Nonato Guedes
O impasse no PT de João Pessoa sobre a definição de candidatura própria à prefeitura da Capital nas eleições de outubro ganhou mais um capítulo surpreendente, ontem, com a nota divulgada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador nacional do Grupo de Trabalho Eleitoral do Partido dos Trabalhadores, suspendendo o processo local de definição da tática e avocando uma discussão para o Diretório Nacional em reunião marcada para o próximo dia 26. O documento foi encaminhado ao presidente do diretório municipal, Marcos Túlio, que, ontem mesmo, desencadeou reuniões, envolvendo o presidente estadual, Jackson Macedo, e outros líderes petistas. Enquanto isso, o clima é de expectativa sobre a posição que, afinal, será tomada, bem como de muita especulação a respeito das dimensões da crise interna enfrentada pela agremiação.
As prévias estavam agendadas para o dia 07 de abril e o processo começou a desandar no início desta semana com o gesto do deputado estadual Luciano Cartaxo de desistir da sua participação e, até mesmo, de concorrer com a deputada estadual Cida Ramos, que internamente havia conseguido apoios da maioria dos integrantes de tendências petistas na Capital paraibana. Cartaxo pôs-se no aguardo de uma decisão superveniente, por parte da Executiva Nacional, a respeito do caso de João Pessoa, alegando que o processo estava sendo mal conduzido e sinalizava desigualdade, pela suspeita de favorecimento interno. Ao mesmo tempo, ele insistiu na tese de que o partido precisa lançar um candidato competitivo e ao mesmo tempo preparado para discutir os problemas da Capital, bem como os desafios futuros, desvendando um perfil que cabe nele, por ter sido prefeito duas vezes e estar na linha de frente da oposição ao prefeito Cícero Lucena, do PP, que postula a reeleição com o apoio do governador João Azevêdo (PSB). Cartaxo advertiu para a situação de definhamento da legenda em todo o Estado e bradou que era hora de lutar pelo protagonismo.
No ofício que expediu ao diretório municipal de João Pessoa, o senador Humberto Costa expressou: “Na condição de coordenador-geral do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) nacional do PT, após consulta à maioria dos integrantes daquele colegiado e diante da relevância do processo eleitoral em várias cidades do país para o projeto nacional do PT, entre as quais se inclui João Pessoa, encaminho à Direção Nacional do partido, com base na resolução CEN de 28 de setembro de 2023 que a tática eleitoral deste município seja discutida pelo Diretório Nacional em sua próxima reunião, a ser realizada no dia 26 de março do corrente. Em razão disso, solicito desde já a suspensão do respectivo processo local de definição de tática eleitoral até o posicionamento definitivo da instância nacional. Estamos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos”. Uma das especulações dá conta de que, por trás da decisão está, também, a sugestão para aliança do PT com o esquema do prefeito Cícero Lucena, visando a hipotecar-lhe apoio na disputa. Cícero tem reiterado acenos para entendimento com o PT, mas não abre mão da chapa já formada, que tem ele na cabeça e o atual vice-prefeito Leo Bezerra (PSB) para a reeleição.
Os apoiadores do deputado Luciano Cartaxo, de certa forma, empolgaram-se com a “intervenção” da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores no processo em João Pessoa, considerando que pode ter sido um sinal de reconhecimento da liderança do parlamentar e da sua competitividade para representar a legenda nas eleições. Depois de ter oficializado a sua desistência em meio a desentendimentos públicos com a deputada Cida Ramos – que se queixou, inclusive, de estar sendo vítima de violência política de gênero – o deputado e ex-prefeito de João Pessoa começou a operar intensamente nos bastidores, com gestões feitas diretamente junto à cúpula nacional, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, para que fosse dado outro destino ao processo de tática eleitoral na Capital paraibana. De sua parte, a deputada Cida Ramos dirigiu acenos de conciliação com Cartaxo, invocando o pretexto da unidade interna e admitiu, inclusive, oferecer ao parlamentar a coordenação da campanha do partido em João Pessoa. Luciano Cartaxo recusou, de bate-pronto, a oferta que a companheira de partido insinuou.
Há versões de que o ex-governador Ricardo Coutinho, um líder influente no Partido dos Trabalhadores, que está radicado em Brasília e tem linha direta com dirigentes do PT e interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem procurado operar para dar um rumo à legenda na Capital paraibana, evitando atrelamento ou subordinação à liderança do governador João Azevêdo, com quem Coutinho rompeu ainda nos primeiros meses do primeiro mandato. Ricardo tem promovido reuniões com correligionários petistas paraibanos, a exemplo da ex-deputada estadual Estelizabel Bezerra e da ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, e, no paralelo, infiltra-se, sorrateiramente, junto a gabinetes de figuras que têm peso na cúpula nacional petista. Para a imprensa, porém, o ex-governador tem evitado se pronunciar a respeito das suas intenções e análises da conjuntura local, tendo descartado, pelo menos uma vez, a hipótese de concorrer a prefeito ou a vereador em João Pessoa, como chegou a ser cogitado. Com a volta do quadro à estaca zero, a única certeza que se tem, dentro do PT, é a de que o martelo será batido, no final das contas, pela Direção Nacional, que mais uma vez tende a passar por cima das intermináveis disputas municipais, tal como aconteceu no pleito de 2020, em que venceu Cícero Lucena e o PT não foi, sequer, para o segundo turno.