Nonato Guedes
O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo PL, aparentemente está conseguindo vencer resistências do deputado federal Cabo Gilberto Silva e do deputado estadual Walbber Virgolino e atraindo perspectivas de apoio à sua postulação por parte dos dois parlamentares. Em outra frente, Marcelo Queiroga dirige acenos reiterados ao pastor e ex-procurador Sérgio Queiroz, do Novo, que tem sido sugerido ora para vice do ex-ministro, ora para candidatar-se a uma cadeira na Câmara Municipal da Capital. O pastor Sérgio Queiroz impôs algumas condições, a exemplo de questões ligadas à pauta a ser encampada na campanha eleitoral deste ano, bem como condicionou uma resposta terminativa a consultas que pretende esgotar até o undécimo dia do prazo fatal para definições junto ao seu círculo familiar e a fiéis evangélicos que compartilham afinidades espirituais com ele.
As notícias em torno da suposta arregimentação de apoios por parte de Marcelo Queiroga são, decididamente, promissoras para o ex-ministro, que até então se mostrava isolado dentro do PL sem lograr furar a bolha formada por segmentos da direita conservadora na Paraíba e, principalmente, em João Pessoa. Ele era questionado pela falta de um maior diálogo com expoentes desses segmentos – houve oportunidades, mesmo, em que Marcelo Queiroga chegou a afirmar que faria o diálogo com o eleitor, o que pareceu um sinal de “soberba” de sua parte. Nos bastidores, o ex-ministro foi aconselhado a assumir uma postura mais diplomática ou, em outras palavras, a demonstrar “jogo de cintura” nas relações políticas para agregar e não para dispersar apoios que são encarados como valiosos para a estrutura de campanha. Em pesquisas informais que vazaram para a opinião pública, Marcelo Queiroga pontuou, sempre, em último lugar, abaixo de diversos nomes cogitados num universo que abrange a direita, o centro e a esquerda. Era uma posição insustentável e nada competitiva para um candidato que pretende entrar para valer no jogo político-eleitoral em João Pessoa, uma Capital a caminho de um milhão de habitantes.
Na verdade, o processo de indicação do nome do ex-ministro da Saúde para pré-candidato nas eleições da Capital paraibana foi conduzido, desde a largada, de cima para baixo, com rastros de influência de Queiroga na cúpula nacional, presidida por Valdemar Costa Neto, e junto ao próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a externar preferência pelo ex-auxiliar que enfrentou um fogo cruzado durante o enfrentamento à pandemia de covid-19, em virtude da própria filosofia negacionista sustentada pelo então mandatário, que brigou com as estatísticas e com a Ciência por muito tempo. Em termos de Paraíba, o ex-ministro garantiu-se junto à cúpula estadual do Partido Liberal, presidida pelo deputado federal Wellington Roberto, que, por sua vez, também tem ligações importantes em Brasília junto a figuras de destaque da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O aval de Bolsonaro e das cúpulas do PL, sem dúvida, foi decisivo para chancelar o nome de Queiroga, mas insuficiente para atrair reforços importantes ou fundamentais capazes de alavancá-lo no páreo contra o atual prefeito Cícero Lucena (PP), apoiado pelo governador João Azevêdo (PSB) e outros postulantes eventuais.
O deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino integravam um denominado “triunvirato”, integrado ainda pelo comunicador Nilvan Ferreira, que se tornou dissidente dentro do PL ao contestar a imposição, de cima para baixo, da pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a prefeito de João Pessoa. A força do agrupamento, em termos reais, “trincou” com a decisão tomada por Nilvan Ferreira de sair do páreo na Capital paraibana, preferindo concorrer à prefeitura de Santa Rita, por outro partido, a ser anunciado ainda – e que possivelmente será o Republicanos. Nilvan saiu atirando, especialmente contra as cúpulas estadual e nacional do PL, mas dizendo permanecer fiel às suas convicções, o que foi entendido como gesto de alinhamento continuado com as bandeiras bolsonaristas. O comunicador, que nas eleições de 2020 foi para o segundo turno no pleito de João Pessoa contra Cícero Lucena e que em 2022 ampliou sua visibilidade ao concorrer ao governo do Estado, encaminhava-se para um novo confronto com Cícero Lucena nas sondagens preliminares sobre intenções de voto.
Sua saída do páreo na Capital abriu uma lacuna profunda, sobretudo, entre os conservadores e remanescentes bolsonaristas, mesmo se mantendo em evidência a pré-candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga. O nome do deputado federal Cabo Gilberto Silva figurou como alternativa para substituir Nilvan na Capital – e ele se dispôs, mesmo, a ir para o sacrifício, sendo idêntica uma manifestação agitada pelo deputado estadual Walbber Virgolino. As intenções dos dois, entretanto, sempre foram encaradas como movimentos para “honrar a firma” perante o eleitorado, diante do grau de engajamento que eles assumiram em João Pessoa, cortejando diretamente o segmento bolsonarista remanescente. Em paralelo, o ex-ministro Marcelo Queiroga agiu no sentido de evitar tensões, como se estivesse pavimentando o terreno para uma conciliação com os então desafetos. Esse esforço, em tese, está dando resultados, no sentido de fazer as coisas evoluírem. Mas tudo ainda é muito incipiente, e a definição mesmo vai aguardar mais algum tempo, até a decantação das rusgas que porventura tenham ocasionado sequelas no bloco da direita conservadora.