Nonato Guedes
Ao falar à imprensa paraibana, ontem, após uma semana de jejum sobre temas políticos, uma vez que estava cumprindo agenda administrativa em Portugal, o governador João Azevêdo deixou claro que não tem interesse em polemizar sobre declarações do atual presidente do diretório estadual do PSB, deputado Gervásio Maia, em torno de equações para as eleições de 2024 na Grande João Pessoa e em outros municípios do interior. Azevêdo descartou, inclusive, de maneira enfática, a possibilidade de “crise” nas hostes socialistas, dizendo que há diferenças de opiniões e que não considera isto um fato grave na vida das agremiações, mas, sim, uma consequência do ambiente democrático que se respira no interior das legendas. Enfim, desapontando os que insistem em que ele assuma o comando estadual do PSB, o governador frisou que não cogita tal pretensão e que caberá à presidência nacional sinalizar definições no momento oportuno.
Na prática, João Azevêdo delegou ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, a tarefa de coordenar o destino em relação à direção estadual. A julgar por manifestações prévias agitadas pelo dirigente Carlos Siqueira, ele deverá optar por manter o deputado federal Gervásio Maia no comando socialista paraibano – não só em respeito ao seu broche como integrante da Câmara e líder do partido naquela Casa mas, certamente, por confiar em que ele saberá conciliar interesses e até mesmo conflitos em proveito do fortalecimento para eleições mais desafiadoras, em 2026, ao governo do Estado e ao Senado da República. Recentemente, Gervásio protagonizou foto ao lado de Carlos Siqueira, com direito a postagem em rede social e a mensagem em que foi cumulado com elogios e reconhecimento pelo “trabalho” desenvolvido com vistas a fortalecer os quadros socialistas paraibanos e prepará-los para uma posição vantajosa nas eleições que serão travadas em diferentes regiões em outubro próximo. Para analistas políticos, o teor da fala de Siqueira foi bastante para persuadir João não alimentar disputas internas na Paraíba.
Não quer dizer que acabou a crise ou a insatisfação reinante por parte de alguns deputados estaduais do PSB quanto à suposta centralização exercida por Gervásio Maia nas definições para as eleições municipais, bem como em relação à falta de diálogo do parlamentar sobre situações de conflito em localidades estratégicas para o partido e para o esquema do governador João Azevêdo. Apenas o governador não deseja dar amplitude a descontentamentos pontuais e, mais ainda, não pretende nem aceita ser “pautado” pela mídia nas respostas sobre problemas do partido que, a seu ver, são superestimados em relação à sua correta dimensão. A pergunta sobre especulações para que assuma o comando do PSB na Paraíba, além de ser considerada repetitiva pelo governador João Azevêdo, está irritando o humor do chefe do Executivo. Ele alega que se elegeu duas vezes governador da Paraíba sem precisar estar no comando da legenda socialista e não encoraja -pelo contrário, desmobiliza quaisquer articulações de bastidores para investi-lo na direção de outra legenda, como se cogitou em relação ao PDT.
O governador tem lá suas razões bem fortes para não se envolver em conflitos pelo poder interno no PSB. Ele passou um “perrengue” naquela ocasião histórica em que teve que deixar o partido diante da operação “manu militari” arquitetada pelo seu antecessor, Ricardo Coutinho, para assegurar hegemonia do seu esquema no acampamento do PSB. O objetivo final da estratégia consistia em deixar João Azevêdo sem legenda para concorrer à reeleição ao Executivo paraibano, diante da notória insatisfação do ex-governador Ricardo Coutinho com a liderança que o antigo aliado passou a exercer na conjuntura local, mercê da própria ascensão ao Palácio da Redenção com o apoio declarado de Ricardo. Azevêdo quebrou cabeça, juntamente com seus aliados mais próximos, buscando alternativas viáveis que não destoassem do seu perfil de centro-esquerda nem o afastassem da órbita do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em que apostou mesmo não tendo sido recomendado por Lula no primeiro turno em nosso Estado. Essa queda-de-braço foi desgastante e, por óbvio, originou traumas. João e seu grupo refugiaram-se no “Cidadania” para passar a tempestade até que o governador foi reentronizado com honras dentro do Partido Socialista.
João Azevêdo sabe que a “mídia” não fabrica nem inventa crises dentro dos partidos; apenas acompanha o dia a dia das agremiações, a movimentação dos diferentes atores – secundários ou protagonistas no cenário político estadual e nacional e divulga para a opinião pública a narrativa dos embates que estão se sucedendo. Os repórteres não são culpados por colherem declarações de políticos com mandato que se expõem na defesa de pontos de vista que, muitas vezes, não coincidem dentro do mesmo metro quadrado de um partido político. Independente dos ambientes que são construídos, há uma situação mal resolvida dentro das hostes do PSB na Paraíba, afetando, por gravidade, outras agremiações que compõem o arco de sustentação política do governador João Azevêdo porque envolvem disputas nos municípios e discussões necessárias sobre viabilidade ou não de alianças. Esteja Gervásio Maia ou não na direção do PSB, o governador João Azevêdo não pode se eximir de participação direta no processo, quando nada como retribuição ao reconhecimento de que ele é o líder principal e tem influência sobre uma legião de políticos no território paraibano.