Nonato Guedes
Depois de desencontros e atropelos no cenário eleitoral de João Pessoa este ano, criados pelo próprio partido, o PL, que lhe deu suporte para candidatar-se ao governo do Estado em 2022 em dobradinha com o então presidente Jair Bolsonaro, que postulava a reeleição e perdeu, o comunicador Nilvan Ferreira concordou em migrar para Santa Rita, na região metropolitana da Capital, que tem potencial econômico reconhecido no mapa da Paraíba. É uma opção que, à primeira vista, revela-se arriscada ou temerária para Nilvan, que fará sua estreia na política da terra dos canaviais, tendo pela frente o desafio de se enfronhar melhor no conhecimento dos problemas locais e oferecer, em tempo recorde, propostas de solução para as demandas que são agitadas pela sociedade. Nilvan escolheu esse caminho pressionado pela necessidade de sobrevivência política, já que os espaços pareceram fechados para ele no reduto onde iniciou sua militância em grande estilo, a ponto de ser catapultado ao segundo turno em 2020 contra Cícero Lucena, do PP, quando era filiado ao MDB.
O polêmico comunicador tem procurado dourar a pílula sustentando que foi procurado por agentes políticos de Santa Rita órfãos de um líder que os represente na luta pelo poder e interessados em dele apear o grupo ligado ao prefeito Emerson Panta (PP), que está no segundo mandato e ainda não definiu um nome competitivo para o páreo. Os emissários que influenciaram Nilvan a mudar a rota de sua trajetória política exibiram-lhe, conforme versões, resultados de pesquisas informais que creditam favoritismo ao comunicador na apuração de intenções de voto para a corrida eleitoral de 2024. Em certa medida a projeção faz sentido levando-se em conta que na campanha para governador Ferreira foi o mais votado em Santa Rita, superando não somente o governador João Azevêdo (PSB) como o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que demonstrou avanço por colégios eleitorais satélites da Capital, João Pessoa. O grupo que está no poder em Santa Rita já passou recibo de desconforto e, talvez, receio, com a entrada em cena de personagem que estava fora do “script”, de que foi exemplo a reação da deputada estadual Jane Panta advertindo que a cidade não é “Plano B” para recém-chegados à política municipal.
Alheio às reações que sua migração espetacular provocou, Nilvan Ferreira intensificou agendas informais junto a parcelas da população de Santa Rita, pondo-se no papel de ouvinte atento das reivindicações formuladas, que deverão embasar seu programa de governo para administrar a cidade, caso eleito. Depois de se decidir pela candidatura em Santa Rita, a prioridade do comunicador foi a de resolver sua situação partidária, já que a permanência no PL tornou-se insegura diante de manobras da cúpula estadual para sabotá-lo fora dos limites de João Pessoa. Nos últimos dias, Nilvan empreendeu um périplo a Brasília, onde conversou com expoentes locais e nacionais de, pelo menos, três partidos: o União Brasil, o Podemos e o Republicanos. Esse último é o partido preferido pelo deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL), parceiro de Nilvan na travessia atual, juntamente com o deputado estadual Walbber Virgolino. Cabo Gilberto, entretanto, deixou Ferreira à vontade para tomar o posicionamento que julgar mais adequado às suas pretensões, e o que se sabe é que entendimentos para a definição estão se ultimando.
Embora Nilvan seja acusado de “forasteiro” pelo grupo que está no poder em Santa Rita e que, por óbvio, luta para manter sua hegemonia, ele não foi o primeiro político influente a cogitar uma candidatura a prefeito naquela cidade. O próprio ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que em 2020 teve votação decepcionante como candidato a prefeito de João Pessoa, depois de ter sido prefeito por duas vezes e deputado estadual bem votado, além de votação expressiva para o governo, mobilizou-se em busca de uma alternativa para manter sobrevida política. Enfrentou, em outro nível, as mesmas hostilidades agora ensaiadas contra Nilvan Ferreira, não obstante as diferenças ideológicas abissais que os separam, ao cravar Santa Rita como alternativa. Não se sabe se foi determinante na sua desistência alguma informação privilegiada que Coutinho tenha quanto a desgaste da sua imagem, que foi tisnada por denúncias feitas no bojo de escândalos da Operação Calvário. O que se tem como certo é que ele acabou deliberando ficar em Brasília, onde está próximo do poder central e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com sua mulher ocupando um posto estratégico na estrutura do Ministério da Saúde.
Dependendo do ângulo dos comentários que são feitos, a candidatura a prefeito de Santa Rita pode ser uma opção arriscada para Nilvan Ferreira, que, caso derrotado, enfrentará seu terceiro revés consecutivo no período de quatro anos – correspondente ao mandato de um chefe de executivo municipal. A derrota a prefeito em Santa Rita poderia vir a ser o golpe de misericórdia nas pretensões políticas de Nilvan Ferreira, apesar de toda a obstinação evidente que ele deixa transparecer quanto ao desejo de perseguir carreira política, concorrendo, mesmo, a postos mais elevados da história do Estado. Mas o fato é que tal encaminhamento é o que há, disponível, para ambições imediatas de Nilvan Ferreira. E que ele pode, realmente, vir a adquirir capilaridade surpreendente, cacifando-se para uma disputa acirrada no páreo contra oligarquias políticas históricas no município. A dúvida instilada junto ao eleitor é sobre se Ferreira contará no seu palanque com Jair Bolsonaro, seu ídolo, que não moveu uma palha para evitar a sua “cristianização” em João Pessoa. Independente da presença física de Bolsonaro, Ferreira dificilmente descolará sua imagem da do ex-presidente – convencido que está de que a ligação bolsonarista ainda é o seu maior trunfo na disputa por cargos executivos na Paraíba. Seja como for, sua divisa como candidato a prefeito de Santa Rita é uma só – “vencer ou vencer”.