Nonato Guedes
O comentário nos meios políticos gira em torno da obstinação que parece ter tomado conta do radialista Nilvan Ferreira em traçar como meta prioritária o asseguramento de um mandato político que ainda não conquistou, a despeito de ter passado por dois testes importantes – um como candidato a prefeito de João Pessoa, em que avançou para o segundo turno mas não venceu, e o outro na condição de candidato a governador do Estado, quando ficou posicionado em terceiro lugar, abaixo de Pedro Cunha Lima e do reeleito, João Azevêdo. Não é que Nilvan tenha feito apenas figuração nesses pleitos – a votação alcançada mostrou que ele tem potencial eleitoral concreto, mas suas campanhas nesse período de quase quatro anos não tiveram a estrutura adequada, indispensável, para botar a mão na taça. Por isso é que ele tem sido lembrado ou é referido como um “fenômeno” político – espécie de cometa que, de tempos em tempos, sobressai no horizonte da política-partidária paraibana e brasileira.
Numa das suas falas à imprensa, quando anunciou, contrafeito, o seu desligamento do PL por falta de apoio das cúpulas (e também do ex-presidente Jair Bolsonaro) para ser candidato em João Pessoa este ano, Nilvan lembrou que em 2022 abriu mão de um mandato parlamentar, possivelmente o de deputado federal, para poder fazer palanque, como candidato a governador, para Jair Bolsonaro, diante da neutralidade que o então candidato Pedro Cunha Lima assumiu em relação às candidaturas de Lula e do ex-capitão. Sua situação pessoal, de fato, era bastante confortável porque ainda estava bem nítido o “Raio X” do seu desempenho como candidato “outsider” em 2020 e também havia expectativa, junto a parcelas do eleitorado, de que Nilvan Ferreira tentasse um mandato mais viável ou mais ao alcance da mão, como seria o de deputado (federal ou estadual), com possibilidade de “puxar” uma bancada respeitável dentro dos quadros do PL. Mas, além de querer dar palanque a Bolsonaro, Nilvan talvez tenha se empolgado com a performance na Capital, de tal modo que não custava nada ir mais longe e tentar diretamente o próprio governo do Estado.
O resultado final não correspondeu, até em consequência da falta de estrutura para competir com João Azevêdo, comandante de uma máquina influente e detentor de índices de aprovação, e com um líder de família tradicional, Pedro Cunha Lima, que exercia mandato na Câmara Federal e tinha foco na bandeira da Educação. Nilvan foi traído, igualmente, pela inabilidade política, ou seja, por não ter viabilizado composições que oferecessem respaldo à sua pretensão de chegar ao Palácio da Redenção, e a própria linguagem radical que ainda vinha proferindo o isolou em termos de apoios de êmulos que poderiam tê-lo colocado no segundo turno, no embate direto com Azevêdo, ao invés de facilitar a ascensão de Pedro Cunha Lima a esse pódium. Paradoxalmente, a campanha a governador da Paraíba trouxe vantagens inesperadas para Ferreira que iriam se refletir, mais tarde, na sua trajetória política, a exemplo da visibilidade que lhe permitiu ser o candidato votado em primeiro lugar na cidade de Santa Rita. Foi em cima da análise correta desse cacife que ele abandonou a pretensão de, novamente, candidatar-se em João Pessoa, agora em 2024, e optou por migrar para a terra dos canaviais, onde está embaralhando o cenário político estadual, pela própria importância estratégica da cidade na realidade paraibana.
Posicionado em Santa Rita, o comunicador tem feito movimentos que contribuem para reformular ou repaginar o seu próprio perfil, deixando de ser caudatário da direita radical e convertendo-se ao papel de líder pragmático cujo radar está focado na solução dos problemas que a população de Santa Rita enfrenta e que desafiaram sucessivas gestões ao longo da História. Ao invés de assumir o figurino de franco-atirador, Nilvan abriu canais até com figuras a quem fez oposição cerrada como o governador João Azevêdo (PSB), que tem compromisso de apoio à reeleição de Cícero Lucena (PP) na Capital. Nota-se que, apesar de ter deslocado o teatro de suas operações políticas para uma outra localidade da região metropolitana, Nilvan atua para manter seus tentáculos na Capital que é o tambor do Estado e onde vivenciou seu primeiro grande teste político. A manutenção do prestígio em João Pessoa é fundamental para reforçar o cacife de Nilvan nas negociações envolvendo a disputa eleitoral em Santa Rita, e os acenos feitos ao comunicador por pré-candidatos de diferentes partidos em João Pessoa atestam o reconhecimento dos espaços de influência que ele cravou dentro do território maior e que constituem uma espécie de herança ou de espólio valioso que é cobiçado pelos que buscam votos para decidir a parada a seu favor.
O próprio prefeito Cícero Lucena, que foi alvo do bombardeio de Nilvan lá atrás, não é infenso à dinâmica política recente que, no dizer do deputado estadual Hervázio Bezerra, do PSB, tem de uma velocidade impressionante na crônica dos prélios eleitorais pessoenses. De concreto, Nilvan segue como líder respeitável, capaz de atuar como fiel da balança, simultaneamente, em dois redutos importantes, feito que não foi protagonizado nem por “condestáveis” da política que lograram ser alçados ao governo do Estado. Objetivamente, a luta de Nilvan é para inscrever um mandato na sua biografia política, até para compensar os dois vezes que experimentou em pouco tempo de construção. O comunicador empenha-se em continuar construindo pontes que possam alicerçar seu projeto de vitoriar no embate pela prefeitura de Santa Rita. Em certa medida, avalia-se que, mais experiente nas questões ligadas à disputa eleitoral, Nilvan Ferreira passou a ser senhor das suas decisões e sinaliza estar consciente de que precisa agir de acordo com o seu “feeling” para garantir a sobrevivência no jogo político, pois poderá estar jogando a sua derradeira cartada no cenário que cortejou desde a campanha de 2020 na Capital paraibana.