Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) está sendo confrontado em sua habilidade política com um princípio de crise na base que lhe dá apoio e sustentação na Assembleia Legislativa da Paraíba. Como definiu, ontem, o deputado Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, a crise ainda não está configurada, mas “falta liga” na relação entre o Executivo e a classe política, notadamente os aliados que votam favoravelmente a matérias do interesse oficial no plenário da Casa. A convocação do secretário de Educação, Antônio Roberto de Souza, para ir à Assembleia prestar informações sobre recursos perdidos pelo Estado junto ao governo federal é sintomática do clima de “falta de conexão” nas hostes oficiais. Curiosamente, o secretário foi indicado pelo Republicanos, trazido do Ceará, cujo modelo educacional era, então, exaltado entre os paraibanos. Mas os próprios integrantes da legenda queixam-se que ele não tem demonstrado “jogo de cintura” e sua postura tem desagradado parlamentares que procuram encaminhar demandas de interesse das suas regiões.
A convocação do secretário de Educação foi protocolada pelo deputado estadual George Morais, do União Brasil, que faz parte do bloco de oposição ao governo João Azevêdo, mas foi ratificada por deputados da base do governo na última sessão ordinária do Poder Legislativo. Além dele, também foi acionado o secretário de Saúde, Jhony Bezerra, para dar esclarecimentos sobre o lançamento de um Programa Estadual Contra o Câncer, que terá ampla repercussão – mas, nesse caso, não houve uma “convocação” e, sim, um convite. De resto, Jhony Bezerra – que é cogitado para ser candidato do grupo de oposição a Bruno Cunha Lima em Campina Grande a prefeito nas eleições vindouras – tem relação de harmonia com a base situacionista e, conforme depoimento dos próprios deputados, é receptivo a pedidos de audiência, bem como ao pronto encaminhamento e solução de reivindicações que lhe são apresentadas, o oposto do comportamento que é atribuído ao titular da Educação que, segundo Adriano, é mais focado nas questões pedagógicas.
O presidente da Assembleia, numa entrevista recente a um repórter de emissora de rádio, lamentou que apesar da colaboração daquela Casa, sob sua liderança, para a “governabilidade” estadual, não haja reconhecimento da parte do governador João Azevêdo. Galdino, de fato, tem sido decisivo, nas duas gestões empalmadas por João Azevêdo, para a tramitação em regime de urgência de projetos e matérias que o Executivo remete à Assembleia, mobilizando-se, inclusive, junto a deputados oposicionistas para que sejam flexíveis em certas proposições de interesse público. Tem exercido esse papel apesar de não ser líder de governo ou da maioria na Casa de Epitácio Pessoa, mas pelo desejo de contribuir com o êxito das ações concebidas ou idealizadas pelo governo de João Azevêdo. É natural que espere uma contrapartida mais efetiva da parte do governador e dos seus secretários no prestigiamento à instituição parceira da governabilidade – mas, pelo visto, não há a correspondência postulada. Ontem, o deputado estadual Jutay Meneses, também do Republicanos, alegou dificuldades de diálogo com o comando da Pasta da Educação, estendendo a restrição a auxiliares do secretário Antônio Roberto de Souza.
De sua parte, o deputado Wilson Filho, que já foi líder do governo na Casa de Epitácio Pessoa, procurou minimizar o ambiente de insatisfação reinante, descartando uma evolução do cenário para quadro de impasse ou de defecções na base situacionista. Prometeu agir, pessoalmente, junto às instâncias maiores, para contornar mal-entendidos e restabelecer a normalidade nas relações entre o governo estadual e a sua base de sustentação na Assembleia. Na opinião de Wilson Filho, o clima pode ter se radicalizado em virtude da “guerra intestina” entre partidos da base governista por filiações em massa nestes dias de vigência da chamada janela partidária, que possibilita migração sem risco de punição por eventual infidelidade. De acordo com ele, todos os partidos – inclusive, os de oposição – estão empenhados em se fortalecer e adquirir musculatura no processo de filiações, como preparação não apenas para as eleições municipais deste ano, mas, também, para as eleições de 2026, quando estarão em jogo o governo do Estado, a vice-governança, duas cadeiras ao Senado e respectivas suplências. Em meio a esses embates, alguns auxiliares do governo teriam interferido para reverter filiações feitas por partidos como o Republicanos, que se sente o mais prejudicado nesse contexto.
Pelo tom das reclamações, a emulação mais séria ocorre entre o Republicanos, presidido pelo deputado federal Hugo Motta, e o PSB, chefiado pelo deputado federal Gervásio Filho mas que tem como líder maior o próprio governador João Azevêdo. Lá atrás, houve choques motivados pela atração de lideranças políticas para filiações, em episódios que reclamaram “intervenção” ou mediação de João Azevêdo para chamar o feito à ordem. Os últimos acontecimentos evidenciam que a atmosfera de guerra fria entre os aliados da base situacionista não foi estancada – pelo contrário, tomou proporções maiores, avançando, agora, pela ocupação de secretarias e de outros postos estratégicos na administração que João Azevêdo conduz. O governador está, mais uma vez, posto à prova em relação à sua habilidade política, mas o que se diz é que paliativos já não são mais suficientes, e, sim, um “choque de decisão” para definir quem é quem no metro quadrado do esquema que dá apoio e sustentação ao segundo governo do líder socialista. Daí a expectativa quanto às “medidas cirúrgicas” que Azevêdo poderá tomar.