Nonato Guedes
O comunicador Nilvan Ferreira oficializou, ontem, em contato com a imprensa, a sua pré-candidatura a prefeito de Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa, no pleito de outubro, deixando em aberto apenas a filiação partidária mas emitindo sinais de que está muito próximo do Republicanos, que é da base do governador João Azevêdo (PSB) a nível estadual. O ex-candidato a governador apareceu “repaginado” no figurino, abandonando o tom das discussões ideológicas e concentrando o discurso em propostas para a população da terra dos canaviais. Ao mesmo tempo, se disse flexível ao diálogo, quer com a administração de João Azevêdo, quer com representantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), admitindo a necessidade de pragmatismo para poder governar, caso venha a ser vitorioso no confronto com o esquema do atual prefeito Emerson Panta (PP), que ainda não definiu candidatura.
Nilvan teve a preocupação de esclarecer que não está renegando princípios nem ideias que defendeu no passado recente e que eram extremamente alinhadas com o pensamento e as falas do então presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo governo defendeu ardorosamente em inúmeras oportunidades, inclusive, ao lado do ex-mandatário. Mas o golpe sofrido da parte da cúpula estadual do próprio PL, que o defenestrou do papel de candidato a prefeito de João Pessoa para preferir o nome do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, refreou o ímpeto de Ferreira em relação ao bolsonarismo, influenciando o próprio estilo moderado que passou a adotar. Ele ainda procurou mascarar a postura de ex-moicano afirmando que a disputa eleitoral este ano se dará em outro nível, focado nas questões locais, não necessariamente refletindo a polarização nacional que se estabeleceu nos últimos anos entre apoiadores de Jair Messias Bolsonaro e apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva. Era um perfil já esperado por analistas políticos, que acreditam ter Nilvan assimilado corretamente lições dos erros táticos cometidos nas duas vezes em que disputou cargos – a primeira, em 2020, a prefeito de João Pessoa, a segunda, em 2022, ao Palácio da Redenção.
O Nilvan de ontem não se preocupava em agregar apoios ou alianças indispensáveis para o fortalecimento do seu projeto, muito menos fazer aproximações com candidatos de partidos que poderiam apoiá-lo em hipótese de segundo turno. Esse personalismo exacerbado fechou-lhe portas, sobretudo, quando em 2020 precisou dar combate a Cícero Lucena (PP) na finalíssima de uma eleição bastante concorrida, com inúmeros postulantes de todas as tendências e cores partidárias. Até então, Ferreira estava deslumbrado com sua condição de “fenômeno”, que se projetou especialmente quando foi lançado pelo MDB do senador José Maranhão (já falecido) à prefeitura da Capital. O resultado foi que em 2022, com um cenário mais pulverizado ao governo do Estado, ele ficou no meio do caminho, desprovido de estrutura maior para consolidar a narrativa do “fenômeno”. O segundo turno para governador foi disputado, na oposição, pelo então deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) contra João Azevêdo, que foi reeleito por margem estreita de diferença. Na época não faltaram críticas à postura de Nilvan, considerado “arrogante” no trato das relações políticas em geral.
Ontem, bafejado pelos ares do novo domicílio eleitoral em Santa Rita, o comunicador buscou se apresentar de forma mais propositiva e, do ponto de vista estratégico, de forma mais consistente. Assim é que, além de se abrir para amplos entendimentos políticos, expressou o desejo de promover uma aliança inédita e, portanto, histórica na política da terra dos canaviais, atraindo o apoio de legendas como o União Brasil, presidido pelo senador Efraim Filho, o MDB comandado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e, naturalmente, o Republicanos de Hugo Motta, onde poderá ingressar. Na “arca” idealizada por Nilvan há lugar, também, para os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual), que foram solidários com ele no PL quando se desenhou a orquestração atribuída ao presidente estadual Wellington Roberto para rifá-lo do páreo em João Pessoa. Por fim, Nilvan mencionou, ainda, o deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, cujo nome tem sido lembrado para concorrer, novamente, à prefeitura municipal de Campina Grande em 2024.
Nas próximas horas, Nilvan Ferreira estará anunciando o partido pelo qual enfrentará as urnas na terceira cidade do Estado, mas, independente da sigla, o pré-candidato tem mantido contatos com lideranças locais, não só da política mas de outros segmentos, num esforço visível para ganhar tempo e familiarizar-se mais rapidamente sobre os problemas que afligem a população de Santa Rita e que exigirão posicionamento dele na campanha eleitoral que se avizinha. Ficou evidenciado o interesse do comunicador em imprimir um tom mais profissional e menos amadorístico à sua campanha para prefeito da vizinha cidade, abolindo erros de condutas do passado que afetaram seu desempenho nos projetos políticos que perseguiu. Nilvan tem consciência de que sua candidatura em Santa Rita tem capitalizado interesse em todo o Estado e, ao mesmo tempo, é cioso da responsabilidade que tem, como líder de um agrupamento, em não protagonizar uma aventura política, mas, sim, capitanear um projeto vitorioso com o lastro popular. Este é o seu desafio na realidade de hoje no cenário paraibano.