Nonato Guedes
Presidente do Republicanos na Paraíba, o deputado federal Hugo Motta tem aproveitado a reta decisiva de filiações visando as eleições municipais deste ano para se cacifar rumo à estação 2026, quando o partido espera assumir posição de protagonismo na conjuntura estadual. Em 2022, como se sabe, o Republicanos abriu mão de reivindicar espaços em chapas majoritárias, tanto no bloco governista quanto no esquema de oposição, preferindo lutar por espaços na gestão de João Azevêdo (PSB), cuja reeleição apoiou, bem como pela manutenção do deputado Adriano Galdino na presidência da Assembleia Legislativa. Para o Senado, na eleição passada, o Republicanos manteve o compromisso de apoio à candidatura de Efraim Filho (União Brasil) ao Senado, preferindo evitar quebrar a palavra dada. Essa fórmula salomônica foi aceita tanto pelo governador João Azevêdo como pelo então deputado Efraim Filho, que apoiou Pedro Cunha Lima (PSDB) ao Executivo.
Mais do que afirmar, o deputado Hugo Motta tem assegurado a autonomia do Republicanos na realidade política paraibana como condição indispensável para o seu fortalecimento e a ocupação de espaços de poder. Ele está convicto de que a vez do partido que preside será em 2026, com oportunidades de concorrer tanto ao governo do Estado como ao Senado (ao qual estarão disponíveis duas cadeiras). Evidente que o Republicanos vai competir com agremiações que, atualmente, situam-se na base de apoio ao governo João Azevêdo, como o Progressistas do vice-governador Lucas Ribeiro e do deputado federal Aguinaldo e o próprio PSB, presidido pelo deputado federal Gervásio Maia e que tem o atual chefe do Executivo como filiado mais ilustre. Nesse pacote destaca-se, ainda, o PSD da senadora Daniella Ribeiro. Em outra frente, deverão estar juntos partidos como o União Brasil do senador Efraim Filho, o MDB do senador Veneziano Vital do Rêgo, o PSDB do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, todos empenhados em derrotar a hegemonia do esquema de João Azevêdo.
Na análise fria da conjuntura, o deputado Hugo Motta considera que o Republicanos tem competitividade para as eleições de 2026, devendo reforçar a sua capilaridade a partir de vitórias que forem garantidas no pleito deste ano para prefeituras municipais. Algumas das filiações arrebanhadas na ofensiva com outros partidos exemplificam a disposição de luta do PR, como a atração do comunicador Nilvan Ferreira (ex-PL) para ser candidato a prefeito em Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa, depois que ficou inviabilizada a candidatura dele a prefeito da Capital, onde o Republicanos vai se coligar com a candidatura de Cícero Lucena (PP) à reeleição. Mas a aposta em Nilvan leva em conta o reflexo colateral que isto poderá ter em outras regiões do interior do Estado, facilitando um certo tropismo em demanda à legenda e tornando-a receptiva perante segmentos do eleitorado que estão às voltas com o desafio de se definir por uma miríade de agremiações que gravitam na cena presente. Não é demais recordar que Nilvan, antes de se filiar ao PR, foi sondado por legendas como o União Brasil, reconhecendo o potencial que ele deve acrescentar nas eleições vindouras.
No plano nacional, o Republicanos tem apoiado matérias de interesse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados, consideradas consensuais e imprescindíveis para o desenvolvimento econômico e social do país. Mas o partido tem adotado linha de independência ou de posição crítica em relação a projetos ou matérias ligadas aos costumes, que provocam controvérsias intermináveis, como a questão do aborto, da liberação de drogas e da proibição de “saidinha” de presos recolhidos ao sistema carcerário brasileiro. O deputado Hugo Motta explica que essa independência é fundamental para manter a identidade do partido no contexto do sistema político-partidário brasileiro, em que há uma verdadeira guerra pela preservação ou ampliação das posições até agora conquistadas. No capítulo da reforma tributária, que na Câmara dos Deputados foi relatada por um paraibano, o deputado Aguinaldo Ribeiro, do PP, o Republicanos posicionou-se favoravelmente, por entender que se tratava de uma demanda pleiteada por representantes do setor produtivo e que teria plenas condições de carrear benefícios para o povo brasileiro como um todo, mediante transição gradativa na sistemática de impostos que é adotada atualmente. “O partido quer estar sintonizado, sempre, com a sociedade”, avalia o deputado Hugo Motta.
Quanto à trajetória política do parlamentar-presidente do Republicanos na Paraíba, é fora de dúvidas que ele constitui o nome mais forte da legenda, tanto para disputar a sucessão de João Azevêdo no Palácio da Redenção como para concorrer a uma das vagas ao Senado pelo esquema oficial. Hugo Motta chegou a ser lançado como integrante de uma chapa que teoricamente apresentaria o vice-governador Lucas Ribeiro na cabeça, tendo ele e o governador João Azevêdo como postulantes ao Senado. Há dúvidas sobre se esta chapa chegará intacta até 2026. O PSB dá sinais de que começa a se movimentar para tentar indicar candidato à sucessão de João Azevêdo, sendo mais cogitado o nome do secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos, Deusdete Queiroga, que é uma espécie de “eminência” da atual administração. Se esse movimento evoluir, poderá haver um choque lá na frente envolvendo PSB-PP, com isto abrindo-se espaço para a atuação do Republicanos mediante estratégia do deputado federal Hugo Motta. São alternativas que, como se diz, estão no radar, à espera de amadurecimento e da evolução dos fatos. Mas, por via das dúvidas, os partidos da base de João Azevêdo começam a preparar suas munições para os embates futuros.