Nonato Guedes
Uma reportagem do UOL revela que o PSDB, atualmente presidido pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, enfrenta uma das piores crises da sua história, perdendo quadros para o bolsonarismo e ao mesmo tempo sofrendo com a escassez de candidatos para as próximas eleições municipais. O PSDB irá às urnas em 2024 com um número menor de candidaturas próprias nas Capitais, numa comparação com o pleito anterior, depois da crise que levou à saída de lideranças. Em alguns casos, os tucanos migraram para partidos que fazem parte da base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na Paraíba, a legenda passou a ser presidida pelo deputado estadual Fábio Ramalho, que sucedeu ao ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, mas não avançou no processo de reestruturação. Nos dois maiores colégios eleitorais do Estado, João Pessoa e Campina Grande, o PSDB não terá candidatos próprios a prefeito, vindo a reboque de outras candidaturas.
Em João Pessoa, o candidato apoiado pelos tucanos é um ex-tucano – o deputado federal Ruy Carneiro, que optou por se filiar ao Podemos para sobreviver politicamente e que atraiu adesões, também, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e do senador Efraim Filho, presidente do União Brasil. Em Campina Grande, o PSDB apoiará a candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima à reeleição, que estava filiado ao PSD, presidido pela senadora Daniella Ribeiro, aliada do governador João Azevêdo. Bruno, recentemente, filiou-se ao União Brasil em meio ao compromisso do senador Efraim Filho de que ele tem segurança para disputar um novo mandato e que será prestigiado à altura da sua importância no cenário político estadual. Fábio Ramalho, ao se investir no comando da agremiação, prometeu lutar pelo fortalecimento do PSDB, mas deparou-se com um campo minado por outras legendas, que têm sido mais diligentes na conquista de adesões ou na atração de quadros, a exemplo do MDB de Veneziano. O próprio ex-deputado Pedro Cunha Lima, que foi bem votado na Grande João Pessoa e que disputou o segundo turno ao governo do Estado, está mais focado em consultoria na Educação pela Unesco do que na campanha eleitoral deste ano, comparecendo esporadicamente a eventos políticos, embora tenha planos e ambições para 2026.
O presidente nacional Marconi Perillo afirmou ao UOL que o PSDB deve ser cabeça de chapa em “oito a dez” das 26 Capitais – um percentual ínfimo para uma legenda que por vários anos polarizou o cenário político com o Partido dos Trabalhadores, inclusive, em embates à Presidência da República. O ex-governador de Goiás já visitou 19 Estados para filiar políticos e estimular o lançamento de candidaturas em cidades consideradas estratégicas. “Nós estamos cuidando de reestruturar o partido e de buscar candidaturas que possam garantir um número razoável de prefeituras nessas eleições”, frisou o ex-governador de Goiás. O objetivo é pavimentar o caminho para que o partido construa uma candidatura à Presidência em 2026. Nas eleições de 2020, a legenda lançou candidatos em doze Capitais e ganhou em quatro: São Paulo, Natal, Palmas e Porto Velho. Em 2016 foram 13 candidaturas e sete vitórias, contra 17 lançamentos e quatro triunfos em 2012. Hoje, no entanto, somente duas destas prefeituras seguem o controle do partido. Em Palmas e Porto Velho, Cinthia Ribeiro e Hildon Chaves, respectivamente, foram reeleitos em 2020 e deixam o cargo neste ano. Em Natal, Álvaro Dias migrou para o Republicanos em 2022. Já em São Paulo, o partido perdeu o comando depois da morte de Bruno Covas, em 2021, em decorrência de um câncer.
Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Vitória, Belo Horizonte, São Paulo, Goiânia, Campo Grande e Palmas devem ter candidatos tucanos na temporada deste ano. Em Campo Grande, o deputado Beto Pereira terá a seu favor a máquina do governador Eduardo Riedel (PSDB) na disputa contra a prefeita Adriana Lopes (PP). Em Pernambuco, rachado após o rompimento entre a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB), o secretário de Turismo Daniel Coelho deve enfrentar o prefeito João Campos, do PSB, que é tido como um líder popular. A legenda vai atuar em prol de uma candidatura própria na disputa pelo comando de São Paulo. Na capital paulista, na semana passada, a executiva municipal decidiu que o partido não vai embarcar no projeto de reeleição de Ricardo Nunes (MDB), que foi vice de Covas. Caso os tucanos não consigam um nome eleitoralmente viável para a cabeça de chapa, existe a possibilidade de composição com outro candidato. O apoio à deputada Tábata Amaral, do PSB, é tido como o mais provável neste cenário. Reservadamente, tucanos reconhecem que o partido deve enfrentar uma das eleições mais difíceis da sua história. O ex-presidente da sigla e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse em novembro do ano passado que “é natural que o PSDB não venha eleger o mesmo número de prefeitos que elegeu em 2020”.
O partido tem conversas em andamento para federar com outras legendas, como PDT, Solidariedade e Podemos. O objetivo dessas conversas, segundo Perillo, é ter “robustez” na Câmara, onde atualmente há apenas 13 deputados, e no Senado, com apenas um representante, e ganhar corpo para 2026. Hoje, o PSDB faz parte da federação com o Cidadania. A verdade é que o partido perdeu musculatura e tem 345 prefeitos em todo o país. A legenda elegeu 520 prefeitos na última eleição mas 175 deixaram o ninho tucano desde então. Nas eleições de 2012 foram 686 prefeitos eleitos e 803 em 2016. “A onda azul está tomando conta do país”, afirmou Aécio Neves, então presidente nacional do PSDB, na ocasião. Naquela época, o partido era protagonista na oposição ao PT. No seu auge, em 2000, eram 991 prefeituras comandadas por tucanos. Os tucanos citam o resultado da perda do eleitorado em 2018 e crises internas como fatores. Eles avaliam que o eleitorado mais ligado à direita foi arrastado para o PSL de Jair Bolsonaro (hoje PL) naquele ano, quando Geraldo Alckmin, hoje PSB, amargou o quarto lugar na corrida presidencial. O processo de prévias em novembro de 2021, opondo o então governador de São Paulo, João Doria, e Eduardo Leite, agravou a situação. Doria venceu, mas desistiu da candidatura diante da falta de apoio do próprio partido e abandonou a política. O bolsonarismo está sendo o grande beneficiário da crise que sacudiu o PSDB.