Nonato Guedes
A cúpula estadual do Partido Liberal (PL) na Paraíba optou por contrariar os manuais de estratégia política ao passar a investir na “liquidação” dos espaços de crescimento político do comunicador Nilvan Ferreira, que foi candidato a governador pela legenda em 2022, tendo performance marcante na Grande João Pessoa. Depois de “rifar” Nilvan como pré-candidato a prefeito de João Pessoa este ano, substituindo-o pelo ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, a cúpula presidida pelo deputado federal Wellington Roberto tenta sabotar as chances de uma virtual candidatura de Ferreira a prefeito de Santa Rita, onde ele foi bem pontuado em pesquisas informais, cujos resultados foram dados a conhecer por vereadores e agentes políticos daquela cidade. Com isso, o PL inverte a lógica que manda apostar em candidatos favoritos ou bem colocados em intenções de voto de parcelas do eleitorado.
O ex-ministro Marcelo Queiroga deu a entender ter destoado dessa estratégia “kamikaze” da cúpula do PL, ao admitir que Nilvan tenha apoios para ser candidato em Santa Rita. Chega a ser compreensível essa postura de Queiroga – interessado, na verdade, em afastar dos domínios da Capital um concorrente que na primeira vez em que se lançou candidato à prefeitura, em 2020, pelo MDB, avançou logo para o segundo turno, desbancando figuras carimbadas do cenário político de João Pessoa, a exemplo do ex-governador Ricardo Coutinho (PT) que se aventurou a entrar no páreo. Nilvan construiu condições objetivas para surpreender eleitoralmente na Capital graças à sua popularidade como apresentador de programas policiais em emissoras de rádio e TV, nas quais misturou informações com assistencialismo, encaminhando ou resolvendo pequenas demandas de ouvintes e telespectadores. O falecido senador José Maranhão, que não tinha nomes fortes no MDB para levar à disputa de prefeito, enxergou em Nilvan um fenômeno, que se reforçou com o figurino de “outsider” que este vestiu para tentar diferenciar-se de adversários. Ferreira rejeitou o rótulo de “igual” e bateu forte nos políticos tradicionais, ganhando passaporte para o confronto decisivo com Cícero Lucena, em que foi abatido.
Restou, para ele, um capital eleitoral respeitável no maior colégio do Estado, o que o credenciou, na disputa seguinte, ao governo do Estado, a tentar voos maiores, em outra legenda. Evidente que o cenário não lhe favorecia, polarizado que estava entre o governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição, e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que capitalizou apoios decisivos no campo da oposição ao Executivo da Paraíba. Nilvan reservou-se para os embates futuros, cravando 2024 no calendário pessoal como uma espécie de tira-teima ou de prova dos noves para sua trajetória política, voltando ao ponto de partida, ou seja, ao páreo pela prefeitura de João Pessoa. É nesse objetivo que ele continua focado e que tentará perseguir este ano, por mais lisonjeado que tenha ficado com a abordagem para sair candidato em Santa Rita. Mas ele sabe que seu teatro de operações é em João Pessoa, cujos lugares conhece e de cuja radiografia tem ciência, sendo-lhe mais fácil a comunicação com os eleitores, no sentido de agitar temas que constituem desafios para a gestão municipal e de propor esboços de solução para esses desafios da administração pública.
Ser candidato este ano em outra localidade, na verdade, seria um “Plano B”, de caráter emergencial ou excepcionalíssimo para o projeto de sobrevivência pessoal de Nilvan Ferreira na atividade política, que abraçou em definitivo. Mas João Pessoa continua sendo, para ele, a “cereja” do bolo, pela sua importância estratégica no contexto da conjuntura estadual e por ser, mesmo, plataforma de lançamento para ambições maiores cultivadas por agentes políticos. Sem falar que o radialista está motivado para uma revanche contra o atual prefeito Cícero Lucena e, também, obstinado em bater de frente com o ex-ministro Marcelo Queiroga, que acabou sendo uma espécie de “algoz” para ele dentro do PT, ao assumir o lugar de candidato “in pectoris” do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro na Capital paraibana. Nilvan anima-se, ainda, com o desejo de voltar a enfrentar o PT, com quem, na verdade, polariza em termos ideológicos, dada a sua condição assumida de direitista radical que tem ojeriza às pautas da esquerda e que é um crítico impenitente do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como de governos a ele vinculados, como o de João Azevêdo, que pessoalmente enfrentou nos embates da campanha de 2022.
O PL é página virada para Nilvan Ferreira – e não apenas para ele, mas para outros dois expoentes da direita que se dizem seus ferrenhos aliados: o deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino. É junto com eles que o comunicador corre contra o relógio para definir um partido em que possa ingressar e ser admitido como pré-candidato a prefeito de João Pessoa sem contestação ou ameaça de tapete puxado. A situação de Nilvan ficou insustentável dentro do PL porque, após a opção da cúpula pelo ex-ministro Marcelo Queiroga, minguaram para ele todos os meios de que precisava, inclusive, financeiro, para montar uma estrutura preliminar de campanha. Queiroga segue patinando em 2% nas pesquisas informais sobre intenção de voto na corrida eleitoral em João Pessoa, mas tem o aval do próprio Bolsonaro para ir em frente. Nilvan tem mais votos do que ele e procura desesperadamente uma legenda onde possa se acomodar. Sua única decisão firmada é a de ser candidato a prefeito, novamente, em João Pessoa. Santa Rita e qualquer outra cidade onde porventura seja lembrado dentro do efeito “recall” não estão no seu radar político.