Pela primeira vez desde 2005, o ex-deputado federal José Dirceu (PT) retornou ao Congresso Nacional. Em uma sessão solene do Senado em defesa da democracia, o militante petista discursou e lembrou o marco da sua cassação na Câmara. “Quando recebi o convite do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder do governo no Congresso) quase não aceitei, pois desde a madrugada de primeiro de dezembro, quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato que o povo de São Paulo tinha me dado pela terceira vez, eu nunca mais voltei ao Congresso, mas acredito que João Goulart merecia e merece a minha presença, hoje, aqui”, disse Dirceu, ao discursar na sessão.
José Dirceu teve seu mandato cassado em 2008 pelo plenário da Câmara dos Deputados por falta de decoro parlamentar. Seus então colegas consideraram que o político quebrou o decoro por causa do mensalão, esquema pelo qual foi condenado depois no Supremo Tribunal Federal. Mais tarde, o político também foi condenado pela Lava-Jato. Antes de ser um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, Dirceu líder estudantil entre 1965 e 1968, ano em que foi preso pela ditadura militar em Ibiúna, São Paulo, durante a tentativa de realização do trigésimo Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). O político foi deportado em 1969 com mais 14 presos políticos em troca da libertação do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Exilou-se em Cuba e depois viveu clandestinamente no Brasil.
Na sessão do Senado Federal desta terça-feira, 2, políticos relembraram o golpe militar de 1964, que completou 60 anos. Entre os convidados, a ex-primeira-dama Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares durante o golpe. Dirceu lembrou do 8 de Janeiro e defendeu que para não repetir o golpe de 1964 é necessário fortalecer o poder civil no Brasil. “É preciso que publicamente o país todo debata o papel das Forças Armadas, democraticamente, até para o Brasil ter Forças Armadas à altura do que o Brasil é, porque o Brasil é um potência de per si, desigual, injusta, mas é, basta olhar o mundo”, disse Dirceu. “Nesse mundo que nós estamos vivendo, quem não tem autonomia, soberania e segurança alimentar, energética e tecnológica não sobreviverá. E precisa ter poder militar, pacífico, como está na nossa Constituição”.
Para Dirceu, o Brasil e o mundo estão em um momento no qual é preciso fortalecer a democracia. Na leitura do ex-chefe da Casa Civil de um dos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os regimes democráticos estão em perigo em todo o mundo. “A democracia está em risco porque não se fizeram as reformas estruturais, porque não há uma democracia social. Quando a democracia social deixa de existir, a democracia institucional, política, corre risco. Então, nosso papel, para consolidar a democracia brasileira, é fazer uma revolução social no Brasil. Significa desconcentrar a renda, a riqueza e a propriedade porque o Brasil é rico”, disse Dirceu. E concluiu: “O Brasil é rico! Não há nenhuma razão para 20 milhões de trabalhadores passarem fome”.