Nonato Guedes
De volta à Paraíba, após uma semana de contatos administrativos exitosos em Portugal, o governador João Azevêdo (PSB) tem pela frente o desafio de ajustar os ponteiros no seu partido, o PSB, que sofreu turbulências depois que o deputado federal Gervásio Maia, presidente do diretório estadual, atritou-se com membros da Executiva em torno da disputa pontual em Santa Rita. Gervásio avançou entendimentos com o grupo do prefeito Emerson Panta, do PP, sobre apoio a um candidato que este indicar à sucessão, enquanto expoentes do PSB admitiram composição com o comunicador Nilvan Ferreira, em vias de filiar-se ao Republicanos, numa operação casada que provavelmente teria reflexos em João Pessoa quanto ao apoio de Nilvan à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição.
O contencioso entre Gervásio e alguns socialistas ilustres, com trânsito livre junto ao governador João Azevêdo, não se restringe, é claro, a Santa Rita – mas o caso na terra dos canaviais foi o estopim para acender o sinal de alerta junto a lideranças do partido. Maia entrou em rota de colisão com Ronaldo Guerra, chefe de gabinete do governador e integrante da Executiva socialista, bem como com Tibério Limeira, dirigente municipal socialista em João Pessoa e com o deputado estadual Hervázio Bezerra e seu filho, Leo Bezerra, vice-prefeito de João Pessoa, que é secretário do partido. Houve desmentido, inclusive, quanto a um suposto registro em ata de perspectiva de composição entre o PSB e o grupo do prefeito Emerson Panta com vistas às eleições vindouras. De resto, circularam versões de que o governador João Azevêdo, antes da viagem a Portugal, havia feito acenos na direção da aliança com Ferreira, em um cenário no qual o comunicador flexibilizaria posições críticas até então cultivadas em relação ao governo estadual. E o fato é que Ferreira anuiu para conversações com o esquema do gestor socialista.
Os que questionam o comando de Gervásio queixam-se que não apenas em Santa Rita, mas em outros municípios e regiões do Estado, o parlamentar tem “fechado” acordos e tomado decisões referentes à formação de chapas para as eleições deste ano sem promover consultas aos representantes do partido nessas localidades, que teoricamente estariam credenciados a conduzir gestões e articulações que favorecessem o crescimento do PSB no processo. Consideram, mesmo, que tem havido precipitação por parte do presidente do diretório paraibano e, até certo ponto, uma arriscada estratégia que atropela a liderança do governador João Azevêdo, que, concretamente, é o principal líder da arrancada eleitoral para 2024. O desaguisado deu pretexto ao deputado Adriano Galdino, do Republicanos, para repetir a ladainha de que o governador precisa assumir a presidência do partido e, mais do que isso, necessita de um partido para chamar de seu, entendendo que no PSB sua autoridade sofre enfrentamentos sorrateiros.
Outras fontes políticas lembraram que, caso não esteja mais confortável no PSB, o governador tem a possibilidade de passar a liderar o PDT, cujo comando já lhe foi oferecido, atraindo, por gravidade, para essa agremiação, contingente expressivo de líderes municipais que esperaram apenas a janela partidária para a eventualidade de se reposicionar no jogo à vista. A tática do deputado Gervásio Maia, diante do fogo cruzado a que está submetido, tem sido a de não polemizar, bem como a de responder por vias oblíquas. Foi assim que em meio ao tiroteio ele postou em rede social uma mensagem do presidente nacional da legenda, tecendo elogios à sua atuação no fortalecimento dos quadros socialistas no Estado da Paraíba e, igualmente, mencionando a sua contribuição como parlamentar para o avanço de causas de interesse da população local. A alusão foi ao papel desempenhado por Gervásio Maia como líder da bancada do PSB na Câmara Federal, onde se mostra alinhado, ao mesmo tempo, com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No vai e vem de informações e de versões a respeito dos rumos do Partido Socialista Brasileiro na Paraíba, tem chamado a atenção a advertência feita, de modo insistente, por líderes de expressão no PSB paraibano sobre o perigo iminente de uma debandada de quadros em pleno ano eleitoral, o que traria consequências, lá na frente, na estrutura partidária, nas eleições majoritárias e proporcionais de 2026, retirando da legenda condições viáveis de expansão e de protagonismo no cenário político estadual. O governador João Azevêdo, advertem essas fontes, já sofre forte pressão de dois partidos aliados – o Republicanos e o PP, que tentam avançar na ocupação de espaços e dispor de capilaridade para encabeçar ou fazer parte de chapas nas eleições que serão travadas daqui a dois anos. Se, ainda por cima, o governador contribuir, por leniência, para o esvaziamento do PSB, poderá comprometer seus próprios projetos políticos-eleitorais que envolveriam uma candidatura a senador. Daí porque mesmo quem não é filiado ao PSB mas se considera integrante da base de João Azevêdo torce e opera para que o governador assuma as rédeas do comando partidário, resolvendo antecipadamente conflitos que poderão se agravar. O que se diz é que há uma atmosfera de insegurança para candidaturas no PSB e que o deputado Gervásio Maia seria um dos responsáveis por tal ambiente desgastante para o partido. Falta saber qual a palavra final do chefe do Executivo, no retorno das terras lusitanas.