Nonato Guedes
O deputado federal Luiz Couto, do Partido dos Trabalhadores da Paraíba, pôs o dedo na ferida, ontem, ao queixar-se de autoridades e políticos aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, a seu ver, não estão dando, em público, o devido crédito ao governo petista por obras, investimentos e realizações que tenham sido carreadas para o Estado. Deu a entender que esses “aliados” fazem parte de outras legendas que integram a chamada base de sustentação do governo no Congresso Nacional mas procuram tirar proveito dos benefícios somente para si e para seus respectivos esquemas. Além de ser uma atitude desleal ou incoerente, esse comportamento viria tendo reflexos negativos na avaliação do governo por segmentos da sociedade, de acordo com a leitura feita pelo deputado histórico do PT em entrevistas em João Pessoa.
A observação é pertinente, mesmo que nos bastidores o deputado Luiz Couto também seja criticado por não dar maior amplitude, nos espaços do seu mandato, à divulgação de feitos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em relação a esse ponto é fora de dúvidas que o desempenho atual de Couto na Câmara dos Deputados nem de longe repete atuações destacadas que pontuaram outros mandatos, coincidentes, ou não, com governos do Partido dos Trabalhadores. Mas, abstraindo esse ponto, o que se nota é que parlamentares de legendas da base, que, inclusive, têm ministros no primeiro escalão do governo federal, fazem questão de acompanhar esses ministros em seus roteiros na Paraíba, e tanto quanto eles exaltam mais a si mesmos do que ao próprio governo de Lula. Tal se deu recentemente com o deputado federal Hugo Motta, do Republicanos, ou com o senador Efraim Filho, do União Brasil, que recepcionaram ministros, participaram de eventos e, nas falas, “esqueceram” o governo. Couto não citou, mas quem ainda dá crédito ao governo Lula é o governador João Azevêdo (PSB), que foi a segunda opção do petista nas eleições estaduais de 2022. E também, justiça se faça, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que foi o primeiro candidato a governador em 2022 apoiado por Lula.
Por trás da polêmica agitada pelo deputado Luiz Couto está, certamente, a queda nos índices de popularidade do governo Lula III. O Palácio do Planalto e o próprio mandatário ainda não digeriram os percentuais negativos conferidos à gestão, e ministros foram orientados a gastar sola de sapato pelo país para promover entregas que tenham repercussão junto a camadas da população cujo apoio o Partido dos Trabalhadores tem prioridade em conquistar para assegurar a sua própria hegemonia, em meio ao cenário de polarização que persiste contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O presidente Lula, como consequência dos indicadores desfavoráveis ao seu governo, convocou ministros e marqueteiros para reuniões maçantes que, na prática, reproduziram números e estatísticas, que se diluíram no comparativo entre os dois governos. O próprio presidente, que vinha cumprindo uma agenda focada mais no exterior do que no Brasil, retomou às pressas visitas a Estados do Nordeste e outras regiões, a pretexto de inaugurar obras destravadas com certa urgência ou rapidez para passar a ideia de que o governo trabalha, e muito, pelo povo.
Independente de análises sobre montante de recursos ou quantidade de obras e investimentos, o fato concreto é que o governo tem tido dificuldades para “deslanchar” suas metas e projetos administrativos, e uma das causas reside, justamente, na falta de homogeneidade do apoio da base política-parlamentar que lhe sustenta. Não há muita sincronia entre aliados de outros partidos, que preferem obedecer aos seus próprios chefes ou líderes, e integrantes do Partido dos Trabalhadores, para um trabalho coordenado de defesa e exaltação do governo na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal. São escassas as referências desses aliados de ocasião ao governo ou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, naturalmente, esperava um tom mais engajado, até por ter contemplado partidos de centro e mesmo de direita com ministérios e cargos importantes no organograma da terceira administração empalmada pelo líder petista. Há aliados que se definem, claramente, como “independentes” em relação ao governo atual de Lula, votando favoravelmente, apenas, às matérias de indiscutível interesse público, contra as quais não lhes convém se posicionar, ficando na contramão da expectativa popular.
Quando se candidatou, novamente, ao Palácio do Planalto, em reabilitação espetacular por estar recém-saído de um período de prisão de 580 dias na Polícia Federal, o líder Luiz Inácio Lula da Silva invocou o argumento da necessidade de firmar uma ampla “concertação política” que tivesse como meta prioritária a preservação do regime democrático, ameaçado pelas investidas tresloucadas do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua claque de fanáticos desvairados. Foram, então, feitas concessões que desagradaram figuras influentes do próprio Partido dos Trabalhadores, assustadas com a desfiguração de pautas que eram bastante caras à legenda. O fato preponderante, contudo, é que o governo do presidente Lula não conseguiu avançar no terreno político a ponto de construir uma maioria razoável que lhe desse margem de folga ou tranquilidade para administrar os desafios. Lula é refém do presidencialismo de coalizão e só consegue escapar desse círculo de giz se adquirir força real, junto com o Partido dos Trabalhadores. Em não se dando esse desideratum, o governo se manterá frágil, extremamente vulnerável aos humores de legendas que estão no poder por oportunismo ou pragmatismo mas que não têm a menor dificuldade de pular do barco quando isto lhes for conveniente.