Nonato Guedes
O senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB, tem feito movimentos que reforçam sua posição de protagonismo na atual conjuntura política paraibana, buscando fortalecer-se nas próximas eleições municipais para pavimentar, com certa tranquilidade, o projeto de reeleição ao Senado no pleito de 2026. Ontem, após dialogar com pré-candidatos a vereador do partido em Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa, Veneziano anunciou o apoio do MDB à candidatura do comunicador Nilvan Ferreira (Republicanos) a prefeito na terra dos canaviais. Com isto, pôs fim a desencontros que vinham marcando seu relacionamento com Ferreira desde que assumiu o comando emedebista sucedendo ao falecido senador José Maranhão. Em outra frente, Veneziano botou pressão para que o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil), que tem seu apoio, assuma o desafio de concorrer contra o ex-prefeito Romero Rodrigues (Podemos), que até aqui tem sido enigmático em relação à disputa local, embora tenha aliados na gestão de Bruno.
No caso de Nilvan, além do MDB não ter forjado quadros competitivos para a eleição em Santa Rita, Veneziano já havia ensaiado canais de interlocução com o comunicador, que foi seu concorrente na eleição ao governo do Estado em 2022, vencida por João Azevêdo (PSB). O contencioso entre o senador e o comunicador remonta, porém, às eleições municipais de 2020, quando Veneziano estava no PSB e Ferreira foi lançado no MDB como candidato a prefeito da Capital, com as bênçãos de Maranhão, tendo avançado para o segundo turno contra Cícero Lucena (PP), o vitorioso. No pós-eleitoral, Veneziano fez o caminho de volta ao MDB e assumiu seu comando com a morte de Maranhão, mas eram nítidas as divergências entre o parlamentar e o ex-candidato a prefeito. Nilvan se apresentava como bolsonarista de carteirinha, enquanto Veneziano alinhou-se com o PT e abraçou a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no primeiro turno do pleito de 2022 o apoiou no primeiro turno ao Executivo paraibano. No segundo turno da disputa estadual, enquanto Nilvan adotou a neutralidade, Veneziano engajou-se de peito aberto na campanha de Pedro Cunha Lima (PSDB) ao governo, mantendo o apoio a Lula contra Bolsonaro.
Esse apoio a Pedro acabou selando a pacificação política entre o grupo de Veneziano e o grupo Cunha Lima, até então rivais históricos em Campina Grande, e evoluiu para a integração do senador emedebista ao esquema do prefeito Bruno, cuja gestão tem tido expressivos aportes de recursos do seu mandato parlamentar em Brasília, mediante, também, canais de influência que Veneziano detém dentro do governo federal e em outras esferas de poder, lastreado, ainda, pela sua condição de vice-presidente do Senado Federal. Na prática, Veneziano move-se na cena política paraibana acima de partidos e ideologias, pois tanto quanto Nilvan Ferreira, Bruno Cunha Lima foi um bolsonarista entusiástico, e o senador está comprometido com o seu projeto de reeleição. Tanto que chegou a criticar o ex-prefeito Romero Rodrigues, que há quase um ano permanece em cima do muro sobre a eleição em Campina, não se comprometendo com Bruno mas também não assumindo projeto de candidatura, novamente. Para Veneziano, essa postura de Romero tem paralisado o cenário pré-eleitoral na Rainha da Borborema, afetando movimentos de outros atores do processo, daí entender que Bruno deve seguir seu destino, independente de fatos novos que venham a se suceder no xadrez político local.
O fato novo principal que está no radar é uma possível candidatura do deputado federal Romero Rodrigues à prefeitura, quatro anos depois de ter transferido o bastão para Bruno Cunha Lima. Aliados de Romero dizem que ele estaria de posse de pesquisas atribuindo-lhe favoritismo largo nas intenções de voto para o pleito de 2024, o que estaria influenciando suas reflexões acerca da volta ao Palácio do Bispo. Em paralelo, o ex-prefeito tem mantido distanciamento olímpico da administração de Bruno Cunha Lima, fugindo de eventos oficiais e de agendas com o atual prefeito, até mesmo para encaminhamento de demandas refletidas em projetos que envolvem liberação de recursos para a cidade de Campina Grande. Romero também recorreu à tática de evitar a imprensa para não ter que polemizar sobre a gestão de Bruno ou comprometer-se no apoio à sua candidatura à reeleição. Por conta disso, passou a ser cortejado por adversários de Bruno, como os aliados do governador João Azevêdo, como uma opção demolidora para o embate eleitoral de outubro, mas também não há registro de encontros seus com emissários ligados ao governador ou com o próprio governador, o que redobra o suspense em torno das verdadeiras intenções e do posicionamento que Rodrigues irá tomar para sobreviver politicamente a partir do seu principal reduto, baseado na Rainha da Borborema.
Aliados de Bruno, identificados com o “clã” Cunha Lima, ainda apostam que, no final das contas, Romero Rodrigues estará incorporado ao esquema, no palanque do prefeito Bruno, defendendo o seu projeto de reeleição à prefeitura campinense. Líderes como o ex-candidato a governador Pedro Cunha Lima já fizeram acenos a Romero para participar da chapa majoritária em 2026, inclusive, como candidato ao governo do Estado, e outras sugestões foram agitadas, uma das quais para que ele indicasse nome de candidato a vice na chapa de Bruno à reeleição no pleito deste ano. Nada parece ter sensibilizado Romero, ou, pelo menos, não provocou qualquer reação de sua parte – contra ou a favor. O parlamentar segue um enredo aparentemente individualista no desenho do seu próprio projeto, mas teoricamente confiante em níveis de ampla popularidade que lhe seriam atribuídos. Evidente que toda essa encenação tem prazo para acabar – ainda que se estenda até agosto, a data-limite para convenções com homologação de chapas e candidaturas. Mas, como alerta Veneziano, até lá o jogo pode ficar paralisado, daí as insinuações para que Bruno parta para o enfrentamento em qualquer circunstância, tendo como saldo positivo o elenco de obras da sua própria gestão em Campina Grande.