Nonato Guedes
Pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL, laureado com a fama de ter sido ministro da Saúde do Brasil em plena pandemia de covid-19, vai ficando claro que o grande inimigo do cardiologista Marcelo Queiroga na campanha será seu próprio estilo agressivo de abordagem de temas polêmicos – que não atrai eleitores, mas pode afastá-los irremediavelmente. Esse estilo é marcado pela impaciência para com o debate de questões graves sobre as quais tem que ter respostas em respeito à opinião pública, o que o empurra para confrontos desgastantes com jornalistas e eleitores-ouvintes, tal como se deu numa entrevista sua à equipe da rádio Arapuan. O comportamento de Queiroga não acrescenta nada ao verdadeiro debate que se espera dos problemas agitados na pauta do cidadão comum.
Por outro lado, o ex-ministro passa a impressão de falta de equilíbrio para um diálogo aberto, o que ofusca um eventual ou suposto brilhantismo intelectual seu para o embate civilizado de ideias, quiçá de propostas que dizem respeito ao futuro da Capital da Paraíba em sua marcha batida para alcançar um milhão de habitantes. Queiroga perde-se em ninharias, assume posturas contraditórias, briga com fatos e acaba se indispondo com jornalistas. Pode ser herança de caráter ou de temperamento, mas também é possível que ele tenha aprimorado esse estilo antipolítico no convívio direto com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que no exercício do cargo atritou-se com profissionais de imprensa, atacou mulheres, grupos sociais, governadores, prefeitos e parlamentares, ficando longe do grande público e segregando-se no gueto da parcela fanática de apoiadores que o apoia incondicionalmente, inclusive, nas baboseiras que profere, demonstrando falta de cultura sobre a realidade brasileira, de permeio com o desinteresse no aprofundamento de temas que envolvem, de fato, a situação nacional.
Na entrevista à equipe da Arapuan, Marcelo Queiroga fez análises nada científicas sobre os efeitos das vacinas disponíveis contra o coronavírus, jogando ao vento, irresponsavelmente, opiniões aleatórias e assustadoras, como a de que imunização pode matar também. Queria se referir, na verdade, a efeitos colaterais adversos que qualquer vacina pode acarretar, principalmente para crianças vulneráveis e adultos com comorbidades – o que é uma ponderação agitada por outros especialistas da medicina e da Ciência. No caso de Queiroga, ele derrapou pela forma com que se expressou no contexto do que estava falando, tornando-se infeliz em colocações que uma autoridade do seu nível não poderia estar expendendo, o que, naturalmente, despertou a curiosidade e amplificou o questionamento por parte de jornalistas que não são tão leigos em temas tão profundos, diante da variedade de informações que se tem hoje ao alcance da mão. Não lhe cabia espalhar o pânico e alimentar teorias conspiratórias, mas, sim, pronunciar-se com clareza e didatismo. Lamentavelmente, o pré-candidato a prefeito de João Pessoa copiou a cartilha do seu ídolo supremo, Jair Bolsonaro, caindo em contradição quando, ao mesmo tempo, sob pressão, admitiu que as vacinas são seguras.
O país inteiro e o mundo sabem que o que mata, de verdade, é a falta da vacina. Propositadamente o ex-ministro passou ao largo das estatísticas alarmantes sobre o número de vítimas da covid-19 no Brasil, e só se chegou a esse estágio por causa do negacionismo declarado do governo Bolsonaro desde a eclosão da pandemia, comparada a uma “gripezinha”, minimizada inúmeras vezes em sua dimensão cruel. Não é dado a ninguém ignorar episódios que aconteceram em forma de tragédia, como a crise de oxigênio em Manaus, no Amazonas, ou a demora na liberação de imunizantes para vários Estados, o que obrigou um ex-governador de São Paulo (João Doria) a negociar diretamente com fabricantes internacionais e levou os governadores do Nordeste a agirem por meio do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento da Região para a aquisição de imunizantes lá fora. Enquanto isso, internamente, Bolsonaro debochava da calamidade, com expressões de mau gosto sobre não querer virar jacaré ou imitar gestos de falta de ar de pacientes contaminados.
No meio da bagunça geral ou da “carnavalização” da tragédia que o governo Bolsonaro insistiu em promover, Marcelo Queiroga foi investido na Pasta da Saúde, sucedendo a um general que era especializado em logística bélica não em Saúde Pública. Desse ponto de vista, o paraibano teve que fazer uma verdadeira ginástica em Brasília para não desagradar ao seu chefe e nem contrariar o juramento de Hipócrates. Nem sempre se saiu bem nesse malabarismo – tratava-se, afinal, de decidir se servia a um presidente negacionista ou a uma sociedade vulnerável e assustada, mas, de todo modo, é indiscutível que deu partida a uma campanha nacional de vacinação contra a covid-19. Queiroga deixou as polêmicas para o presidente da República e foi cuidar do que lhe cabia fazer nas condições de temperatura e pressão. Pena que o estrago maior já houvesse sido feito, com milhares de vítimas espalhadas em hospitais improvisados do imenso território nacional. Sua atuação foi polêmica, obviamente, na questão da pandemia – e é sobre isso que vai se pautar a campanha eleitoral em João Pessoa quando chegar a vez das suas intervenções em debates e no Guia Eleitoral. Queiroga precisa reformular estratégia de campanha, sobretudo por ainda estar patinando entre 1% e 2% das intenções de voto, o que não é cacife suficiente para eleger ninguém à prefeitura de João Pessoa.