Nonato Guedes
São evidentes os sinais de que, internamente, no Partido dos Trabalhadores, a deputada estadual Cida Ramos vem agregando mais apoios à indicação como pré-candidata à prefeitura de João Pessoa nas eleições de outubro do que o seu colega de partido e de legislativo Luciano Cartaxo, que, inclusive, foi prefeito por duas vezes. A manifestação de integrantes de pelo menos nove Coletivos – agrupamentos autônomos dentro do PT – em prol da deputada provocou reação intempestiva de Cartaxo que partiu para tentar descredibilizar a legitimidade do posicionamento, apelando para outros requisitos que, conforme ele, o credenciariam à vaga, incluindo a sua trajetória política-eleitoral na Capital, onde também foi vereador. Em resumo, Cartaxo alegou que não basta ter votos no PT, é preciso ter votos na sociedade como um todo. E não deixou claro compromisso com uma candidatura de Cida até porque está convencido de que ganhará todas – as prévias e as eleições.
Para alguns analistas, tratou-se de um movimento desesperado de Cartaxo para tentar “implodir” a realização das prévias, agendadas para o mês de março, que definirão o nome para representar o PT na disputa pela sucessão de Cícero Lucena, já que a tese de lançamento de candidatura própria está consolidada junto à própria cúpula nacional, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR). O gesto de Cartaxo causou estranheza por parte do presidente do diretório estadual do PT, Jackson Macedo, que apoia nas prévias o nome de Cida Ramos com a autoridade de quem atuou, nos bastidores, com o conhecimento da direção nacional, para trazer Luciano de volta ao partido, reabilitando-o perante a militância por ter agido como desertor em momentos difíceis experimentados pela agremiação, a exemplo do escândalo do mensalão. A trajetória em zigue-zague de Cartaxo, passando pelo PSD e posteriormente pelo PV, tem sido explorada em meio ao intenso debate interno que é travado nas hostes petistas pessoenses a propósito do avanço do calendário para efetivação das prévias.
O ponto fraco de Cartaxo, na comparação com Cida Ramos, conforme evidenciado em declarações verbalizadas por expoentes da própria legenda, diz respeito a uma suposta falta de firmeza política-ideológica da sua parte em relação às convicções próprias sobre o Partido dos Trabalhadores e a sua filosofia. No confronto com a deputada, o ex-prefeito levaria desvantagem, porque segmentos de base do petismo na Paraíba identificam na postura de Cida mais coerência e, consequentemente, maior lealdade ao Partido dos Trabalhadores. São citados como exemplo os depoimentos de petistas militantes de que se disporiam a ir para as ruas agitar a bandeira de Cida na disputa eleitoral deste ano com entusiasmo, mas não teriam o mesmo sentimento caso as prévias sinalizassem a confirmação do nome de Luciano Cartaxo para, novamente, representar o PT na corrida às urnas. O próprio Jackson Macedo, falando, ontem, à rádio “Correio”, foi didático ao estabelecer analogias e procurar ser mais transparente na comunicação ao público sobre o que está por trás da disputa de poder dentro da legenda que preside a nível estadual.
De acordo com Macedo, a questão não é de restrição pessoal às duas administrações empalmadas por Luciano Cartaxo na prefeitura de João Pessoa – a última delas concluída em 2020. Embora o partido não contasse com uma representação efetiva nas gestões, mesmo quando o então prefeito era filiado ao PT, há o reconhecimento de avanços por ele implementados dentro do compromisso assumido em praça pública com vistas a mudar o perfil da cidade de maneira a inseri-la no processo de transformações porque passam as metrópoles brasileiras e, particularmente, as do Nordeste. Se as gestões de Cartaxo não chegaram propriamente a ser impactantes para a melhoria das condições de vida da população de João Pessoa também não chegaram a ser omissas ou apagadas, pela leitura que é feita criticamente por expoentes do petismo. Apenas há a ressalva de que ele poderia ter ido mais longe ou ter avançado mais em termos de planejamento e de realizações concretas, o que faz com que as gestões empalmadas sejam consideradas medianas, sem, inclusive, ostentar o carimbo do PT por falta de maior identidade com a filosofia do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou para um terceiro mandato.
O compartilhamento do poder por Cartaxo com seu entorno familiar também lhe rende restrições dentro do Partido dos Trabalhadores, que procura se nortear pelo princípio da socialização de metas e, ao mesmo tempo, pelo dogma da governança coletiva, diferenciando-se em método ou estilo de partidos tradicionais que se alternaram à frente da prefeitura da Capital paraibana ou mesmo do governo do Estado, este último ainda um tabu para as lideranças ortodoxas petistas. Cida seria, portanto, a representante mais autêntica do PT e com o compromisso de levar o partido com ela para administrar João Pessoa caso seja vitoriosa num virtual confronto com o atual prefeito Cícero Lucena. A postura de Cartaxo ainda é encarada como individualista por agrupamentos expressivos e influentes dentro do Partido dos Trabalhadores e o seu comportamento dissonante nas prévias, quanto à unidade perseguida, dá-lhe uma aura de isolacionismo caso vença as prévias internas. É esse desmonte que está preocupando as lideranças estaduais e municipais petistas, que agora têm, de novo, o encargo de oferecer respostas positivas ou favoráveis para o governo do presidente Lula, já se prevendo a hipótese de uma candidatura à reeleição em 2026 contra remanescentes do bolsonarismo no país.