Nonato Guedes
Situado em posição de vantagem em João Pessoa, com a pré-candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, o esquema político liderado pelo governador João Azevêdo não conseguiu, ainda, equacionar impasses que dificultam uma vitória em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, onde o prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) buscará um segundo mandato com o apoio dos senadores Efraim Filho e Veneziano Vital do Rêgo (MDB). No esquema de João está posta, por enquanto, a pré-candidatura do secretário de Saúde do seu governo, Jhony Bezerra, pelo PSB, mas aliados de outros partidos, como o Republicanos, fustigam essa postulação, duvidando das suas chances. O exemplo mais enfático partiu do deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que insinuou que Jhony perderia a eleição, se fosse candidato, acrescentando que ele também correria o risco de não retornar à secretaria na hipótese de derrota.
No bloco dos Ribeiro, compartilhado entre a senadora Daniella (PSD), o vice-governador Lucas e o deputado federal Aguinaldo, do PP, nunca houve firmeza quanto a uma candidatura. Daniella, por um tempo, admitiu a possibilidade de ir para o sacrifício, mas não avançou passos concretos para se assumir como adversária de Bruno Cunha Lima. O governador João Azevêdo tem ampliado investimentos maciços do governo do Estado na Rainha da Borborema para se contrapor à gestão de Bruno e intensificado, mesmo, sua presença em eventos junto a aliados políticos. Nos bastidores, fez acenos ao ex-prefeito e atual deputado federal Romero Rodrigues (Podemos), bem como a expoentes de um denominado Fórum por Campina Grande, que agrega opositores da administração municipal. Mas os entendimentos não evoluem do ponto de vista das definições, o que dá a Bruno uma aura de favoritismo, embora, até o momento, ele não tenha conseguido sensibilizar Romero Rodrigues a anunciar publicamente apoio ao seu projeto de recandidatura. A briga entre Romero e Bruno é um capítulo à parte e tem levado eminências como o ex-senador Cássio Cunha Lima a atuar pela pacificação, mas tal perspectiva continua empacada e, de certo modo, atrasando as articulações do atual prefeito para assegurar a segunda gestão.
Em Campina, tanto quanto em João Pessoa, estão sendo jogados os dados não apenas para a eleição municipal deste ano mas para as eleições majoritárias de 2026, quando o governo João Azevêdo estará a caminho do fim. A importância estratégica da Rainha da Borborema promove a união de forças, em movimentos nem sempre sincronizados, na preparação para enfrentamentos nos embates maiores que virão. O senador Efraim Filho não esconde que se coloca, antecipadamente, como opção para disputar o governo do Estado e reforça uma aliança informal com o senador Veneziano Vital do Rêgo, que será candidato à reeleição com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas eleições municipais deste ano, em diferentes regiões do interior paraibano, MDB e União Brasil estão juntos, alternando posições de prefeito e vice em chapas geminadas para acumular forças e enfraquecer a base que dá lastro político ao governo de João Azevêdo. Os dois senadores não apenas atraem filiados como investem em manobras de divisionismo do esquema oficial, esperando beneficiar-se dessa estratégia bastante peculiar ao jogo político.
Com o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que foi candidato ao governo em 2022 e avançou para o segundo turno contra João Azevêdo afastado de maior envolvimento político e devotado a missões de consultoria na área da Educação, Veneziano e Efraim percorrem o território paraibano alargando espaços e investindo em composições que possam ser decisivas para captar adesões influentes, com retorno garantido no futuro à vista. No reverso da medalha, o Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, o PP do vice-governador Lucas Ribeiro e do deputado Aguinaldo e o PSB liderado pelo deputado federal Gervásio Maia traçam seus próprios roteiros, a partir de cidades importantes como as que estão no entorno de João Pessoa, ora se aproximando, ora se distanciando e até mesmo se enfrentando entre si para obter capilaridade. O Republicanos corteja abertamente tanto o governo do Estado como vaga no Senado Federal, depois de ter feito concessões no pleito de 2022 que reconduziu João Azevêdo ao Palácio da Redenção. O PSB tem dúvidas sobre uma candidatura do governador João Azevêdo a senador, mas é no nome dele que investe para sobreviver após a sua saída do governo. E os Ribeiro julgam-se cacifados porque estão na ante-sala do poder estadual, com Lucas na vice-governança, depois de vencidas resistências que impediam a concretização de uma aliança mais sólida. Todos querem o poder e se preparam para ele como quem se prepara para uma guerra.
Em meio a esse cenário conflagrado, o governador João Azevêdo opera como “algodão entre cristais”, tentando conciliar forças que estão na sua base mas que não rezam pela mesma cartilha. Nesse sentido, o chefe do Executivo vem administrando soluções de candidaturas em alguns municípios, mesmo ao custo de contrariar interesses de alguns aliados. Há uma busca permanente e desgastante pelo equilibrismo, diante do choque de interesses e do afloramento de vaidades por parte de dirigentes, parlamentares e expoentes da cena política estadual, mas João Azevêdo tem demonstrado que faz escolhas mesmo que sejam desgastantes. Afinal de contas, acima dos interesses particulares, está em jogo a sobrevivência de um esquema de poder que remonta às eleições de 2018, uma espécie de marco no calendário eleitoral paraibano, com reviravoltas até então inimagináveis. Do resultado das eleições municipais deste ano dependerá o desenho do quadro para 2026, que marcará época na conjuntura pelos novos contornos que poderá imprimir à realidade política paraibana.