O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, o ministro da Saúde que esteve mais tempo à frente do ministério no governo de Jair Bolsonaro, disse concordar com a posição da atual chefe da Saúde, Nísia Trindade, de que o estágio atual de infecções por dengue não requer um decreto de emergência nacional.
– Concordo, porque nós não temos um problema em todo o país. A emergência de saúde pública se reconhece para preparar o sistema de saúde a atender uma demanda aumentada por determinada doença – disse o ex-ministro, em entrevista ao “Poder360”.
Queiroga também avaliou que não é possível traçar paralelos entre a situação atual e a pandemia de covid-19, alegando que são situações completamente distintas e que a covid foi uma emergência de saúde pública de importância internacional, configurando uma situação nova. Quando ministro, que assumiu a pasta em substituição ao general Pazuello, Marcelo Queiroga deu partida à campanha de vacinação em massa contra a epidemia de covid, não deixando de se envolver em polêmicas com governadores e prefeitos por causa de medidas restritivas adotadas que, conforme ele, prejudicavam a economia de forma desnecessária.
Ao afirmar que concorda com a ministra Nísia Trindade, Queiroga vai na contramão de declarações de companheiros do seu partido, o PL, e representantes do campo de direita. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) também se referiram a Nísia Trindade como “negacionista” por não ver o cenário como emergencial. Já o Movimento Brasil Livre defendeu que o presidente Lula fosse chamado de “genocida” depois do recorde de mortes por dengue em 2023 e o crescimento de casos da doença neste início de ano.
Dados do Ministério da Saúde revelam que até sábado, nove de fevereiro, o país havia registrado ao menos 62 óbitos por dengue em 2024. Há ainda 408 mil casos prováveis da doença no Brasil. O ministério trabalha com a possibilidade de um pico de 4,2 milhões de infecções ao longo deste ano. Já o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) registrou, até a última semana epidemiológica, 709.601 mortes por covid no Brasil desde o início da pandemia em 2020. No total, são 38.374.307 diagnósticos confirmados. Marcelo Queiroga, que é pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL, tem sido vocal em críticas ao Ministério da Saúde no governo Lula sobre a vacinação. Ele assegura que houve “letargia” e omissão da atual gestão na incorporação dos imunizantes ao plano vacinal.
A vacina Qdenga, escolhida pelo Ministério da Saúde para a imunização contra a dengue, teve seu registro aprovado pela Anvisa em dois de março de 2023. A incorporação ao SUS pelo ministério foi realizada em 21 de novembro, quase nove meses depois. Para Queiroga, foi muito tempo. Segundo ele, o atual governo não fez bom uso da Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias do SUS). O órgão, responsável por introduzir novas tecnologias no SUS, tem a prerrogativa de avaliar mais rapidamente a inserção de novos insumos, procedimentos e tecnologias. “O Ministério da Saúde não fez essa avaliação, não considerou que teríamos uma situação crítica em 2023 por conta da dengue. Houve uma omissão do governo, que ficou esperando que a indústria farmacêutica oferecesse uma demanda para a incorporação”, argumentou Marcelo Queiroga.