Nonato Guedes
Com outros partidos políticos, inclusive da base governista, envolvidos em articulações, entendimentos ou composições para vencer as eleições municipais de outubro, o PSB da Paraíba decidiu recorrer a uma trégua nas desavenças que vinham opondo seguidores do governador João Azevêdo e liderados do deputado federal Gervásio Maia, que preside o diretório regional do partido. Com o aval do presidente nacional socialista, Carlos Siqueira, o chefe do Executivo e o parlamentar consensuaram em tomar decisões conjuntas sobre cenários eleitorais em municípios do interior, inclusive, abonando fichas de filiação de pré-candidatos a prefeito e de prefeitos que buscam a reeleição. O gesto foi um corolário da estratégia para fortalecimento do PSB, dentro da perspectiva de que as eleições deste ano influenciarão fortemente as eleições de 2026 e o PSB precisa ter garantias de sobrevivência para o projeto de poder empalmado atualmente por João Azevêdo, desde a sua primeira eleição, em 2018.
O deputado estadual Hervázio Bezerra, que acompanhou algumas das filiações, destacou que o clima de unidade voltou a prevalecer nas hostes socialistas paraibanas e que isto é fundamental para motivar lideranças políticas a se engajarem no compromisso com o crescimento da legenda e a atração de quadros competitivos para disputas eleitorais. Como reconheceu Hervázio, havia uma situação de instabilidade pairando sobre o futuro da agremiação, com reflexos negativos ou preocupantes sobre o estado psicológico de filiados e de militantes. E, por outro lado, havia, mesmo, conflitos em algumas localidades, opondo os grupos do chefe do Executivo aos do deputado Gervásio Maia, tornando a convivência insustentável. Nos bastidores, houve insinuações de que estaria em curso um processo de debandada em massa nas fileiras do PSB paraibano, desmoronando-se, por via de consequência, todo um paciente trabalho de fortalecimento que foi empreendido ao tempo em que o governador ganhou a queda de braço com o antecessor, Ricardo Coutinho, pelo controle da sigla. Enquanto isso, partidos que estão na órbita, como Republicanos, PP, PSD acharam campo para ampliar seus tentáculos, encetando ofensivas com vistas a neutralizar siglas da oposição, como o União Brasil e MDB, que têm promovido verdadeiras táticas para atrair quadros importantes.
Note-se que da parte da direção nacional do PSB parecia haver uma apatia ou uma tática deliberada de não interferir nos problemas internos do partido na Paraíba, nem mesmo quando eles se avolumaram e sinalizaram para a ameaça de defecções. Se houve ações conciliatórias, elas foram levadas a efeito nos esconsos ou nos bastidores, o que seria parte de uma manobra para não publicizar nem ampliar a repercussão de conflitos tidos como contornáveis. Cioso da importância do cargo que exerce, o governador João Azevêdo minimizou o quanto pôde a extensão de divergências que acabaram vindo a público através da mídia e, ao mesmo tempo, operou no sentido de minar as pressões para que aceitasse assumir o comando efetivo da legenda, ou seja, a presidência do diretório regional no Estado. Essa hipótese agitada pelos liderados do governador seria viável no curto prazo, diante do término iminente de mandatos de dirigentes encastelados na Executiva estadual – mas nem por isso o chefe do Executivo estimulou movimentos mais fortes na direção do confronto ou da fixação de disputas pelo poder, dando tempo ao tempo para que os ânimos exaltados se acalmassem.
Versões dão conta de que, sob o beneplácito do presidente nacional Carlos Siqueira, está decidido que o deputado federal Gervásio Maia conduzirá os destinos do Partido Socialista Brasileiro durante a campanha eleitoral, numa operação preventiva para evitar atropelos em inúmeras agendas definidas que já estão cravadas em diferentes municípios e regiões do território paraibano. Estaria reservada para o governador João Azevêdo, no pós-eleitoral, a oportunidade de exercer cargo de direção, pela necessidade de dialogar com outros interlocutores da sua base de apoio com vistas a definições mais importantes para a agremiação socialista, envolvendo a manutenção do governo do Estado em 2026. Esta seria a fórmula salomônica discutida e aceita nos debates internos para evitar dissidências ou sangrias nas hostes socialistas paraibanas e preservar espaços considerados vitais para as composições que serão tecidas para as eleições gerais de 2026, em que se incluirá a própria disputa à Presidência da República, com movimentos antecipados dentro do PT pela reeleição do líder Luiz Inácio Lula da Silva, conforme apregoado recentemente pelo ex-ministro José Dirceu em convescote de que participou com petistas históricos.
Em última análise, está em jogo o próprio futuro do governador João Azevêdo na conjuntura política paraibana. Hoje, há uma convicção entre expoentes da sua base de que ele cresceu em estatura nas eleições de que participou ao Executivo Estadual, bem como a constatação de que, dentro do seu esquema, detém potencial de liderança indiscutível ou inquestionável. Esta é a opinião transmitida, por várias vezes, pelo deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que é uma espécie de “eminência” da política paraibana e, às vezes, de consciência crítica do próprio governador João Azevêdo sobre o perfil que tem personificado na cena política da Paraíba. O governador mantém-se como pule de dez para concorrer a uma vaga ao Senado e, desse posto, liderar as eleições de 2026 dentro do seu agrupamento. Mas precisará ter em vista que poderá ser um comandante sem a caneta, pela obrigação de se desincompatibilizar do cargo. Na prática, o PSB tem que preparar estratégia infalível com antecedência para assegurar que não foi meteórica a sua passagem ou influência pelo xadrez político-partidário no Estado da Paraíba.