Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, candidato à reeleição pelo Progressistas, foi quem mais avançou até agora na atração de partidos e lideranças políticas em apoio ao seu projeto de recandidatura, já contabilizando cerca de oito legendas que se situam no campo da centro-direita e da centro-esquerda. São legendas como o PSD, o PDT, o PSB, o Avante, Solidariedade e o Republicanos, podendo o gestor vir a atrair o apoio do próprio MDB, não obstante as divergências entre o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente dessa legenda, e o governador João Azevêdo, principal patrono da candidatura de Cícero. Ainda ontem, Veneziano prestigiou um evento na companhia de Lucena e previu até março uma definição, admitindo que o MDB está dividido entre o apoio à recondução de Cícero e a pré-candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, do PSDB. O senador corteja o apoio de Cícero à sua reeleição em 2026, mas esta é uma equação complicada diante de compromissos já assumidos pelo prefeito.
Na prática, o gestor pessoense está viabilizando uma mega-coligação que vai lhe possibilitar precioso tempo de propaganda eleitoral em emissoras de rádio e TV. Mais do que qualquer outro candidato, ele precisará de espaço não apenas para apresentar suas propostas para uma segunda administração à frente dos destinos da Capital, mas, também, para se defender diante do bombardeio que já começa a ser ameaçado por adversários que se habilitarão à disputa em outubro. Alguns desses adversários já tiveram embates com Lucena no pleito passado, de 2020, tais como o comunicador Nilvan Ferreira, que avançou para o segundo turno contra ele, e o deputado federal Ruy Carneiro, que ficou em terceiro lugar. Em gestões anteriores de Cícero, no início dos anos 2000, Ruy Carneiro foi seu aliado, chefe da Casa Civil e candidato à sucessão, sendo derrotado, porém, por Ricardo Coutinho, que despontava como líder emergente no campo da esquerda e do PT. De lá para cá, as relações oscilaram, influindo nos posicionamentos político-eleitorais do Estado.
O MDB, que sob a liderança do senador Veneziano Vital, passa por um processo de reestruturação na Paraíba, tendo alcançado agora a marca de 30 prefeitos filiados em diferentes municípios do interior, serviu de trampolim para a candidatura de Nilvan há quatro anos, quando estava sob o comando do senador José Targino Maranhão. Com a morte deste e a ascensão natural do senador Veneziano à direção, o próprio Nilvan detectou incompatibilidades para permanecer no partido – tanto assim que na campanha eleitoral ao governo do Estado, em 2022, o comunicador concorreu pelo PL, proclamando sua identidade absoluta com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Defenestrado do PL pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que está praticamente oficializado pré-candidato à sucessão na Capital paraibana com o apoio direto de Jair Bolsonaro e outros expoentes da direita e do bolsonarismo, Nilvan peregrina em busca de uma sigla para se consolidar no páreo e tentar retomar protagonismo na disputa. Até aqui, vem perdendo substância e envolvendo-se em polêmicas desgastantes que apenas contribuem para dificultar uma caminhada mais sólida rumo à prefeitura municipal de João Pessoa.
A dados de hoje, o cenário político-eleitoral para a prefeitura da Capital apresenta nítida vantagem de Cícero Lucena, enquanto Ruy Carneiro e Nilvan Ferreira duelam para capitalizar preferências na segunda colocação, com expectativa de virem a polarizar a campanha e, finalmente, conseguir destronar o atual alcaide. Cícero tem demonstrado fôlego surpreendente para os próprios adversários, que apostavam num desgaste maior da administração. A performance de Lucena deve-se à sua estratégia, calcada na entrega de resultados concretos à população de João Pessoa e na aceleração de obras e investimentos, contando com o reforço decidido ou a parceria do governo do Estado, que descentraliza as intervenções de cada esfera nos setores estratégicos e cruciais da Capital. Colateralmente, Cícero beneficia-se de ações do governo federal focadas em diferentes Capitais brasileiras – embora o Partido dos Trabalhadores, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esteja empenhado em lançar candidatura própria à sucessão municipal, já havendo um debate consolidado entre os grupos que preferem o deputado estadual Luciano Cartaxo (ex-prefeito por duas vezes) ou a deputada Cida Ramos (que foi candidata em uma oportunidade e não logrou êxito).
Se conseguir atrair o Partido dos Trabalhadores para o seu palanque, ainda que num segundo turno, o prefeito Cícero Lucena reforçará significativamente as suas chances de se eleger para um outro mandato à prefeitura municipal de João Pessoa. Por enquanto, ele valoriza a manutenção da chapa em coligação com o PSB do governador João Azevêdo, representado pela figura do ex-vereador Leo Bezerra, que tem sido uma espécie de revelação na gestão da coisa pública na Capital paraibana. Nos últimos dias, Cícero intensificou conversações com dirigentes municipais do PSB de João Pessoa, a exemplo do secretário de Administração do Estado, Tibério Limeira, em que teriam sido discutidas perspectivas de participação mais efetiva numa eventual administração renovada que ele venha a empalmar. A verdade é que a habilidade política de Cícero conspira para favorecer a consolidação da sua candidatura – ele próprio faz questão de estar à frente de certas articulações decisivas, sendo que em outras não prescinde da colaboração do governador João Azevêdo, bem como do poder de influência que este adicionou depois de conquistar a reeleição ao Executivo Estadual em 2022.