Nonato Guedes
Ao contrário do que se especulava, a deputada estadual Cida Ramos (PT) não desistiu de continuar lutando para ser indicada candidata do partido à prefeitura de João Pessoa nas eleições municipais deste ano. Ela reapareceu no noticiário para minimizar o peso de adesões manifestadas por próceres petistas à pré-candidatura do seu concorrente, o deputado estadual Luciano Cartaxo e contrapôs que detém apoios valiosos da militância, representada por membros de agrupamentos e tendências que têm raízes dentro do petismo, além de reafirmar que não acredita em imposição de nomes por parte da cúpula nacional, mas, sim, em acatamento democrático dos votos que forem dados pelos filiados à legenda na Capital paraibana.
Nos últimos dias, como se sabe, o deputado Luciano Cartaxo ganhou o reforço de figuras como a do ex-governador Ricardo Coutinho, da ex-deputada estadual Estelizabel Bezerra, do deputado federal Luiz Couto e da ex-prefeita do Conde, Márcia Lucena, o que foi publicizado em documento que defende o nome do parlamentar como o mais viável para representar as hostes da legenda, confrontar os remanescentes bolsonaristas e avançar para um segundo turno, possivelmente contra o prefeito Cícero Lucena, do PP, que ainda é quem lidera levantamentos sobre intenção de votos. Por óbvio, esse agrupamento descartou uma eventual composição do PT com a pré-candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, invocando incompatibilidade de estilos de governo e diferenças políticas e ideológicas, a despeito do apoio hipotecado pelo governador João Azevêdo (PSB), que é aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao projeto cicerista. Ressalte-se que a hipótese de aliança com Cícero não é nova dentro do PT e foi agitada lá atrás por dirigentes do próprio partido de Lula, como Jackson Macedo, presidente do diretório regional.
Para fundamentar a alternativa de composição com Cícero Lucena, Jackson Macedo alegou que o Partido dos Trabalhadores não pode incorrer mais em erros primários, de amadorismo político, muito menos persistir na estratégia de apostar em aventuras, tendo em vista que isso enfraquece a expressão petista e prejudica candidaturas proporcionais nas eleições a vereador. Jackson insistiu no ponto de vista enquanto julgou ter espaço para tanto, tendo recuado de conflitos depois que foi deliberada a indicação de candidatura própria do PT a prefeito de João Pessoa agora em 2024. Acostou-se, então, a essa opção e tomou posição, de imediato, pela pré-candidatura da deputada Cida Ramos, por considerar que ela tem mais “identidade” com as lutas do Partido dos Trabalhadores do que Luciano Cartaxo. Chegou a rememorar o episódio da desfiliação de Cartaxo das fileiras petistas na eclosão do escândalo do mensalão, que desgastou o partido a nível nacional, avaliando que houve falta de firmeza ou convicção para com a agremiação num momento particularmente crucial que ele enfrentava no cenário político brasileiro. Ainda agora, Macedo mantém preferência por Cida mas evita contribuir para a disseminação de polêmicas internas.
Junto a setores isentos da opinião pública paraibana, a impressão dominante é a de que o Partido dos Trabalhadores tem perdido tempo com o acirramento das divergências em torno da sua participação no processo eleitoral deste ano em disputa à prefeitura de João Pessoa e, ao mesmo tempo, perde espaços na conjuntura global, em que postulantes de outras legendas, até mesmo sem tradição, sobressaem no cenário de João Pessoa. Nas sondagens informais junto a segmentos da opinião pública, o PT não lidera projeções de vantagem ou de favoritismo para o páreo – sequer constando em análises que se desdobram para o prognóstico de um segundo turno. O prefeito Cícero Lucena, que tem posição de centro, tem agregado forças valiosas para a tática de conquista de um novo mandato e polariza, na prática, com o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos, que tem alinhamento moderado com o bolsonarismo e que não foca sua estratégia em aspectos ideológicos. A pré-candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pelo PL, ainda é uma incógnita na bolsa de especulações, estando condicionada a uma transferência de votos por parte do ex-mandatário, que cumprirá agenda neste final de semana na Capital paraibana.
A deputada Cida Ramos já deixou evidente, por inúmeras vezes, que não cogita deixar as fileiras do Partido dos Trabalhadores diante de um desfecho desfavorável na decisão final a ser tomada pela direção nacional, presidida pela deputada paranaense Gleisi Hoffmann. Cida leva em conta o histórico de sua atuação na esquerda e dentro do próprio PT, bem como os apoios que considera expressivos hipotecados à sua pretensão. Cida Ramos tem “certeza” de que será ungida na etapa final do processo interno de discussões envolvendo o papel do Partido dos Trabalhadores na conjuntura eleitoral de 2024 em João Pessoa. Para o grande público, o que persiste é uma grande incógnita, em face das próprias contradições vivenciadas pelo PT. O partido indicou a realização de prévias como o primeiro passo para embates democráticos internos, posteriormente suspendeu as prévias, praticamente cancelando-as, enquanto o diretório nacional avocou-se a responsabilidade de decidir. O papel do diretório municipal, nesse contexto, passa a ser meramente decorativo, confundindo aliados e simpatizantes sobre quais as verdadeiras intenções que estão por trás de movimentos articulados por líderes de destaque no petismo paraibano.