Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (PSB) acompanhou, com interesse, o processo de filiações dentro da “janela partidária” que funcionou para acolher migrações de políticos sem o risco de qualquer punição legal por suposta infidelidade. João Azevêdo, naturalmente, deu sua parcela de contribuição para o fortalecimento do PSB, sem deixar de estar atento às filiações realizadas por partidos da base que lhe dão governabilidade, a exemplo do PP, do PSD e do Republicanos, entre outros. No final das contas, conforme definiu um interlocutor próximo ao chefe do Executivo, prevaleceu o espírito do “governo municipalista” que João Azevêdo vem encampando desde a sua ascensão a um segundo mandato, como resultado das eleições majoritárias estaduais travadas em 2022.
No que se refere especificamente ao PSB houve prioridade para cidades médias e pequenas do interior do Estado na atração ou cooptação de quadros, sem prejuízo para ofensiva em colégios eleitorais importantes ou decisivos como João Pessoa e Campina Grande, onde há aliados do esquema situacionista posicionados para o pleito. Em João Pessoa, por exemplo, o governador mantém inalterado o seu compromisso de apoio à pré-candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, mantendo-se na chapa o atual vice-prefeito Leo Bezerra, que é das hostes socialistas. Em Campina Grande, o esquema liderado por João Azevêdo ainda aposta em opções colocadas dentro do PSB (a do secretário de Saúde, Jhony Bezerra), no PSD (com o nome da senadora Daniella Ribeiro) e aguarda uma decisão do ex-prefeito e deputado federal Romero Rodrigues, do Podemos, que tem alimentado desde o ano passado distanciamento na relação com o atual prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) e com o esquema que apoia seu projeto de recondução.
A ofensiva de filiações no âmbito municipalista foi avaliada como proveitosa pelo chefe do Executivo, lembrando que o próprio PSB saltou de uma para cerca de 80 prefeituras municipais em diferentes regiões fisiográficas da Paraíba, o que indicaria confiança no projeto político de poder empalmado por João Azevêdo. Essas prefeituras constituirão, ao lado das que são controladas por partidos aliados, o “exército” com que o governador espera contar para arrebatar vitórias expressivas na maioria dos municípios paraibanos, com isto fortalecendo-se consideravelmente o esquema para as eleições de 2026, em que não se descarta uma própria candidatura do governante a uma das vagas de senador. Conforme admitiu João Azevêdo, em alguns municípios haverá embates entre postulantes de partidos distintos que integram a base oficial, mas ele se mostra confiante em que esses embates venham a ser travados democraticamente e sem sequelas para as composições futuras, a despeito da marcante rivalidade que predomina em disputas municipais. Houve casos em que o próprio governador interveio para bater o martelo em prol de nomes do PSB, como se deu em Cajazeiras com o apoio ao deputado Chico Mendes.
A mobilização encetada pelo esquema governista levou em conta a ação articulada de partidos de oposição para avançar nas filiações, com isto avançando na ocupação de espaços políticos que serão vitais para os confrontos futuros. Partidos como o União Brasil, capitaneado pelo senador Efraim Filho, MDB, liderado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e PSDB, controlado pelo “clã” Cunha Lima, embora presidido no Estado pelo deputado Fábio Ramalho, bem como o PL, de vinculação bolsonarista, organizaram-se numa espécie de “frente ampla” para concorrer com o bloco encabeçado por João Azevêdo, adquirindo, assim, capilaridade para se movimentar no pleito mais relevante, daqui a dois anos. Como é da tradição das mudanças partidárias, houve avanços, recuos e desistências de última hora, contabilizadas no mapeamento da correlação de forças entre os partidos e os agentes políticos, na prévia para 2026. Tanto governistas como oposicionistas não esconderam que a estratégia adotada nas eleições deste ano está sincronizada com as eleições mais na frente, em consonância com perspectivas de poder que são buscadas pelos líderes políticos.
Da parte do governador João Azevêdo, ressalte-se que em paralelo à ofensiva de filiações políticas ao PSB e a outros partidos da base situacionista de que ele participou, direta ou indiretamente, houve ação midiática do Executivo durante a semana, com o desembarque na Paraíba da chamada Caravana Federativa, que trouxe ministros e representantes de órgãos federais, para ausculta de demandas ou reivindicações e pronto encaminhamento das que são consideradas mais viáveis na escala de atendimento. O governador não deixou de mencionar o evento da Caravana como um reflexo do novo pacto federativo que está sendo construído no país e que envolve a interatividade entre o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras municipais. A coincidência de oportunidades promissoras voltou a injetar otimismo no esquema do governador e colaborou, inegavelmente, para a retomada da militância política com vistas às eleições, motivando até os que já se mostravam pouco empolgados com o exercício do “mister” político no Estado. Esta é a leitura que fazem interlocutores privilegiados do governador João Azevêdo na área política.