Nonato Guedes
O cenário político para as eleições de outubro em João Pessoa apresenta-se bastante conturbado, à esquerda e à direita, já tendo registrado duas desistências importantes de candidaturas – a do comunicador Nilvan Ferreira, que migrou para Santa Rita e assinará ficha no Republicanos e a do deputado estadual Luciano Cartaxo, do PT, que era pré-candidato na legenda mas jogou a toalha e decidiu não participar da prévia interna com a deputada Cida Ramos. Há, ainda, a indefinição do pastor e procurador da Fazenda Nacional, Sérgio Queiroz, que se filiou ao “Novo” mas não cravou, ainda, a hipótese de uma candidatura. As reviravoltas anotadas tornam o quadro conturbado, agitando os meios políticos em todas as direções, mas não tiveram o condão, até agora, de desestabilizar a posição do prefeito Cícero Lucena (PP), que se move pelo centro, como candidato à reeleição, com o apoio do governador João Azevêdo.
Cícero tem como concorrentes declarados o ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga, que se impôs dentro do PL defenestrando a pretensão, que parecia sólida, de Nilvan Ferreira, e o deputado federal Ruy Carneiro, que, malgrado esteja enfrentando pendências judiciais, mantém-se no páreo pelo Podemos. Mas o atual prefeito evita colocar-se em “zona de conforto” no processo, consciente de que há desafios a serem ultrapassadas e etapas a serem queimadas até a plena consolidação da candidatura a um novo mandato. No círculo que gravita em torno de Lucena não há manifestações de triunfalismo, mas, sim, de otimismo cauteloso, até por causa do dinamismo com que acontecimentos fora do radar estão se sucedendo. Em relação a Nilvan, que em 2020 disputou o segundo turno contra Cícero, concorrendo pelo MDB, nem de longe havia a expectativa de que estivesse fora do páreo na Capital, dada a sua proclamada identificação com o bolsonarismo – e, no entanto, ele foi “rifado” inapelavelmente, por manobra da direção estadual do PL, que preferiu ceder a apelos de Bolsonaro e apostar no nome de Queiroga, até aqui um neófito na disputa política paraibana.
Já Luciano Cartaxo tinha uma enorme confiança em que seria ungido candidato do Partido dos Trabalhadores à prefeitura por consenso, sem a necessidade de prévias ou de pesquisas de opinião pública, diante do “recall” das duas administrações que empalmou até recentemente na prefeitura de João Pessoa e da existência de supostos levantamentos indicando posição de vantagem para ele no processo à vista. Essa convicção tornou-se tão arraigada junto a Cartaxo que ele insiste, ainda agora, na tese de que o partido apresente candidato com competitividade e, ao mesmo tempo, preparo para administrar os destinos da Capital. É, claramente, uma receita cabotina – Luciano Cartaxo considera-se mais forte, do ponto de vista da capilaridade eleitoral, e mais preparado do que a deputada Cida Ramos para debater os problemas que, a seu ver, não foram solucionados na administração de Cícero. O parlamentar abandonou o ringue deixando uma porta aberta, com insinuações à cúpula petista para rever o posicionamento e optar pela viabilidade eleitoral ao invés de partir para aventuras que poderão custar caro ao fortalecimento da agremiação, que está definhando a olhos vistos na Paraíba, controlando apenas uma prefeitura num universo de 223 municípios.
Cícero Lucena opera com habilidade para tentar tirar proveito das desistências anunciadas. Se não faz acenos diretamente aos ex-pré-candidatos sobre a possibilidade de apoio ao seu projeto de recondução, dirige-se aos eleitores de Nilvan Ferreira e de Luciano Cartaxo que, aparentemente, ficaram órfãos de opção no cenário da disputa para a prefeitura de João Pessoa. O atual prefeito ensaiou, mesmo, articulações para dialogar com Nilvan Ferreira, no sentido de ouvi-lo sobre propostas para a Capital paraibana, com a promessa de encampá-las na sua plataforma rumo a um segundo mandato. Na sequência, admitiu adotar sugestões que vinham sendo lançadas pelo deputado Luciano Cartaxo, com a experiência de quem administrou a Capital paraibana. Mas as tratativas não têm evoluído para a perspectiva de composição, com um ou com outro. Nilvan tem prometido que, apesar de ser candidato em Santa Rita, vai ter “lado” na disputa eleitoral em João Pessoa, mas faz suspense a respeito, jogando lá para agosto uma definição concreta. Luciano Cartaxo considera que o quadro ainda está em aberto e comporta reviravoltas, dentro da lógica que acomete outros setores de que a campanha, este ano, em João Pessoa, encaminha-se para virar um “carrossel” de emoções. Enquanto isso, o calendário corre, e nos bastidores são intensas as cobranças de correligionários por definições mais nítidas a fim de ser dada a largada.
Cabe ressaltar que as reviravoltas que têm pontuado o horizonte político-eleitoral em João Pessoa não foram produzidas – pelo menos até onde se sabe – por interferência ou ação direta ou indireta do grupo que está no entorno da candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, decorrendo mais de consequência de disputas internas em outras legendas, nas quais o prefeito não tem a menor ingerência. O desempenho de Cícero na corrida por um novo mandato foi mais lento nas “preliminares”, tanto em termos políticos como em termos de resposta administrativa para se contrapor a eventuais focos de desgaste. A administração chegou mesmo a suscitar temas polêmicos que seriam desgastantes para o próprio Cícero, convencido, finalmente, a retirá-los de pauta. A chapa permanece inalterada, com Cícero na cabeça e o vice-prefeito Leo Bezerra, do PSB, na mesma vaga. O que o esquema de Cícero pode oferecer, em termos de atrativo, é uma participação maior de aliados num eventual segundo mandato à frente da prefeitura de João Pessoa, o que enseja debates acirrados de bastidores. Por enquanto, o prefeito mantém favoritismo aparente, detectado em algumas pesquisas, feitas até por adversários, mas Cícero não se descuida da retaguarda e procura fugir de erros estratégicos que comprometam as suas chances de ser prefeito de João Pessoa pela quarta vez.