Nonato Guedes
O comunicador Nilvan Ferreira deu a entender, nas últimas horas, que a reviravolta ocorrida em João Pessoa, com a reunificação havida no PL entre os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual) e o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pré-candidato a prefeito, não abala a sua estratégia de formar uma frente ampla para dar suporte à sua candidatura a prefeito de Santa Rita, envolvendo conversações com o próprio PSB do governador João Azevêdo, se este pretender apoiá-lo. O roteiro que Nilvan havia traçado, de filiar-se ao Republicanos do deputado federal Hugo Motta, que é da base de apoio a João Azevêdo, continua de pé. O comunicador não recusa um eventual apoio do PL à sua pretensão, mas isto não significará contrapartida de apoio a Marcelo Queiroga na Capital paraibana.
De sua parte, Ferreira pretende anunciar até agosto sua posição de apoio a candidatura em João Pessoa e o fará em mensagem dirigida ao seu eleitorado, que o sufragou na disputa de 2020 pela prefeitura, contribuindo para que ele fosse ao segundo turno contra Cícero Lucena, e que renovou o voto de confiança na campanha ao governo do Estado em 2022, onde encalhou no primeiro turno. Nota-se que a relação pessoal entre Nilvan e os deputados Gilberto Silva e Walbber Virgolino não está afetada, mas já não é mais incondicional em termos de alinhamento político porque agora existe, concretamente, conflito de interesses. Ferreira ainda guarda mágoas do processo de fritura a que foi submetido pelas direções estadual e nacional, presididas por Wellington Roberto e Valdemar Costa Neto, quanto à sua participação no páreo em João Pessoa, dentro da tática montada para favorecer a candidatura de Marcelo Queiroga. Isto o obrigou a migrar para Santa Rita, reduto que lhe pareceu convidativo em razão da votação expressiva alcançada na disputa ao governo em 2022 quando foi o candidato mais votado.
A verdade é que Nilvan não se considera mais um expoente das fileiras do PL porque, como já expressou em desabafo tornado público, sentiu que o partido faltou com ele num momento importante que era o registro, novamente, de sua candidatura a prefeito. A disputa na Capital em 2024 teria, para Ferreira, o simbolismo de uma revanche contra Cícero Lucena, que postula a reeleição e que o venceu na rodada decisiva há quase quatro anos. A entrada em cena do ex-ministro Marcelo Queiroga atrapalhou o cronograma pessoal de Nilvan, bem como a sua estratégia, obrigando-o a protagonizar uma guinada de 360 graus com a sua transferência para Santa Rita, facilitada por pesquisas informais apontando chances de favoritismo de uma virtual candidatura sua na terra dos canaviais. O comunicador foi compelido, também, a reformular táticas que vinha utilizando e que passavam a impressão de radicalismo político no diálogo com outras agremiações, o que contribuiu para seu isolamento na campanha a governador, tanto assim que a decisão ficou polarizada entre Pedro Cunha Lima (PSDB) pela oposição e o gestor-candidato à reeleição.
Interlocutores próximos do radialista revelam que os dois embates que enfrentou – e que reconhecidamente foram difíceis – amadureceram avaliações de Nilvan Ferreira acerca do cenário político-eleitoral, tanto em João Pessoa como na região metropolitana liderada pela Capital e, de resto, no mapa da Paraíba. Em meio às avaliações, ele processou autocrítica em torno dos eventuais erros de estratégia cometidos – um dos quais o distanciamento na relação com outros partidos políticos. Por isso é que se afirma que ele retornou à conjuntura política repaginado – senão ideologicamente, já que se mantém aferrado a bandeiras do conservadorismo de direita, pelo menos politicamente, adicionando variantes à sua própria análise sobre os rumos que teria pela frente, com a proximidade de mais uma disputa. A vocação política subsiste arraigada no perfil do ex-candidato Nilvan Ferreira, mas a trajetória tem experimentado correções de rota, consideradas indispensáveis para que ele possa avançar na conquista de territórios que favoreçam seu projeto de, finalmente, ter o exercício de um mandato político. Nilvan está mais focado nele, nas suas próprias ambições, sem perder de vista o compromisso com causas populares que é marca registrada da sua atuação como profissional da comunicação e, depois, da sua vivência no intrincado universo da política-partidária.
Em relação ao PL de João Pessoa, parece ter se voltado para seu próprio umbigo depois da defecção de Nilvan, com a migração para um outro reduto na região metropolitana. O ex-ministro Marcelo Queiroga, em especial, tem sido levado a fazer concessões para agregar apoios e tentar apagar a imagem de que buscou amparo das cúpulas nacional e estadual para ser imposto goela abaixo como candidato em João Pessoa. O deputado Cabo Gilberto, que havia sido defenestrado do comando municipal do partido em João Pessoa, retomou o posto, que era exercido por Marcelo Queiroga, estreitou relações com o ex-ministro e tem o nome de sua esposa cogitado para uma vice na hipótese de lançamento de chapa puro-sangue. Walbber Virgolino, por sua vez, recebeu garantias de reforço para uma campanha a prefeito na cidade de Cabedelo, que é objeto de desejo no seu cardápio de interesses imediatos. A pacificação desobriga os dois parlamentares de deixarem o partido de Bolsonaro, embora não seja garantia de que o partido avance para ganhar as eleições em João Pessoa.