Nonato Guedes
O deputado estadual Felipe Leitão, que integra a base governista na Assembleia Legislativa, prognosticou, ontem, em entrevista à rádio Arapuan, o desenho de um novo cenário para as eleições de 2026 na Paraíba. Avaliou que nessa reconfiguração do quadro político o governador João Azevêdo (PSB), que está em seu segundo mandato, permaneceria à frente do cargo até o último dia, deixando de concorrer a uma das vagas ao Senado. A dados de hoje, conforme Felipe Leitão, não há segurança para o chefe do Executivo de que o seu projeto administrativo, “que tem revolucionado a realidade da Paraíba”, tenha continuidade com a ascensão do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) à titularidade e perspectiva de postular a reeleição. De acordo com o parlamentar, o sentimento dominante entre muitos deputados e políticos governistas é o de que João Azevêdo deve concluir integralmente o mandato.
Felipe Leitão é dissidente do PSD, presidido pela senadora Daniella Ribeiro, mãe de Lucas Ribeiro, e aguarda a abertura de janela partidária para migrar para outro partido, que deverá ser o PSB liderado por João Azevêdo. Sua esposa, Taciana Leitão, inclusive, é candidata a prefeita de Bayeux no pleito deste ano pelo PSB, com apoio integral do governador e do seu esquema. Felipe ressalta que fatos novos estão se sucedendo na conjuntura estadual, com potencial para provocar uma guinada nas composições para 2026, diante da instabilidade quanto à firmeza de compromissos para com uma eventual candidatura do governador ao Senado. Citou como exemplo a recente declaração da senadora Daniella Ribeiro admitindo que seu projeto político pessoal é a recondução ao Senado. Embora seja um direito da senadora pleitear reeleição, Felipe lembrou afirmação feita, lá atrás, pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP), admitindo que não há lugar para dois expoentes do “clã” Ribeiro na chapa majoritária. A seu ver, a posição de Daniella, na atualidade, contradiz a manifestação do irmão, o que zera o quadro e cria espaço para novas possibilidades.
O deputado não chegou a assumir, concretamente, que há o risco de uma traição por parte dos Ribeiro ao governador João Azevêdo na campanha eleitoral de 2026, mas preveniu que há suspeitas de instabilidade de apoio a um virtual projeto do chefe do Executivo para concorrer ao Senado, daí opinar que João só deve bater o martelo quanto à saída do governo com segurança absoluta dentro do seu esquema político. O raciocínio do deputado é o de que ambições ou pretensões pessoais de algumas lideranças políticas estão tentando se sobrepor ao próprio comando do governador, a quem cabe coordenar o processo da sua sucessão no tempo oportuno. E, nessa hipótese, considera natural que haja uma mudança de rota, em nome da homogeneidade das forças e da sobrevivência política dos liderados do governador João Azevêdo. “Ninguém pode negar que João Azevêdo tornou-se uma grata revelação na política paraibana, realizando uma administração de resultados que suplanta, em muito, outras gestões da história recente do Estado. Isto lhe dá reconhecimento popular e papel de liderança, o que atrai rivalidades ou concorrências”, explicou, de forma didática, o deputado Felipe Leitão.
Na verdade, a manifestação do parlamentar não é isolada – ela se soma a opiniões emitidas por protagonistas do processo político estadual, que prospectam com antecedência a direção do radar na Paraíba em 2026 e, igualmente, externam temores quanto à situação eleitoral do governador, despojado da força da caneta do poder e engalfinhado numa disputa que pode se tornar acirrada por uma cadeira no Senado da República. O deputado Adriano Galdino, do Republicanos, presidente da Assembleia Legislativa e “sócio da governabilidade” na Era João Azevêdo tem repetido alertas não só para que o chefe do Executivo assuma, de fato e de direito, o comando de um partido político (que pode ser o próprio PSB), mas, também, passe a reforçar a sua articulação com políticos de confiança que não tendem a abandoná-lo nos projetos futuros. Outros deputados do Republicanos têm feito o mesmo diagnóstico e, no PSB, expoentes como o deputado Hervázio Bezerra sugerem que o governador seja bastante cauteloso na definição de estratégias que garantam, em 2026, a permanência hegemônica do seu esquema político nos quadros de poder da Paraíba.
Na base de sustentação política do governador João Azevêdo gravitam, pelo menos, três partidos, que vez por outra vivem entrechoques por causa de disputas por espaço no poder, o que exige habilidade redobrada da parte do chefe do Executivo para conciliar interesses debaixo do seu guarda-chuva. O PSB de João, o Republicanos do deputado federal Hugo Motta e o “clã” Ribeiro, fracionado em dois partidos (o PP e o PSD) movimentam-se em faixa própria com vistas às eleições municipais deste ano, nem sempre se coligando entre si – pelo contrário, chegando em alguns casos ao enfrentamento direto, diante de situações locais incontornáveis. Com bastante antecedência, o próprio governador João Azevêdo lançou uma chapa para 2026, tendo Lucas Ribeiro na cabeça (ao governo), ele próprio (Azevêdo) e Hugo Motta como pré-candidatos ao Senado. De lá para cá, a suposta pretensão de Lucas tem sido bombardeada pelo chamado “fogo amigo” – e mantém-se flutuando no ar um clima de emulação que pode descambar para a hostilidade. O governador já deixou claro que uma candidatura ao Senado não é “sangria desatada” para ele, mas as opiniões oscilam ao sabor da instabilidade do cenário e da correlação de forças entre apoiadores que dão respaldo à gestão socialista no Estado. O alerta de Felipe Leitão pode ser premonitório do avanço do que ele chama de “fatos novos” que estão acontecendo.