Nonato Guedes
A demorada reunião ministerial de ontem, conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se deu em cima da queda de popularidade do mandatário apontada em pesquisas recentes, da Atlas Intel e do Datafolha. Lula decidiu, então, cobrar resultados mais concretos – o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) chegou a pedir “mais entusiasmo” a um dos ministros na exposição de ações governamentais. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, admitiu que o presidente não está bem na foto, mas ponderou que é preciso ver o filme como um todo. “Tem uma fotografia que mostra uma oscilação em alguns segmentos que são importantes, que deram a vitória ao presidente Lula. E outros segmentos que a gente tinha ampliado o diálogo no passado, ampliado a aprovação, e, agora, tem uma redução”, disse Padilha, complementando: “É preciso olhar essa fotografia com cuidado, com atenção, não negar que ela existe, mas sem perder o filme como um todo”.
Na opinião do ministro, o filme do governo é de um governo “que reduziu o desemprego, alcançou taxas de crescimento que ninguém achava que ia ter, controlou a inflação, recriou políticas sociais”. Em evento no Rio Grande do Sul, na sexta-feira, 15, o presidente da República afirmou que tinha consciência de que não estava cumprindo aquilo que prometeu durante a campanha de2022, mas só porque aquilo que “plantou” em 2023 ainda não deu resultado. Na avaliação de alguns analistas da mídia, o presidente, embora não se enxergue como culpado, chamou os seus 38 ministros para tentar reagir à queda da popularidade. É um sinal positivo, no sentido de que demonstra o reconhecimento da necessidade de ações mais efetivas, cujos reflexos sejam perceptíveis a olho nu e cuja repercussão na opinião pública seja flagrantemente favorável. A verdade é que o terceiro governo Lula vem perdendo apoios porque não consegue passar a ideia de que está promovendo transformações na vida da população brasileira.
Os aliados do petista ventilam na imprensa que faltam acenos ao eleitorado conservador e de centro, já que, apesar de ter feito uma campanha autoproclamada de “frente ampla”, Lula optou por repetir em grande parte seus primeiros governos, tanto nos discursos quanto na administração intervencionista de estatais, por exemplo. O jornal “O Globo” chegou a informar que Lula, contudo, preferia enxergar culpa até no Supremo Tribunal Federal antes de se olhar no espelho. Registrou o jornal: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a ministros do Supremo Tribunal Federal insatisfação com ações analisadas pela Corte que tratam da pauta de costumes. Ele avalia que o julgamento de temas que provocam controvérsia na sociedade, como a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal e do aborto, levam desgaste para o governo”. O ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, declarou, ontem, que os números “falam por si só e são expressivos”, referindo-se a índices do Bolsa Família, do desemprego e do salário mínimo. O governo tem comemorado, ainda, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Lula queixou-se, na reunião, do pessimismo que, segundo ele, é vendido por muitas vezes através de determinados editoriais, ou através de determinados meios de comunicação. Para ele, o governo avançou muito, em 13 meses de mandato e “se as pessoas não falam bem da gente ou bem das coisas que a gente faz, nós é que temos que falar”.
Foi a primeira reunião ministerial de 2024 – a última havia sido em 20 de dezembro de 2023. A aprovação ao governo, no período recente, tem flutuado perto dos 50%, o que não é uma taxa ruim, segundo os analistas, embora não avance sobre os votos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve quando foi eleito em outubro de 2022. O problema é o aumento acentuado da taxa de rejeição ao governo, agora em 45% na média ponderada das pesquisas, como revela o “Poder360”. O balanço da Casa Civil que procurou sistematizar as indicações de obras e serviços dos ministérios do governo de Lula mostrou índices de crescimento de pessoas do Bolsa Família, redução do desemprego e aumento do salário mínimo. Os recortes são de 2017 até 2023, destacam ações da administração petista e não apontam problemas. Ministros e interlocutores do presidente da República, em declarações à imprensa, minimizaram tanto a queda na popularidade quanto a cobrança da mídia por uma ofensiva mais proativa da atual administração federal, mas essa orquestração, por si só, é insuficiente para debelar manifestações de inconformismo ou bolsões de insatisfação dentro da sociedade que Lula administra.
Nota-se que houve um empenho do presidente Lula para evitar aprofundar a autocrítica ao ponto de admitir “problemas de comunicação”, sempre invocados em outros governos como “bode expiatório” quando balançava a popularidade do governo. É possível que alguns “sócios da governabilidade” de Lula, filiados a outros partidos, não estejam dando, nos seus Estados, o devido crédito ao governo federal por realizações que são carreadas ou por entregas que estão sendo feitas. O governo tem sido prejudicado, também, pela ausência de uma maioria segura no Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos Deputados, tendo que recorrer sistematicamente ao próprio “Centrão” para viabilizar iniciativas que encaminha para o Parlamento. Para além de todas as análises, do governo ou da oposição, o fato é que a população cobra resultados – revivendo as promessas alardeadas na campanha de 2022 em que Lula derrotou Jair Bolsonaro. Não é a mídia que é pessimista. É o governo que está demorando a mostrar os frutos das “jabuticabas” a que aludiu o presidente Luiz Inácio Lula na reunião ministerial. O presidente pode não querer dar o braço a torcer, mas a convocação da reunião ministerial resumiu tudo. Ele “acordou” para a realidade de mostrar serviço, muito além de embarcar na onda da polarização política que persiste no país.