Nonato Guedes
Em entrevistas concedidas, ontem, a emissoras de rádio, um dia após desistir de participar das prévias internas do PT e, até mesmo, de concorrer às eleições para prefeito de João Pessoa, o deputado estadual Luciano Cartaxo cobrou maturidade por parte da legenda quanto à sua situação na Paraíba, exemplificando que o PT tem apenas um prefeito (o de Picuí, no Curimataú) e 18 vereadores, e propôs que o debate seja ampliado sobre as alternativas de expansão da sigla. Ele justifica que a fase de declínio do petismo no Estado coincide com a nova ascensão do líder Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República e menciona que em outros Estados os expoentes do PT discutem saídas realistas e fazem concessões que julgam necessários para o fortalecimento do maior condomínio político de esquerda da América Latina.
Cartaxo, que desistiu das prévias em meio a uma troca de acusações com a deputada estadual Cida Ramos, que pretende concorrer à indicação para candidata a prefeita da Capital, continua não declarando apoio à parlamentar. O seu argumento, agora, é o de que vai esperar a oficialização da candidatura petista, dentro dos prazos legais, que podem se estender até agosto, e que de sua parte disporá de tempo para promover o debate interno a respeito da melhor solução para crescimento do PT. Ele alegou ter sido mal interpretado por alguns setores quando sugeriu o lançamento de uma candidatura competitiva em João Pessoa e, ao mesmo tempo, preparada para a abordagem dos grandes desafios que a população enfrenta. Assegura que, por trás dessas propostas, não havia nenhum propósito de desmerecer qualquer filiado ou qualquer filiada do PT, mas, sim, uma conclamação à reflexão sobre a trajetória que o Partido dos Trabalhadores tem desenvolvido na Paraíba nos últimos anos, a partir da avaliação de que não houve crescimento.
O deputado estadual, que retornou à Assembleia Legislativa ao ser eleito em 2022, após ter exercido dois mandatos consecutivos como prefeito de João Pessoa, observa que o lançamento do seu nome na disputa deste ano possibilitaria, concretamente, ao PT, uma comparação em termos administrativos com o atual gestor, Cícero Lucena (PP), que está no terceiro mandato na Capital paraibana. Disse que vinha se preparando para essa perspectiva, coligindo dados e informações sobre investimentos das suas gestões em setores estratégicos como o habitacional e o educacional em João Pessoa, e da mesma forma manifestou a convicção de que contribuiu mais, em dois mandatos, para o avanço dos índices de desenvolvimento da Capital do que a Era Cícero Lucena em três períodos. Tal oportunidade teria sido tolhida, entretanto, pela ação de segmentos ligados a movimentos do Partido dos Trabalhadores, que se empenharam em tentar denegri-lo, cobrando-lhe explicações de posturas passadas, “quando o importante é discutirmos, na conjuntura presente, o futuro de João Pessoa”. Nesse sentido, considera que o PT pode pagar um alto preço por equívocos eventualmente cometidos.
Luciano Cartaxo analisa que a convocação de prévia pelo Partido dos Trabalhadores para indicação de candidatura a prefeito em João Pessoa não anula ou inviabiliza a perspectiva de realização de pesquisas de opinião pública sobre intenções de votos – e entende, a propósito, que está havendo, dentro do PT paraibano, um sentimento de medo que não predominou em outros embates mais acirrados na sua trajetória. Citou uma fala do deputado estadual Hervázio Bezerra (PSB) na Assembleia Legislativa de que os socialistas teriam conhecimento de uma pesquisa apontando ele (Cartaxo) em segundo lugar nas preferências para o cotejo eleitoral, concorrendo contra o prefeito Cícero Lucena, que postula recondução apoiado pelo governador João Azevêdo. Para ele, o cenário dentro do Partido dos Trabalhadores na Capital paraibana, com referência à disputa das eleições de outubro, mantém-se em aberto mesmo com a tendência de homologação da pré-candidatura da deputada estadual Cida Ramos. Pelo que insinua, poderão eclodir fatos novos na própria conjuntura que levem a uma mudança de rota da agremiação petista sobre o melhor rumo a tomar para ganhar a prefeitura de João Pessoa.
Luciano Cartaxo não entrou em detalhes sobre os “fatos novos” a que se referiu, mas deixou claro que não faz parte desse roteiro uma volta sua ao páreo para indicação como candidato a prefeito de João Pessoa pelo PT. Também não confirmou rumores de que o ex-governador Ricardo Coutinho ou a ex-deputada Estelizabel Bezerra possam entrar nas cogitações da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores para representar as cores da legenda na disputa. A decisão de Cartaxo de permanecer no PT, mas sem apoiar, por enquanto, a pré-candidatura da sua antagonista, Cida Ramos, à prefeitura da Capital, deixou muitos petistas, ontem, com a pulga atrás da orelha, prevendo desdobramentos os mais distintos para o desfecho da controvérsia que, até agora, leva à falta de unidade dentro do Partido dos Trabalhadores.