Nonato Guedes
Na visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a João Pessoa, entre os dias 12 e 13 de abril, o comunicador Nilvan Ferreira já sinalizará seu distanciamento daquele que foi seu guru político quando disputou, sobretudo, o governo da Paraíba em 2022. Nilvan não cumprirá agenda junto com o ex-mandatário, que na verdade virá tentar fortalecer a pré-candidatura do médico Marcelo Queiroga, seu ex-ministro da Saúde, à sucessão de Cícero Lucena na Capital. Nos últimos dias Bolsonaro entrou no circuito para estimular um entendimento entre o pastor e procurador Sérgio Queiroz, do Partido Novo, e o ex-ministro Queiroga. Não há definição sobre possível indicação de Queiroz a vice-prefeito na chapa de Queiroga, mas o pastor confirmou seu interesse em dialogar com o ex-ministro sobre pautas convergentes que teoricamente os tornam alinhados na conjuntura política local para as eleições vindouras.
No que diz respeito ao radialista Nilvan Ferreira ele está, como se diz, em outra “vibe”, repaginado para converter-se num candidato de frente ampla na cidade de Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa, onde concorrerá pelo Republicanos presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que integra a base de apoio ao governador João Azevêdo, do PSB. O apoio oficial do PSB à pré-candidatura de Nilvan não está sacramentado e até agora o que tem havido é a manifestação individual de apoio a ele por parte de líderes votados na terra dos canaviais como o deputado estadual Hervázio Bezerra, pai do vice-prefeito de João Pessoa, Leo Bezerra. Mas o governador João Azevêdo, que disputou contra Nilvan em 2022 e perdeu para a oposição em redutos estratégicos da grande João Pessoa, já fez acenos de abertura ao diálogo com o radialista, embora sem precipitar posição da legenda, diante de acertos que precisariam ser feitos para viabilizar uma aproximação. Nilvan foi crítico ferrenho de João na campanha, juntamente com Pedro Cunha Lima e Veneziano Vital do Rêgo, mas tem flexibilizado sua postura em nome da meta de sobrevivência política, agora em Santa Rita.
Independente de concretizar ou não uma aliança com o esquema liderado pelo governador João Azevêdo, o radialista Nilvan Ferreira é consciente de que apenas um “mantra” lhe interessa nas eleições deste ano: “vencer ou vencer”. Em pouco tempo de militância política, ele acumula duas derrotas consecutivas em eleições majoritárias importantes – como a de prefeito de João Pessoa em 2020 e a de governador do Estado em 2022. É certo que ele alcançou votações expressivas, principalmente no páreo pela prefeitura da Capital, quando avançou para o segundo turno, destronando “condestáveis” políticos como o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) e polarizou a finalíssima contra Cícero Lucena. Em 2022, a performance como candidato a governador não foi a esperada pelos analistas políticos, que anotaram um declínio no percentual de votos atribuídos ao “fenômeno bolsonarista” de dois anos atrás, mas de qualquer forma o polêmico comunicador saiu cacifado para outros embates, de que é exemplo o fato de estar credenciado, este ano, à disputa municipal em Santa Rita.
A visita próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro significará um divisor de águas na trajetória política de Nilvan Ferreira e nos contornos da realidade local. Por honra da firma, ou por estratégia para tentar manter a coerência, Nilvan tem reiterado que se mantém fiel a princípios e bandeiras que agitou no passado recente e que constituíram, por assim dizer, a narrativa principal do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos seus apoiadores disseminados por diferentes regiões do território nacional. Essa reiteração de Nilvan é interpretada como uma forma de dizer que ele continua plenamente identificado com as pautas da direita conservadora, sobretudo em relação aos costumes, diante de temas polêmicos que estão mobilizando discussões no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal como a legalização do aborto ou a descriminalização do consumo e posse de drogas. Mas Ferreira está focado, mesmo, na agenda específica de Santa Rita, com as demandas urgentes da população e os desafios que lhe caberá enfrentar, na hipótese de vir a ser eleito sucessor do atual prefeito Emerson Panta, do Partido Progressistas. O radialista de Cajazeiras que se projetou politicamente na Capital não está interessado, nem de longe, em nacionalizar temas da sua campanha na cidade da Grande João Pessoa, concentrando-se na radiografia local, que pode, isto sim, lhe render votos nas urnas.
Já o ex-ministro Marcelo Queiroga demonstra que está tendo surpreendente habilidade política para promover costuras que resultem em reforço para sua pré-candidatura a prefeito de João Pessoa. De certa forma, reunificou o PL, assegurando permanência dos deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual). Ao primeiro, devolveu o comando do diretório municipal na Capital e ainda o “promoveu” a coordenador de campanhas da legenda em municípios da região metropolitana pessoense. Já Walbber foi contemplado com o comando do diretório municipal do PL em Cabedelo, o que lhe garante, pelo menos, condições para viabilizar uma candidatura a prefeito na cidade portuária. O próximo passo de Queiroga é atrair o pastor Sérgio Queiroz para uma coligação – e, nesse sentido, tem recorrido a um cabo eleitoral de peso exponencial, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve o pastor e o médico como auxiliares de relevo no único mandato que empalmou na história administrativa brasileira. É este o enredo que está se montando para retirar Queiroga da zona de desconforto em que se encontra, com baixa citação em pesquisas de opinião pública. O ex-ministro está perto de obter o crachá de candidato da direita conservadora em João Pessoa, mas precisará provar que tem densidade ou capilaridade eleitoral para interferir no andamento da campanha e para demonstrar competitividade real e não fantasiosa num páreo em que o prefeito Cícero Lucena ainda nada de braçadas.