Nonato Guedes
Pelo menos cinco deputados federais paraibanos, de partidos diferentes, mas considerados como integrantes da base de sustentação política do governo Lula em Brasília, estiveram presentes no happy hour com o presidente da República e líder petista, quinta-feira, no Palácio do Alvorada. Ao todo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 25 convidados na residência oficial para agradecer as aprovações de matérias de interesse do governo em 2023 e, ao mesmo tempo, estreitar laços com os deputados. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os ministros Rui Costa, da Casa Civil, Fernando Haddad, da Fazenda, Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, Paulo Pimenta, da Secom, figuravam entre os expoentes de destaque convidados pelo mandatário.
Da bancada da Paraíba participaram os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP), líder da Maioria na Câmara, Damião Feliciano (União Brasil, vice-líder do governo na Câmara dos Deputados), Gervásio Maia, do PSB, líder da bancada na Casa, Hugo Motta, líder do Republicanos e do bloco parlamentar MDB, PSD, Republicanos e Romero Rodrigues, líder do Podemos. Gervásio Maia chegou ao Palácio do Alvorada em companhia do prefeito do Recife, João Campos. Ele e outros participantes do “happy hour” compartilharam publicações sobre o encontro em seus perfis no X (ex-Twitter) e em outras redes sociais. O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, declarou ao compartilhar foto da reunião: “Diálogo e união com o Brasil em primeiro lugar”. O deputado José Guimarães, do PT do Ceará, líder do Governo na Câmara dos Deputados, qualificou como “ótima” a reunião e disse que o presidente Lula reafirmou seu compromisso de diálogo permanente com o Poder Legislativo. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann e o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), também compareceram.
O presidente Lula escreveu em seu perfil no X: “Com diálogo e união, vamos reconstruindo e fazendo os avanços que o Brasil precisa”. O encontro foi realizado depois da posse do ministro Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal, que foi bastante concorrida, e, segundo o “Poder360” serviu para distensionar o ambiente e buscar melhorar a relação entre o governo de Lula e os parlamentares, face à insatisfação com a retenção na liberação das emendas parlamentares. Após a reunião, o Planalto divulgou um calendário de liberação das emendas, por meio das quais deputados destinam recursos para a execução de obras em seus redutos de origem, nos diferentes Estados. Ao agradecer a aprovação das pautas de 2023, Lula listou algumas, como a Proposta de Emenda à Constituição fura-teto, aprovada ainda em 2022, a reforma tributária, o projeto sobre bolsas de estudos e o projeto referente ao arcabouço fiscal. Em regra, tais propostas suscitaram controvérsias no Congresso, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal, exigindo paciente e habilidosa negociação dos articuladores do governo Lula para a aprovação.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, que é considerado um dos expoentes do Centrão (agrupamento fisiológico e conservador que tem maioria de votos na Câmara), afirmou que quer contribuir com o governo neste ano, mas pregou que o diálogo continue. Lira tem sido criticado, às vezes, por líderes do próprio Partido dos Trabalhadores, sob a alegação de que atua constantemente para avançar sobre a competência do Executivo na delicada questão do Orçamento e está sempre ameaçando o Planalto com retaliações em plenário caso não haja compartilhamento de poderes com o Legislativo. O cardápio servido no Alvorada foi de frios e salgadinhos e as bebidas incluíam vinho, whisky, cerveja e refrigerante. A primeira-dama, Janja Lula da Silva, não participou da recepção oferecida pelo marido, mas tampouco esteve no encontro de sete de julho de 2023, quando Lula selou a entrada do Centrão no governo e fez fotos com o grupo. Além da ausência da primeira-dama, a reunião revelou a baixa representatividade de negros e mulheres. Dos 25 convidados, apenas duas mulheres e dois negros estiveram entre 21 homens brancos.
A “Revista Fórum” analisa que o presidente da Câmara levantou a bandeira branca e sinalizou uma trégua nos embates com o governo federal durante o “happy hour” e que, em troca, o presidente da República assumiu o compromisso de se reunir com maior regularidade com os congressistas, tendo pautas definidas ou não. Lula ressaltou, sobre a aprovação, em especial da Reforma Tributária e da Bolsa do Ensino Médio: “É isso que nos fará vencer o narcotráfico”. Lula fez também um gesto de aproximação direta com líderes dos partidos, deixando claro que não fala com o Centrão e, com isto, desmobilizando o bloco comandado pelo deputado Arthur Lira. Em um apelo, Lula pediu maior estabilidade na relação entre os dois poderes para que as pautas sociais possam avançar em 2024. Já o deputado Arthur Lira tem ensaiado um afastamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem havia se encontrado no início do ano em Alagoas. Apesar da reclamação de petistas ortodoxos de que o governo está “refém” das forças políticas conservadoras, o presidente Lula tem demonstrado que precisa fazer concessões para assegurar a governabilidade pelo fato de que sua gestão não tem maioria concreta no Parlamento.