Nonato Guedes
O PSB do governador João Azevêdo respira ambiente de autofagia, com entrechoques entre o presidente estadual, deputado federal Gervásio Maia, membros da Executiva e outros líderes políticos, tendo como pano de fundo divergências sobre os rumos do partido nas eleições municipais deste ano em diferentes colégios do Estado. Com o mandato de Gervásio praticamente expirando à frente da agremiação, já está em curso internamente um movimento para ejetá-lo do comando, por alegada falta de sintonia com as bases. Esse movimento sinaliza na direção do chamamento ao próprio governador João Azevêdo para assumir a presidência, embora o chefe do Executivo, em outras situações de impasse, tenha descartado a hipótese alegando que não precisa do posto para exercer liderança política no seu agrupamento.
O fato que enredou a posição do deputado Gervásio Maia foi a publicidade dada a um encontro seu com o prefeito de Santa Rita, Emerson Panta (PP), deixando entrever a sinalização de apoio do PSB a uma candidatura que o esquema de Panta lançar à sua sucessão. Na disputa ao governo em 2022, Panta declarou apoio a João Azevêdo mas, nos bastidores, aliados do governador queixam-se de “corpo mole” do prefeito na campanha e exemplificam com o fato de que Azevêdo ficou em terceiro lugar no resultado das urnas na terra dos canaviais, abaixo de Pedro Cunha Lima e do comunicador Nilvan Ferreira. O contencioso envolve impasses administrativos entre o governo do Estado e a prefeitura de Santa Rita em questões pontuais, como o controle do serviço de fornecimento de água à população local. O PSB não tem nome forte para apresentar na mesa como alternativa na cidade da região metropolitana e Gervásio estaria negociando com Panta a possibilidade de indicação de um representante da legenda socialista para a chapa a ser formada, na condição de candidato a vice. A proposta não sensibiliza líderes do PSB com mandato que foram votados em Santa Rita, a exemplo dos deputados João Gonçalves e Hervázio Bezerra, que reclamam não terem sido ouvidos pela cúpula estadual socialista sobre a conjuntura naquele reduto.
Os que contestam Gervásio justificam que até aqui a posição do PSB para as eleições a prefeito de Santa Rita mantém-se em aberto, na dependência do avanço de discussões e de articulações mais consistentes que levem a uma vitória na terceira cidade do Estado. De concreto, é certo que o cenário mudou radicalmente em Santa Rita, da água para o vinho, com a entrada em cena do comunicador Nilvan Ferreira, que migrou do domicílio eleitoral em João Pessoa e que vem repaginando o seu discurso, afastando-se da órbita do bolsonarismo e acenando para diálogo com o próprio governador João Azevêdo, que combateu no passado recente. Independente de conversão ideológica de Nilvan, é fora de dúvidas que ele mudou a conduta política, tornando-se mais pragmático e mais flexível, no interesse da sustentação da sua própria candidatura a prefeito – derradeira opção que lhe restou depois de ter sido desprezado na Capital pelas cúpulas estadual e nacional do PL em proveito da candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que é, declaradamente, o candidato da preferência do ex-presidente Jair Bolsonaro, apesar de não pontuar bem em pesquisas informais de intenção de voto.
A mudança de postura de Nilvan Ferreira teria criado condições para facilitar operações políticas casadas na Grande João Pessoa, com a atração do apoio do governador João Azevêdo e da sua base ao comunicador contra o candidato do prefeito Emerson Panta e a possibilidade de declaração de apoio de Nilvan à candidatura do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), à reeleição, superando ressentimentos e trocas de acusações que marcaram o cenário de 2020 quando os dois se enfrentaram no segundo turno. Em último caso, Nilvan adotaria posição de neutralidade na disputa a ocorrer em João Pessoa, concentrando-se como prioridade máxima na conquista de um mandato – que até hoje ele não teve – a partir da ascensão à edilidade de Santa Rita. Este é o quadro que está sendo debatido no círculo mais próximo ao governador João Azevêdo, segundo apurou o colunista, o que se reforça com os acenos de diálogo de Nilvan e uma retribuição feita pelo chefe do Executivo estadual em declarações a jornalistas antes de embarcar para Portugal, onde cumpre agenda administrativa até o próximo sábado.
Quanto ao deputado federal Gervásio Maia, tem se esmerado em explicar que não precipitou nenhuma posição sobre a disputa num dos municípios importantes da Grande João Pessoa e em evidenciar que nada tem feito sem o conhecimento – e, de resto, o consentimento do próprio governador João Azevêdo, a quem reconhece como líder maior no agrupamento socialista. O problema de Gervásio é que ele não agrada à base do PSB e, por outro lado, vai de encontro a outros aliados do governador João Azevêdo. Nilvan Ferreira está em vias de ingressar no Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que apoia e participa da atual administração estadual – e as tratativas nesse sentido têm sido relatadas ao governador João Azevêdo, que até aqui não as desautorizou. Em outro episódio mais rumoroso Gervásio colidiu com o próprio governador ao aventar hipótese de candidatura própria em João Pessoa contra a orientação insistente de João Azevêdo pelo apoio à reeleição de Cícero. Em tese, Gervásio demonstra que não trabalha contra o seu partido. Está em desvantagem porque Azevêdo governa com um condomínio político – e não, exclusivamente, com o PSB, ao qual retornou depois de ganhar quedas-de-braço com o ex-governador Ricardo Coutinho. É essa falta de sintonia que líderes do PSB têm pressa de equacionar, para garantir a sobrevivência do esquema governista fiel a João Azevêdo.