Nonato Guedes
Com a continuidade do impasse sobre a posição do deputado federal e ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos) em relação ao próximo pleito municipal, o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil), que é candidato à reeleição, encetou gestões nas últimas horas, inclusive, em Brasília, em mais uma tentativa para recompor a unidade do grupo e fortalecer o esquema para a disputa em outubro. A situação se complicou com movimentos de bastidores, nos últimos dias, projetando o nome do deputado estadual Tovar Correia Lima, do PSDB, como alternativa caso Romero não aceite o desafio de se submeter novamente às urnas agora. Tovar tem dificuldades porque dentro do PSDB o clima é favorável à recondução de Bruno, mas tem engrossado as críticas à atual administração, acusando-a de ter perdido a conexão com a realidade da população campinense. O problema principal, segundo analistas políticos, é simples: o “cristal” quebrou na relação entre Bruno e Romero, e isto contaminou todo o grupo, diante do prestígio que ambos detêm no cenário da Rainha da Borborema.
Ontem, o deputado estadual Fábio Ramalho, que é presidente do PSDB na Paraíba, admitiu ter sido chamado mais uma vez para exercer o papel de “bombeiro” no conflito que divide opiniões na bolsa de apostas políticas em Campina Grande e anunciou uma viagem a Brasília para tentar dialogar com o deputado Romero Rodrigues. Mais tarde, apurou-se que o próprio prefeito Bruno Cunha Lima precipitou embarque à Capital federal para cumprir agendas, inclusive, junto ao ex-senador Cássio Cunha Lima, que já há algum tempo aconselhou o prefeito e o ex-prefeito a terem “juízo” e acertarem os ponteiros – e as eventuais diferenças que os separam na atual conjuntura política. O senador Efraim Filho, presidente do União Brasil, e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, ex-candidato a governador pelo PSDB, têm atuado como expressões da força-tarefa montada para reaproximar politicamente dois aliados que estão desavindos. Há quem acredite, porém, que o impasse é incontornável, como o deputado estadual Sargento Neto, que revelou que “todos estão definindo seu lado” em face do rompimento.
Por sua vez, o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, declarou que Romero está se preparando para ser candidato a prefeito – e não o será pelo Republicanos, advertindo que o parlamentar faz uma leitura equivocada do processo que se desenrola em Campina Grande. Galdino vinha se batendo ostensivamente pela filiação de Rodrigues ao Republicanos, com a condição de ser candidato enfrentando Bruno Cunha Lima e por várias vezes exortou Romero a desvendar quais são seus interesses e qual é seu jogo no panorama campinense, sem conseguir sensibilizar o ex-prefeito a dar o primeiro passo. A oposição a Bruno em Campina é liderada pelo grupo da senadora Daniella Ribeiro (PSD), pelo vice-governador Lucas Ribeiro (PP) e pelo secretário de Saúde do Estado, Jhony Bezerra, presidente do diretório municipal do PSB, que, inclusive, colocou-se como pré-candidato. A esse grupo somam-se expoentes de outros partidos que integram um denominado Fórum por Campina, agregando figuras como o deputado estadual Inácio Falcão, do PCdoB, e representantes do PDT. O governador João Azevêdo tem insistido na estratégia de ampliação e manutenção da unidade das oposições como saída indicada para neutralizar a influência de Cunha Lima à frente do comando da máquina de poder na cidade – e a sua gestão tem feito investimentos maciços nos últimos meses na Rainha da Borborema.
No que se refere ao deputado Romero Rodrigues, ultimamente ele tem se tornado um complicador, tanto para a situação como para a oposição em Campina Grande, diante da postura enigmática que assume de público, o que é atribuído por alguns ao fato dele estar sendo cortejado avidamente pelos dois lados, por ser, presumivelmente, um fiel da balança no processo sucessório campinense. Há uma escassez de falas de Romero sobre os rumos da cidade, independente dele vir a levar a sério, ou não, a chance de uma nova candidatura a prefeito. Uma fala qualquer, de sua parte, talvez sublinhasse o tom dos pensamentos que ele está ruminando ou a direção do posicionamento que, mais cedo ou mais tarde, terá que anunciar, em respeito a milhares de eleitores que sufragaram seu nome em prélios históricos travados em Campina Grande. A ascensão de Romero à liderança do Podemos na Câmara Federal foi interpretada como indicativo de que ele estaria fora da disputa este ano, devido aos afazeres a que tem de se entregar no papel que lhe foi confiado. Agitou-se, então, a possibilidade da mulher de Romero, doutora Micheline Rodrigues, ser vice numa chapa de oposição a Bruno, mas o movimento nesse sentido estacionou no caminho das probabilidades.
A expectativa, nos meios políticos de Campina Grande, é que esteja próximo o epílogo de uma novela que se arrasta desde o segundo semestre do ano passado, quando pipocaram na mídia as especulações sobre a disputa eleitoral de 2024. O prefeito Bruno Cunha Lima, pelo que dá a entender, ensaia derradeiras tentativas de conciliação para atender a pedidos e mesmo pressões de aliados políticos que estão fechados decididamente com sua candidatura à reeleição. Mas se for inviável a nova missão seguirá seu próprio destino, enfrentando quem quer que seja a céu aberto e contando com a retaguarda de líderes políticos de destaque na política local. Além dos Cunha Lima e do senador Efraim Filho, ele tem o reforço do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do MDB, que no intervalo para o segundo turno das eleições de 2022 aproximou-se dos Cunha Lima e, depois, converteu-se num dos artífices para alavancar a administração que comanda os destinos da Rainha da Borborema.