Nonato Guedes
É indiscutível que o senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do Grupo Nacional de Tática Eleitoral do Partido dos Trabalhadores, mexeu num “vespeiro” dentro da legenda em alguns Estados, inclusive, na Paraíba, ao suspender a preparação de prévias já agendadas para a definição de candidaturas próprias a prefeito ou alianças com outros partidos em algumas Capitais. Em Curitiba, no Paraná, Humberto Costa interveio diretamente, cancelando uma reunião do diretório municipal prevista para 7 de abril. Em João Pessoa, Costa anunciou a suspensão de prévias convocadas para o dia 7 de abril, mas negou à imprensa paraibana que estivesse praticando uma intervenção. Na prática, ele amplificou a confusão nas hostes petistas. O presidente do diretório municipal, Marcos Túlio, anunciou que só poderá se posicionar depois de uma reunião do diretório nacional, convocada para o final deste mês, em Brasília.
Quem mais protestou, de forma veemente, foi a deputada estadual e professora universitária Cida Ramos, que já há algum tempo se lançou pré-candidata à indicação partidária, tendo como oponente o deputado estadual e ex-prefeito da Capital, Luciano Cartaxo. Cida arregimentou apoios importantes de filiados e militantes, enquanto Luciano preferiu fazer articulações de cúpula, junto a figuras eminentes e lideranças influentes, apresentando pesquisas em que supostamente aparece em vantagem e defendendo que o PT adote uma candidatura competitiva. Como parte da sua estratégia para “melar” o resultado de prévias internas, o deputado Luciano Cartaxo retirou-se oficialmente das prévias e chegou a anunciar desistência do projeto de concorrer à prefeitura de João Pessoa este ano. Na verdade, sua expectativa passou a ser a de mudança de rota por parte do PT pessoense, privilegiando seu nome, inclusive, com o argumento do “recall” obtido por duas gestões consecutivas que empalmou até recentemente na Capital paraibana.
A avaliação que se faz nos bastidores é de que Cida conseguiu se reforçar internamente mas não atuou para consolidar respaldo a nível de cúpula nacional, ignorando que esta tem, realmente, interesse nas futuras eleições, não somente para derrotar candidatos identificados com o bolsonarismo mas para ocupar espaços com vistas à disputa de 2026, quando o presidente Lula irá para a reeleição. A situação está sub-judice em outras Capitais estrategicamente mais importantes, pela densidade do eleitorado e posição geográfica privilegiada. Em Curitiba, a reunião cancelada decidiria se o PT teria uma candidatura própria à prefeitura ou se comporia numa chapa com a candidatura de Luciano Ducci, do Partido Socialista Brasileiro. De um lado, uma ala liderada pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) e pelo ex-governador Roberto Requião insiste na candidatura própria em Curitiba, inclusive angariando apoio entre os filiados. No outro extremo, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, manifesta preferência pelo apoio ao PSB, esperando reciprocidade da agremiação socialista em uma possível candidatura ao Senado, caso se confirme a cassação do mandato do senador Sergio Moro, do União Brasil-PR. Zeca Dirceu manifestou publicamente seu descontentamento com a intervenção, tendo, inclusive, publicado um vídeo nas redes sociais.
Em João Pessoa, ontem, a deputada Cida Ramos teve que se desdobrar em entrevistas para garantir que não é uma pré-candidata de aparência e para desmentir os rumores de que estaria a serviço do projeto de apoio do partido à candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP), à reeleição. A deputada enfatizou que não aceitará imposição de quem quer que seja e prometeu resistir até o último momento dentro do Partido dos Trabalhadores, justificando que está cumprindo as regras e os ritos estabelecidos pela direção nacional, em articulação com o próprio diretório municipal, a quem cabe coordenar o processo para o pleito de outubro. Cida Ramos voltou a questionar firmeza de posições do deputado Luciano Cartaxo, bem como a estratégia subterrânea que ele demonstra pôr em prática para viabilizar-se como o ungido á sucessão em João Pessoa. Lembrou a tradição democrática que caracteriza teoricamente o Partido dos Trabalhadores e a necessidade de serem respeitadas as regras do jogo, sob pena de amplificar-se o desgaste da própria legenda junto a segmentos influentes do eleitorado da Capital paraibana.
Nos meios políticos, há uma especulação de que a deputada Cida Ramos estaria tentando repetir o figurino do ex-deputado estadual Anísio Maia, que em 2020 manteve-se até o fim como candidato a prefeito pelo Partido dos Trabalhadores, mas foi oficialmente abandonado pelas cúpulas e pelos militantes, ficando num dos últimos lugares na disputa. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na época estava sem mandato, anunciou apoio à candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho, que concorria pelo PSB e que, igualmente, não logrou avançar para o segundo turno – que foi disputado entre Cícero Lucena e o comunicador Nilvan Ferreira, ex-PL. Agora, diz-se que Ricardo estaria sintonizado com Luciano Cartaxo na movimentação de bastidores para tentar viabilizar Luciano Cartaxo, dadas as supostas condições que este teria de avançar para a finalíssima este ano. De concreto, o PT repete sua jornada de discórdias e de entredevoramento, enquanto a cúpula nacional mobiliza-se para impor decisões que, no fundo, acabam fazendo estrago não só à imagem como às possibilidades de vitória do partido, na conquista do poder, que é o objetivo principal alardeado.