa presidencial, repetindo performance obtida em outras eleições que havia disputado. Em 2022 o então candidato do PT teve que se desdobrar no apoio a duas candidaturas de aliados seus ao governo paraibano – a do governador João Azevêdo (PSB), que buscava a reeleição, e foi vitorioso, e a do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que atraiu o PT para sua chapa majoritária mas não avançou para a rodada decisiva, empalmada pelo ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB. Com Veneziano, Lula ainda participou de uma manifestação pública na cidade de Campina Grande. Com João Azevêdo não houve programação presencial – apenas um depoimento gravado, que foi ao ar no Guia Eleitoral no segundo turno. Lula enfatizou, como ponto comum, a busca de parcerias para a tarefa de reconstrução do país, que identificava como sua maior prioridade ao perseguir a ascensão ao Palácio do Planalto pela terceira vez. Não houve atritos de palanques nem dispersão de votos, e Lula saiu consagrado das urnas da Paraíba.
Já presidente, fez uma única visita ao Estado – à região de Santa Luzia, no Vale do Sabugy, para a inauguração de um empreendimento eólico da iniciativa privada que contava com aporte de recursos do governo federal através do BNDES. Lula chegou mudo e saiu calado, não interagindo com os que foram saudá-lo e muito menos valendo-se do microfone para mensagens de agradecimento aos paraibanos ou para reafirmação de compromissos com o povo deste Estado. Os líderes políticos locais que são da base lulista evitaram somatizar frustrações ou queixas pela pouca atenção dispensada pelo mandatário. O próprio governador João Azevêdo, numa das vezes em que foi questionado sobre a “frieza” do comportamento do presidente, despistou alegando que o seu governo vinha prestigiando a Paraíba, mencionando como exemplo as vindas de ministros. Azevêdo, além de presidente do Consórcio Nordeste, é membro do Conselho da República, cujo expoente maior é Lula, e tem se encontrado com o chefe do Governo fora do território paraibano.
O que chama a atenção de segmentos da opinião pública é o fato de que as visitas de Lula a Estados vizinhos, como Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, são frequentes e se traduzem no carreamento de obras de impacto ou de investimentos volumosos para os respectivos habitantes. Ainda agora, ao retomar o giro interno, depois de ter cumprido no ano passado vasta agenda internacional a pretexto de “reapresentar o Brasil ao mundo”, depois do negacionismo de Bolsonaro na pandemia e de outras atitudes condenáveis do desgoverno anterior, Lula foi ao Ceará, a Pernambuco e à Bahia, deixando marcas de empreendimentos de vulto, como uma Universidade, a retomada das obras de uma refinaria e outros investimentos. A Paraíba, num esforço inaudito do governador João Azevêdo e de alguns expoentes da bancada federal, conseguiu emplacar reivindicações consideradas importantes no novo cronograma de obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Mas isto não impede a comparação de que outros Estados são compensados de forma mais efetiva por parte do governo federal no encaminhamento de suas reivindicações, cujo montante chega a ser vultuoso ou marcantemente expressivo.
Aliados do governador João Azevêdo, em sintonia com o teor das suas declarações de análise sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contestam as versões de que esteja sendo cometida discriminação contra o Estado e sustentam que, pelo contrário, a Paraíba está conseguindo recuperar espaços de influência junto ao poder central para a liberação dos seus projetos estruturantes e de suas demandas mais urgentes. Ressaltam que sob Lula foi retomado o estilo republicano de governo e justificam que não há portas fechadas nem dificuldades de acesso para o governador e outros representantes da Paraíba nos escalões decisórios em Brasília. Argumentam, por fim, que o prestígio do Planalto a um Estado não se mede, propriamente, pela quantidade de visitas dos presidentes, mas pela ação concreta, de resultados, disponibilizada pelo governo federal. “O governo Lula tem entregue obras e serviços, tem carreado investimentos, portanto, está entregando resultados à Paraíba e correspondendo à expectativa dos eleitores que lhe manifestaram apoio”, revela uma fonte qualificada, bastante ligada ao governador João Azevêdo, exorcizando especulações negativas sobre o cancelamento das agendas presidenciais.