Nonato Guedes
Protagonista, nas eleições de 2022, de uma candidatura ao Senado em que surpreendeu pela votação expressiva alcançada – 233.8 mil sufrágios, 106 mil dos quais obtidos em João Pessoa, o pastor e procurador Sérgio Queiroz, que foi secretário de Modernização Administrativa no governo de Jair Bolsonaro, agita os meios políticos da Paraíba com a cogitação de uma provável candidatura a prefeito da Capital no pleito de outubro. Ele deu um passo concreto para voltar à militância política, anunciando, em “live” no Instagram, que se filiará ao partido Novo. A decisão de disputar a prefeitura será tomada após consultas à família e, bem ao seu estilo, o pastor-procurador faz suspense alegando que não é uma prioridade urgente na sua agenda mas que não a descarta por entender que é através da política que podem ocorrer transformações.
O retorno à cena de Sérgio Queiroz – que submergiu desde o encerramento da campanha de 2022 – é uma consequência do vácuo político que se abriu entre forças políticas conservadoras ou de direita com a desistência do comunicador Nilvan Ferreira em participar do páreo em João Pessoa, após se sentir “rifado” dentro do PL por manobra de cúpula supostamente comandada pelo presidente estadual, o deputado federal Wellington Roberto, conforme ele mesmo denuncia. Nilvan, hoje, devera comunicar em entrevista à imprensa a sua pré-candidatura a prefeito de Santa Rita, na região metropolitana da Capital, pelo Republicanos dirigido pelo deputado federal Hugo Motta. O comunicador já adquiriu domicílio na terra dos canaviais, como parte do ritual para se habilitar à disputa, e tem intensificado contatos com agentes políticos e com populares residentes na cidade, testando a receptividade ao seu nome. Ele foi o postulante ao governo do Estado mais votado em Santa Rita no pleito de 2022, desbancando o próprio governador João Azevêdo e o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima. Afirma dispor de pesquisas atuais que o favorecem na corrida à sucessão do prefeito Emerson Panta (PP), que está em seu segundo mandato e que procura um nome forte para fazer frente aos adversários.
O pastor Sérgio Queiroz, que dirige uma Fundação engajada em pautas que envolvem a problemática social, incluindo a questão das drogas, foi candidato em 2022 pelo PRTB e fez uma campanha diferenciada em que procurou misturar o debate de propostas com a construção do perfil de um “outsider”, sem vinculação com oligarquias políticas tradicionais nem apego a benesses oferecidas por legendas partidárias, portando-se como crítico impenitente do modelo político vigente no país e da própria representatividade da Paraíba pelos políticos tradicionais com mandato. O discurso incorporou, também, agendas conservadoras assumidas ou encampadas pelo governo de Jair Bolsonaro e credenciou o nome de Queiroz junto a parcelas do eleitorado da Grande João Pessoa, principalmente a segmentos de classe média. Ele teve o desempenho facilitado pela fluência na exposição de suas ideias e na formulação de soluções viáveis para os desafios crescentes de todo o Estado da Paraíba. Também conduziu uma mobilização desprovida de recursos financeiros, embora não tenha feito propriamente uma campanha “franciscana”.
Queiroz recebeu uma manifestação calorosa, explícita, de apoio do ex-procurador da Lava Jato e deputado federal Deltan Dallagnol, do Paraná, que também o convidou a ingressar no “Novo” e a contribuir para um suposto processo de renovação da prática política na conjuntura paraibana, como parte do esforço nacional de tentativa de oxigenação do referido processo. Dallagnol também insinuou apoio e reforço ao pastor caso ele viesse a aceitar a disputa pela prefeitura de João Pessoa. Além, naturalmente, de sensibilizar Queiroz, a intervenção do ex-procurador da Lava Jato terá sido o fator decisivo para motivar o pastor paraibano a considerar a hipótese de voltar aos palanques. Pessoalmente, ele avalia que o cenário político não mudou substancialmente nem qualitativamente e ainda exige o concurso de talentos e de voluntários que se dispõem a empalmar bandeiras que não são contempladas pelas representações políticas, nem no Congresso Nacional nem no Executivo. Ele continua defendendo uma proposta polêmica – a da institucionalização da figura do “candidato avulso” ou “independente”, que esbarra em resistência das cúpulas partidárias num país onde muitos querem um partido para chamar de seu e para fazer jus ao dinheiro ilimitado oriundo dos cofres do Fundo Partidário, instituído pelos próprios congressistas.
Enquanto não se define concretamente em relação a uma candidatura, o pastor Sérgio Queiroz ocupa espaços na mídia com avaliações dos chamados analistas sobre seu potencial eleitoral na disputa em João Pessoa. Especula-se que ele tira votos de praticamente todos os pré-candidatos de centro e de direita que são apontados no noticiário, a exemplo do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, praticamente ungido pelo PL com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que fará sua terceira tentativa para chegar ao Centro Administrativo Municipal e do próprio prefeito Cícero Lucena, do PP, que é apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB) e por outros partidos. Os grupos de direita, sobretudo, sentem-se órfãos de representatividade no pleito com a migração de Nilvan para o território de Santa Rita e se identificam, por osmose, com o ideário do pastor Sérgio Queiroz, que também atrai votos de eleitores “flutuantes”, não enquadrados em espectros ideológicos. A expectativa é sobre se ele aceitará o desafio e mergulhará de corpo e alma na disputa na Capital paraibana.