Nonato Guedes
Os deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos, do Partido dos Trabalhadores, empreendem um derradeiro esforço na cruzada para levar o PT a lançar candidatura própria à prefeitura de João Pessoa nas próximas eleições, evitando assumir o papel de “coadjuvante” no processo. Embora sejam concorrentes e disputem a mesma vaga, os dois parlamentares tentam sensibilizar a cúpula nacional a levar em conta um momento especial na vida do partido, que seria a coincidência com o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ensejando expectativas de fortalecimento da agremiação, até como estratégia para robustecer os quadros com vistas a embates futuros, como o da própria candidatura de Lula à reeleição. Foi o presidente da República, aliás, que em recente discurso conclamou os petistas a reatarem canais de interlocução com movimentos sociais e com segmentos da sociedade civil organizada, na perspectiva de reforçar a representatividade no cenário político-partidário nacional.
Na atual conjuntura, o PT de João Pessoa enfrenta impasses aparentemente incontornáveis, como consequência do clima autofágico que predomina no âmbito da legenda, tendo como pano de fundo a discussão da participação no pleito à prefeitura da Capital. O calendário que havia sido deflagrado pelo diretório municipal, renovado com a ascensão do advogado Marcos Túlio à presidência, foi atropelado por uma espécie de intervenção – que é negada – pelo Grupo de Trabalho de Tática Eleitoral, coordenado pelo senador Humberto Costa (PE), que tomou a decisão abrupta de suspender a realização de prévias internas depois que o deputado Luciano Cartaxo delas se retirou, insinuando parcialidade na condução do roteiro. A deputada Cida Ramos, obstinada e lastreada pelo apoio de expoentes de tendências majoritárias do PT local, manteve-se firme no páreo, mas a configuração de uma candidatura única destoou de critérios estabelecidos pela direção nacional, que, então, entrou em campo. Esta semana, a Executiva presidida por Gleisi Hoffmann cancelou, de forma terminativa, a realização das prévias, deixando órfã, sobretudo, a pré-candidatura de Cida Ramos.
Os movimentos ensaiados a partir de Brasília, de certa forma, enfraqueceram ou tornaram vulnerável o Partido dos Trabalhadores na Capital paraibana, provocando mobilização de dois grupos distintos para atrair o apoio do PT a candidaturas distintas. A pressão passou a ser exercida junto à cúpula petista pelo grupo do governador João Azevêdo (PSB) com vistas a assegurar o apoio à pré-candidatura do atual prefeito Cícero Lucena (Progressistas) à reeleição, e, do outro lado, pelo grupo liderado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que tenta arrastar os petistas para apoiarem a pré-candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos. A candidatura de Ruy Carneiro agregou nas últimas horas os apoios do senador Efraim Filho, do União Brasil, do próprio Veneziano e do ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, que concorreu ao governo do Estado pelo PSDB em 2022 e duelou com João Azevêdo no segundo turno. MDB, União Brasil e PSDB optaram por não lançar candidatos próprios a prefeito na Capital, por não terem forjado nomes competitivos para a disputa, colocando-se, desta forma, a reboque da pré-candidatura de Ruy, a despeito de problemas judiciais que enfrenta.
A previsão é de que até o começo de abril a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores resolva, em definitivo, o impasse que se verifica em João Pessoa, conjuntamente com a solução de impasses em outras Capitais, onde o quadro é idêntico, com divisões internas, questionamento sobre lançamento de candidaturas próprias e sinalização para apoio a pretendentes de outros partidos, mediante aliança. Enquanto a definição permanece em “banho-Maria”, os grupos interessados na eleição municipal em João Pessoa mantêm-se ativos na guerra de guerrilha para sensibilizar expoentes da cúpula petista. O deputado federal Luiz Couto abalou-se a ocupar a tribuna da Câmara Federal para fazer a apologia das “virtudes” da candidatura de Luciano Cartaxo como capaz de levar o Partido dos Trabalhadores a um papel de destaque em João Pessoa, avançando para o segundo turno, contra o prefeito Cícero Lucena, que a dados de hoje é favorito. Já a deputada Cida Ramos contrapôs à tal ofensiva a divulgação de um manifesto com assinaturas expressivas reafirmando a identidade de sua postulação com os princípios agitados pela agremiação petista na Capital paraibana.
Nos meios políticos fora do território petista, a avaliação que se faz é de que o Partido dos Trabalhadores sairá inevitavelmente “rachado” da contenda entre grupos a pretexto das eleições municipais na Capital. A disposição, tanto de Luciano Cartaxo como de Cida Ramos, é a do confronto até o fim, esgotando internamente as discussões sobre escolhas apropriadas e promovendo, parcialmente, um debate que, a rigor, deveria ter sido pautado no curso do processo democrático que se alardeou com a convocação de prévias para apresentação de propostas e de compromissos em relação aos ideais e ambições da legenda no Estado da Paraíba. Não há ameaças nem indícios, tanto de Luciano Cartaxo quanto de Cida Ramos, em relação à desfiliação do PT na hipótese de derrota no processo final. Mas também não há garantia de compromisso de união e engajamento por candidatura, seja ela qual for, o que traduz a intensidade da cisão que corrói as hostes petistas e levanta dúvidas sobre a própria participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral deste ano em João Pessoa.