Nonato Guedes
Enquanto o comunicador Nilvan Ferreira ainda lambe as feridas causadas por uma conspiração que, segundo ele, o afastou da corrida pela prefeitura de João Pessoa dentro do PL, os analistas e os líderes políticos discutem sobre o impacto que a ausência do ex-pré-candidato terá na disputa envolvendo a sucessão do prefeito Cícero Lucena, do PP. É fora de dúvidas que Nilvan encaminhava-se para uma nova polarização com Cícero, a exemplo da que foi verificada em 2020, quando estava filiado ao MDB, embora resultados de pesquisas extra-oficiais indicassem ultimamente um avanço do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) na ocupação de espaços, repetindo, em escala maior, a performance de quatro anos, quando ficou em terceiro lugar. Ruy, teoricamente, herdaria grande parte do espólio de Ferreira, apesar das diferenças no estilo de fazer política. Mas, seguramente, convergiam na oposição ferrenha a Cícero Lucena.
A “incógnita” que se abre na conjuntura pré-eleitoral de João Pessoa decorre do fato de que o candidato bolsonarista no pleito de João Pessoa, desta feita, será o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, abstraindo o fato de que, até então, ele vinha figurando em último lugar nos levantamentos de opinião pública. Queiroga foi alçado à condição de expoente bolsonarista em 2024 por ter trabalhado com o ex-presidente da República em plena fase crítica da pandemia de covid-19 e por ter sido recomendado por Bolsonaro ainda quando Nilvan Ferreira tinha a ilusão de ser o ungido para a vaga de postulante. Sabia-se, de forma cristalina, que o palanque do ex-presidente na Capital paraibana seria o do seu ex-ministro, como deixou entrever, numa visita a João Pessoa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, estrela de um evento organizado por Queiroga. Outros ex-ministros do governo anterior, mesmo sem ter votos na Paraíba, reafirmaram a primazia do nome do colega da Saúde para defender as cores bolsonaristas com autoridade no embate que pode descambar para a polarização opondo a direita à esquerda e ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Aliás, não passou desapercebido dos analistas políticos o fato de que, nos seus desabafos após a retirada da candidatura em João Pessoa, o comunicador Nilvan Ferreira poupou o ex-presidente Jair Bolsonaro de qualquer citação sobre responsabilidade ou envolvimento indireto na “orquestração” intentada para “cristianizá-lo” dentro do partido e que, conforme versões, teria se estendido a outros partidos do campo conservador, que fecharam as portas ao ingresso de Nilvan, desdenhando, inclusive, do potencial eleitoral que realmente ele obteve, tanto na eleição anterior à prefeitura quanto na eleição ao governo do Estado, nos colégios eleitorais da Região Metropolitana de João Pessoa. É visível o interesse estratégico de Nilvan em poupar Bolsonaro – ele tem consciência de que o ex-presidente constitui um ativo importante nas campanhas eleitorais e poderá vir a precisar do apoio do ex-capitão em Santa Rita, endereço cuja prefeitura passou a ser objeto do desejo do comunicador como uma forma de se compensar por ter perdido a “cereja do bolo”, que seria a vaga para candidatar-se em João Pessoa.
A alguns soa estranho que um líder respeitável como Nilvan Ferreira seja descartado numa disputa com a qual já havia se familiarizado como a de prefeito de João Pessoa. Afinal de contas, é o que se argumenta, além de ser a “cara da direita” na Capital no período recente, Ferreira teria o discurso pronto na ponta da língua, apenas fazendo alguns ajustes e correções no que proferiu em 2020 e com o qual foi guindado ao segundo turno, a partir daí sendo tratado como fenômeno no quadro político paraibano. O problema é que, apesar da popularidade conquistada, o comunicador não estreitou laços com a classe política, parecendo um insubmisso diante de cúpulas partidárias. Desse ponto de vista, a sua via crúcis para tentar ser ungido novamente candidato no Partido Liberal acendeu o sinal de alerta em outros partidos, cujos líderes são ciosos dos seus espaços e têm dificuldades em repartir esses espaços com recém-chegados, por mais testados que já tenham sido nas urnas. Se é verdade que Nilvan critica o “coronelismo” de algumas chefias partidárias, também é verdade que ele é criticado como um rebelde que pode criar problemas para quem, atualmente, se encontra numa espécie de zona de conforto. Um exemplo concreto foi que não avançaram os entendimentos de Nilvan com partidos que têm boa estrutura.
O próprio “União Brasil”, presidido pelo senador Efraim Filho, abriu diálogo com o comunicador na expectativa de aprofundamento, em paralelo com o monitoramento do desempenho de Nilvan Ferreira no sobe-e-desce das intenções de voto preliminares para a corrida eleitoral em João Pessoa. Efraim fez essa concessão mesmo observando que em 2022 não teve apoio de nenhum dos candidatos a prefeito na Capital paraibana quando concorreu, e foi eleito, ao Senado, derrotando a candidata do esquema do governador João Azevêdo, Pollyanna Dutra. Esse depoimento reforça a visão que se tem em certas áreas políticas sobre o personalismo de Nilvan, por mais que este proteste atitudes de humildade no jogo político. A “queimação” de Nilvan no jogo eleitoral deste ano em João Pessoa foi fruto de um somatório de fatores – não consequência apenas do receio de cúpulas e dirigentes quanto à sua concorrência. Em última análise, ele mesmo terá contribuído para o seu isolamento, fiando-se, sobretudo, no seu carisma pessoal ou até na sua sorte – fatores subjetivos e oscilantes na política, como estão cansados de saber veteranos de outras batalhas eleitorais na Paraíba.