Nonato Guedes
Faltou o “grand-finale” na tumultuada agenda política cumprida em João Pessoa pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a pretexto de fortalecer o PL para as eleições municipais de outubro, com a candidatura do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O momento mais esperado, nos meios políticos e entre apoiadores bolsonaristas, era o anúncio da chapa encabeçada por Queiroga tendo como vice o pastor evangélico e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Queiroz, recentemente filiado ao Novo. O pastor chegou a comparecer aos eventos da programação, testemunhou os gritos de Bolsonaro com os próprios seguidores por causa de incidente no aeroporto Castro Pinto, mas, na sua hora de dizer “sim”, falou em adiamento da decisão, a pretexto de ampliar consultas dentro do partido a que é filiado. O Novo vai participar da campanha formando com as forças de direita, mas o papel que terá é uma incógnita, o que, conforme versões, irritou o próprio Bolsonaro, a quem caberia bater o martelo da “união” dos conservadores no Estado.
Há quem sustente que a hesitação do pastor em aceitar ser vice foi a crônica de uma postura já ensaiada e que, no íntimo, ele alimentou a vaidade de ser cabeça de chapa e não coadjuvante no pleito deste ano, até em virtude de possuir mais respaldo eleitoral do que o ex-ministro Queiroga, que nunca disputou mandatos eletivos pelo seu Estado de origem. Nas eleições ao Senado em 2022, quando concorreu pelo PRTB e tentou se apresentar como um “outsider”, desvinculado de oligarquias políticas e de esquemas tradicionais que se revezam no cenário paraibano, Sérgio Queiroz obteve 107 mil votos apenas em João Pessoa. Não logrou, é claro, erguer a taça, que ficou com o candidato Efraim Filho, do União Brasil, dissidente do esquema do governador João Azevêdo (PSB), mas sentiu-se estimulado e credenciado a postular outros cargos de destaque. A prefeitura da Capital passou a figurar no seu radar como alternativa imediata, o que o levou a definir filiação partidária e a mobilizar influências em redes sociais, onde costuma fazer “lives” em tom propositivo, discorrendo sobre problemas de João Pessoa e propostas de solução.
Queiroz é tido como um debatedor brilhante mas, ao mesmo tempo, avaliado como um agente político de difícil trato. Rege-se por um caráter personalista na tomada de decisões, que procura converter, no contato com a opinião pública, em atitude de firmeza ou de independência, coerente com a sua própria consciência. Ele havia deixado claro, em declarações à imprensa, que o ex-presidente Jair Bolsonaro, em cujo governo ocupou uma Secretaria de Modernização de Gestão, não ditaria o seu destino político, apesar do apreço manifesto pela liderança do ex-mandatário e pela identificação com bandeiras conservadoras empalmadas por ele, principalmente as que estão ligadas à área de costumes. O pastor é respeitado em João Pessoa e na Paraíba não apenas pela sua eloquência, mas pelo trabalho de assistência desempenhado junto a pessoas dependentes de drogas e por outras ações sociais de repercussão, à frente de uma igreja que dirige. O Novo poderá indicar outro nome, não revelado até as últimas horas, dentro da estratégia que vem sendo costurada nos bastidores para promover uma aliança que conduza as forças de direita ao segundo turno na disputa eleitoral em João Pessoa.
O ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cuja pré-candidatura a prefeito sempre teve o apoio das cúpulas nacional e estadual do PL, representadas por Valdemar Costa Neto e pelo deputado federal Wellington Roberto, além do endosso do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, que lhe é grato pela atuação solidária no momento crítico do enfrentamento à pandemia de covid-19, tem feito gestões e concessões para demonstrar jogo de cintura política na acomodação das forças de direita. Esse empenho tornou-se mais visível, ainda, quando o comunicador Nilvan Ferreira, que era o pré-candidato natural do PL a prefeito este ano, foi defenestrado da posição privilegiada e acabou migrando para a cidade de Santa Rita, onde se filiou ao Republicanos do deputado federal Hugo Motta e dará combate ao esquema do prefeito Emerson Panta na luta pelo controle da prefeitura municipal. Nilvan, que tem repaginado seu discurso, manteve-se distante dos eventos de Bolsonaro na Paraíba esta semana, preferindo ir cumprir agenda de contatos no interior de São Paulo para tomar conhecimento de experiências administrativas exitosas ali encetadas.
Na tática para agregar apoios, remover resistências e hostilidades, o ex-ministro Marcelo Queiroga se reconciliou, dentro do PL, com os deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino (estadual), entregando ao primeiro a presidência do diretório municipal da legenda em João Pessoa, bem como confirmando-o como coordenador de campanhas na região metropolitana polarizada pela Capital paraibana. Por sua vez, o deputado Walbber Virgolino, autor do título de Cidadão Paraibano a Bolsonaro, entregue, ontem, na Assembleia Legislativa, foi efetivado como pré-candidato a prefeito de Cabedelo e logrou atrair o próprio Bolsonaro para rápida agenda, ontem, na cidade portuária. A “missão Bolsonaro” na Paraíba havia sido programada para constituir acontecimento de massa e de idolatria ao ex-presidente; invés disso, o roteiro foi marcado por tumultos, hostilidades e reações de irritação do ex-mandatário, que repetiu o discurso de “perseguido político”. Em todo caso, Queiroga marcou um tento ao trazer Bolsonaro para seu palanque – restando-lhe, agora, o desafio de tentar unificar as forças de direita para viabilizar uma passagem para o segundo turno em João Pessoa.
Grande análise, Nonato Guedes.
Eu penso que Sérgio Queiroz deveria se lançar candidato a prefeito, independente, com vice do Novo. Ou candidato a vereador, a que tem chances de ganhar, já que tomou gosto pela política partidária.