Nonato Guedes
Sobre a pré-candidatura do governador João Azevêdo (PSB) a uma vaga de senador em 2026 o que pode ser dito é que ela está na pauta das articulações que estão sendo feitas antecipadamente por lideranças políticas dentro do esquema que o chefe do Executivo lidera, mas a confirmação ou sacramentação dependerá do êxito ou da segurança de composições que precisarão ser viabilizadas para que o projeto não corra riscos em meio à dinâmica do processo político estadual. Claro que o governador tem interesse e disposição para concorrer, não só porque pretende perseverar no cenário político como porque tem instrumentos de poder que podem lhe facilitar a caminhada. O segundo governo que ele comanda já se revela mais proativo do que o primeiro, que andou sujeito a adversidades de toda ordem, e essa condição lhe dá cacife, reforço e prestígio para submeter-se ao julgamento das urnas, com que já se familiarizou desde 2018, quando venceu em primeiro turno a corrida ao Executivo, avançando em 2022 pela reeleição.
Para quem despontou no cenário paraibano como um jejuno ou neófito em política, cujos meandros acompanhava apenas nos bastidores, à sombra de um líder personalíssimo como o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), seu ex-aliado, o itinerário do técnico João Azevêdo tem sido, inegavelmente, bem-sucedido. Há quem desconfie, aliás, que foi nos bastidores do jogo político local que ele forjou seu aprendizado sobre táticas e estratégias, bem como sobre como lidar com vaidades e ambições de atores ou expoentes do cenário, acumulando não apenas informações mas leituras e interpretações envolvendo os passos corretos que precisam ser dados para sobreviver entre raposas experimentadas ou cabeças coroadas ilustres, que dominam o “modus operandi” de uma atividade que ao mesmo tempo é fascinante e traiçoeira, podendo abater pelo meio do caminho figuras deslumbradas que perdem o campo de visão estratégico e a noção exata dos passos certeiros que o tabuleiro exige. A sobrevivência na política exige um corolário de atributos, um dos quais o de não subestimar adversários ou estreantes, até porque o jogo comporta “azarões”, triunfos inesperados e derrotas acachapantes. Daí falar-se tanto em habilidade no jargão comum ao meio, para que cabeças não sejam ceifadas ao sabor de movimentos erráticos ou confessadamente desastrados.
O governador João Azevêdo deixou claro, numa das falas sobre projetos políticos pessoais, que uma candidatura ao Senado não é, para ele, “sangria desatada”, ou seja, um troféu que tenha que ser conquistado a todo custo para satisfazer seu ego e ornamentar o seu currículo com uma prebenda que, na Paraíba, tem se tornado desafiadora para governadores em fim de mandato, tanto que Ricardo Coutinho desdenhou da postulação quando se encontrava no auge da popularidade e quando a Paraíba nem sonhava com os tentáculos de uma certa Operação Calvário, ainda hoje ocupando espaços nobres na mídia. Está recente, também, o episódio da derrota do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) quando tentou aventurar-se à reeleição para o posto senatorial, legitimado por um trabalho que repercutiu dentro e fora da Paraíba. Aquele recuo de Ricardo e o massacre eleitoral sofrido por Cássio, despachado para um humilhante quarto lugar em 2018, acenderam sinais de alarme e tornaram a disputa ao Senado uma operação de risco para quem quer que seja. Daí em diante, cautela e caldo de galinha passaram a fazer parte do cardápio político de forma indissolúvel, quase compulsória, junto com mea culpa e com exegeses de toda sorte para tentar decifrar a alma do eleitor, ou do cidadão comum.
Quando pontuou que uma candidatura ao Senado não constituía ‘sangria desatada’, o governador João Azevêdo complementou que a pretensão poderia ser substituída por uma candidatura à Câmara Federal, ou, em último caso, por nenhuma candidatura, reservando-se o pretendente ao desideratum de cumprir o mandato que já exerce até o último dia. Essas alegorias foram acenadas como demonstração de desapego a mandatos ou cargos públicos – argumento que tem sido utilizado por outros políticos de expressão. O ex-governador Cássio Cunha Lima, ao ficar sem mandato, ponderou sobre vida inteligente fora da política, e seu filho, Pedro Cunha Lima, ao reconhecer a derrota para o governo em 2022, proclamou que não precisa de mandato nem de emprego político para trabalhar pela Paraíba ou para batalhar por causas de interesse do Estado. São manifestações edificantes, que à primeira vista revelam, mesmo, certa maturidade – além do desapego que já foi referido, indicando que os revezes políticos estão na lógica de um jogo que nunca teve como regra, exclusivamente, a possibilidade de ganhar ou de triunfar. Por mais que os céticos ponham um pé atrás em relação a esses prognósticos, eles têm sido reafirmados, e não é o caso de contestar quem os proclama a céu aberto e desprovido do chamariz efêmero do poder.
O governador João Azevêdo tem muito tempo de sobra para avaliar se, realmente, deve concorrer ao Senado Federal em 2026, onde – na opinião de aliados sinceros – poderia oferecer uma contribuição valiosa ao debate nacional e, especificamente, ao debate das questões da Paraíba e do Nordeste, mercê da experiência que está conquistando à frente de dois governos e do domínio que acumula acerca de questões polêmicas ou complexas suscitadas na conjuntura em andamento. O que não interessa ao governador é incorporar uma derrota ao seu currículo no pouco tempo em que está na militância política. Seu radar, por isso mesmo, está permanentemente ligado e focado em várias direções da conjuntura da Paraíba, procurando captar os humores vigentes ou até mesmo a direção dos ventos para, só então, sentir-se pisando em terra firme. Afinal, para ele, não se trata apenas da sua própria candidatura, mas da liderança de um esquema que tem ambições definidas em relação à continuidade no governo do Estado e que não pretende entregar o poder aos adversários de bandeja. Por isso é que ainda vai se falar bastante da candidatura ou não do governador a um mandato de senador no pleito de 2026…