Nonato Guedes
Apoiado decisivamente pelo governador João Azevêdo, do PSB, que com ele mantém uma relação estreita de parceria e entrosamento, o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) terá um arco de partidos na base de apoio à sua candidatura à reeleição, o que lhe põe, teoricamente, em posição de vantagem para a disputa, reforçado pela ofensiva administrativa que passou a empreender na Capital e que é reconhecida, mesmo a contra-gosto, por adversários. Mas, dificilmente ele contará com o PT (Partido dos Trabalhadores) na base que se dedica a ampliar. Nesse sentido, o prognóstico agitado pelo secretário Tibério Limeira, dirigente socialista, de que Azevêdo atuará junto ao presidente Lula para conseguir o apoio do PT a Cícero soa remoto nos círculos políticos.
Todo e qualquer movimento por parte do PT na direção do apoio ao projeto de Cícero esbarra na opção pela candidatura própria a prefeito que vai se cristalizando nas hostes internas, a ser decidida entre dois nomes – os dos deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos, com grandes chances de sacramentação do primeiro, que se empenha para demonstrar ser mais articulado na mobilização para viabilizar sua pretensão. Luciano, de acordo com as versões, tem trabalhado intensamente nos bastidores, junto a expoentes nacionais e à própria cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores para garantir apoio e engajamento na hipótese de vir a derrotar Cida nas prévias ou disputas internas. Ele se tomou de entusiasmo depois que o novo diretório municipal petista, presidido pelo advogado Marcos Túlio, definiu-se pela candidatura própria, acolhendo ponderações de militantes para a retomada do protagonismo do PT nas eleições da Capital, depois de uma fase pouco auspiciosa para a agremiação. Desde então, Cartaxo costura adesões e amplia contatos, além de operar psicologicamente para convencer companheiros de que tem chances de vitória, pelo “recall” das duas gestões que empalmou até pouco tempo e que, na média, foram aprovadas por parcelas do eleitorado.
A estratégia definitiva de Luciano Cartaxo para se credenciar nos quadros do PT consiste em cooptar remanescentes da legenda que, aparentemente, estão comprometidos ou intencionados em votar na candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, nela identificando espaços para o combate ao bolsonarismo e à direita radical que já tem expoentes lançados no páreo em João Pessoa. Para Cartaxo, a consolidação de uma frente ampla dentro do Partido dos Trabalhadores, engajada ao seu nome como pré-candidato a prefeito, será a cristalização da unidade buscada para fortalecer seu projeto e, a partir daí, empolgar setores da opinião pública que já começam a ser bombardeados por pré-candidatos, em campos distintos – da esquerda ao centro e à direita. Cartaxo tenta, igualmente, vencer restrições de petistas que avaliam que Cida é mais autêntica e mais identificada com o partido, por não ter migrado do PT nem ter feito, como Luciano fez, críticas a petistas que se envolveram em escândalos como o do mensalão. Este episódio, inclusive, foi responsável pela defecção de Luciano do petismo, levando-o a trafegar por siglas como o PSD e, ultimamente, o Partido Verde, o PV, até ser readmitido ao aprisco.
Acredita Luciano que essas questões pontuais podem ser dirimidas em virtude do seu posicionamento firme contra a administração de Cícero Lucena, que não conta com expoentes petistas em cargos estratégicos nem se assume como afim em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, focando na parceria com o governador João Azevêdo. Cartaxo defende que pode se assumir na campanha como petista-raiz, defendendo ostensivamente o terceiro governo do presidente Lula e, ao mesmo tempo, batendo forte em pontos controversos do governo de Jair Bolsonaro, de quem cobrará os investimentos e as ações que não se implementaram em João Pessoa durante o único mandato chefiado pelo ex-capitão. Para além disso, Luciano Cartaxo apresentará subsídios em torno de propostas novas e diferentes para os desafios e a solução de problemas ou gargalos que atrapalham o desenvolvimento de João Pessoa e que, a seu ver, não foram encarados à altura por mais uma gestão do atual prefeito Cícero Lucena.
Luciano Cartaxo, na verdade, tenta sensibilizar o PT com a promessa de que defenderá as cores da agremiação e as ações do governo do presidente Lula, fazendo o confronto necessário com adversários políticos vinculados a bolsões do bolsonarismo que se mantêm ativos e que, na Capital, se fazem representar pelas figuras do comunicador Nilvan Ferreira e do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, este praticamente oficializado pré-candidato pelo PT. Em termos pessoais, Cartaxo se esforça para ir buscar uma revanche contra Cícero Lucena, que o sucedeu no poder após os dois mandatos consecutivos empalmados. Ele considera que, mais do que qualquer outro nome dos que estão se insinuando, a competição se dará entre as gestões de Cartaxo e de Cícero Lucena. Nesse caso, avalia que estará plenamente respondida a questão da competitividade nas urnas, pois disporá de terreno para avançar e polarizar a disputa com Lucena, estabelecendo comparações que certamente motivarão o próprio eleitor a se envolver no processo. Da parte de Cícero, não há rejeição ao PT, mas o prefeito tem consciência das limitações para obter apoio da legenda, em um cenário conflagrado como o que se modela para este ano de 2024 em João Pessoa, hipótese diante da qual o próprio presidente Lula pouco poderá fazer também para conciliar interesses.