Nonato Guedes
O prefeito Cícero Lucena (Progressistas), que ingressou na reta final do atual mandato à frente da administração de João Pessoa, definiu com antecedência que concorrerá à reeleição junto com seu atual vice, Leo Bezerra, do PSB, e se encaminha para concluir a montagem das alianças com partidos que vão lhe apoiar no desafio em busca da recondução, mas até o momento não sabe com quem vai polarizar a disputa em outubro. O processo eleitoral preliminar em João Pessoa já registrou a desistência de um postulante que era tido como competitivo e que se julgava, mesmo, favorito no páreo – o comunicador Nilvan Ferreira (PL), que foi rifado pela cúpula estadual da legenda e migrou para Santa Rita, na região metropolitana, onde fez acenos na direção de uma frente ampla que parece uma “arca de Noé”, juntando líderes de variada extração e incluindo ex-adversários com quem se atritou ainda nas eleições de 2022 ao governo do Estado.
Cícero tem dito que não escolhe adversários – e é certo que não “fraquejou” nem mesmo quando Nilvan era listado no rol de presumíveis postulantes. Afinal, já havia enfrentado o comunicador em 2020 no duelo do segundo turno, quando Ferreira avançou graças à sua imagem de “outsider” com que se apresentou ao eleitorado e ao perfil como “fenômeno” que irrompeu de uma hora para outra no cenário pessoense, quando ainda era filiado aos quadros do MDB. Naquele embate, Lucena levou a melhor, apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB) e por uma frente de partidos, em sua maioria atraídos já no primeiro turno. O elemento desestabilizador na caminhada de Nilvan este ano na Capital foi mesmo a postura das cúpulas do PL – a estadual, presidida pelo deputado federal Wellington Roberto, e a nacional, dirigida por Valdemar Costa Neto, que sinalizaram preferência pela pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. No último domingo, Queiroga uniu-se ao deputado federal do PL Cabo Gilberto Silva no ato liderado por Jair Bolsonaro em São Paulo, mas o parlamentar não confirmou apoio à postulação do ex-ministro na Capital paraibana.
Queiroga, aliás, em tese, desponta nas últimas colocações quando referido como pré-candidato a prefeito de João Pessoa em levantamentos informais realizados por fontes diversas – e a expectativa é sobre se logrará pontuar melhor e adquirir capilaridade eleitoral concretamente daqui para a frente, no vácuo da desistência do comunicador Nilvan Ferreira, que ainda não anunciou posição a tomar no pleito da Capital. Especula-se que o ex-ministro possa herdar valiosa parte do espólio bolsonarista que estava inclinada a acompanhar Nilvan Ferreira em uma nova empreitada em João Pessoa, mas também afirma-se que o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, tem participação no espólio de Nilvan, pela sua posição de centro-direita, embora sem engajamento ostensivo ao bolsonarismo. Na disputa travada em 2020, por sinal, Ruy Carneiro conseguiu ficar em terceiro lugar no cômputo geral das eleições, a uma pequena distância de Nilvan Ferreira que ficou no segundo lugar depois de polarizar ativamente com Cícero Lucena. Os cenários de transferência ainda não estão bem nítidos na Capital e, por isso mesmo, há uma certa cautela no posicionamento dos analistas políticos quanto à radiografia que poderá emergir.
A conjuntura pessoense está em aberto porque há outras forças políticas se movimentando, à direita, para ocupar espaços, a exemplo do pastor e ex-procurador Sérgio Queiroz, que nos últimos dias anunciou sua filiação ao “Novo” e demonstrou interesse em concorrer à prefeitura da Capital, justificando que tem propostas consistentes a oferecer para mudanças na realidade de João Pessoa. Enquanto isso, no campo da esquerda, há uma atmosfera de expectativa em relação ao resultado das prévias no Partido dos Trabalhadores, que decidirão, entre os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos quem vai empalmar a candidatura à sucessão de Cícero. A opção pelo lançamento de candidatura própria foi tomada pelo diretório municipal, com acompanhamento do diretório nacional petista, e , com isso, foi dada largada ao processo interno, que envolve debates entre os postulantes sobre suas proposituras administrativas e, ao mesmo tempo, sobre suas vinculações com o ideário do PT. As eleições municipais, principalmente em Capitais ou grandes centros, entraram no radar do PT nacional como prioridade para dar suporte, em 2026, a uma provável candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um novo mandato.
O PT fornece indicações de que, em março, a fatura deverá estar liquidada no que diz respeito à unção da candidatura própria- e tanto Luciano Cartaxo como Cida Ramos empenham-se numa guerra que já adquiriu contornos de radicalização e provocou manifestação, inclusive, do segmento nacional feminino do Partido dos Trabalhadores em prol de Cida Ramos. Para além da disputa interna, os dois parlamentares têm consciência de que será preciso focar no voto externo, ou seja, no voto do eleitorado de João Pessoa, que abriga parcelas não propriamente filiadas ou vinculadas a agremiações ou agrupamentos políticos mas que têm se mostrado exigentes na cobrança de políticas públicas e de melhorias significativas na qualidade de vida do habitante de uma Capital prestes a chegar ao patamar de um milhão de residentes. Em meio a essas filigranas, Cícero segue incansável na agenda administrativa, que este ano tornou-se mais recheada com investimentos anunciados pelo governo do Estado e com recursos federais para obras de vulto. O prefeito, porém, não descura da pauta política, que prevê ampliação da base de apoio para que acumule forças na hipótese de um segundo turno contra uma candidatura que, por enquanto, não tem um rosto de domínio público.