Nonato Guedes
Depois de ter perdido para Jair Bolsonaro, em 2018 e 2022, protagonismo no cenário eleitoral à Presidência da República, o PSDB tenta voltar a ocupar espaços produzindo eventos como o lançamento, ontem, da plataforma “Farol da Oposição”, site criado pelo Instituto Teotônio Vilela, presidido pelo deputado Aécio Neves (MG) para abastecer filiados com informações sobre o governo, visando auxiliar na elaboração de articulações e discursos oposicionistas. Apesar dessa mobilização, o PSDB não consegue frear o alto índice de “governismo” dentro das suas fileiras. Conforme levantamento do “Congresso em Foco”, o partido segue um padrão de votações de matérias no Parlamento próximo ao de partidos da base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até o início de abril deste ano, a bancada tucana acompanhou a orientação do Planalto em 78% das discussões da Câmara dos Deputados.
O “índice de governismo” do PSDB na Câmara Federal chega a superar o do União Brasil, partido menos fiel da base do governo, que ocupa dois ministérios e entrega, em média, 78% dos seus votos. No Senado, contudo, o único tucano restante, Plínio Valério, do PSDB-AM, apresenta um padrão de oposição, com 58% de governismo. O índice desenvolvido pelo “Congresso em Foco” leva em conta o percentual de vezes em que o voto do parlamentar coincidiu, nas votações nominais, com a orientação do líder do governo. O Instituto Teotônio Vilela é descrito como o “think tank”, espécie de centro de ideias e estudos oficial do PSDB, atuando com produção de artigos, formação de seus filiados e na discussão de teses defendidas pela sigla na comunidade acadêmica. O atual presidente, deputado Aécio Neves, é rival histórico do PT e um dos articuladores do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Conforme os dados do “Radar do Congresso”, ele acompanhou o governo em 79% das votações, superando a média do seu partido.
Apenas um deputado tucano costuma votar contrariamente ao governo, Lucas Redecker (PSDB-RS), com 49% de governismo. Outros dois, Daniel Trzeciak (PSDB-RS) e Geovania de Sá (PSDB-SC) não tendem a votar nem conforme e nem contrariamente ao governo, com respectivamente 59% e 56% de adesão em plenário. Um dos deputados, Dagoberto Nogueira, do PSDB-MS, chega a 97%, índice de governismo que supera, inclusive, a média de aliados de primeira ordem do Executivo, como o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). O “Farol da Oposição” anunciou, na estreia, dados sobre a gestão da Petrobras, acompanhado de análises críticas. As informações são distribuídas nas redes do PSDB e enviados por WhatsApp a militantes. “É o PT de novo querendo colocar a mão na empresa, que foi fonte de vários escândalos em seus governos anteriores. De novo, é Lula voltando ao local do crime”, diz Aécio Neves, repetindo bordão que foi utilizado, no passado, pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, atual vice-presidente da República e filiado ao PSB. O PSDB, hoje presidido pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, atua em federação com o Cidadania na Câmara dos Deputados, ocupando apenas 18 das 513 cadeiras da Casa.
Para além de posições contraditórias que assume na atual conjuntura política-institucional brasileira, o que se verifica em relação ao PSDB é um processo vegetativo de esvaziamento e de enfraquecimento que pode condená-lo, em definitivo, à extinção. O partido, que nasceu das entranhas do PMDB e forjou lideranças nacionais de prestígio como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de São Paulo, Mário Covas e o próprio Aécio Neves (que depois caiu em desgraça), não é referência, atualmente, como interlocutor na cena nacional. Mantém-se à distância ou segregado das grandes discussões sobre pautas polêmicas que agitam, especialmente, o Congresso Nacional. Faltam vozes de expressão e de credibilidade para conduzir o posicionamento tucano em torno das questões mais candentes. A agremiação não controla, como já o fez, governos de Estados importantes, tem representação opaca na Câmara Federal e no Senado. Também não consegue demonstrar vitalidade para uma reabilitação em alto nível, capaz de devolver-lhe capilaridade e inseri-la, novamente, com possibilidades, no contexto da eleição presidencial.
O reflexo colateral dessa situação de desmonte se dá em diferentes Estados, desde os mais importantes, como São Paulo e Rio Grande do Sul, que tiveram governadores da história recente como João Doria e Eduardo Leite cogitados para empalmar uma candidatura ao Palácio do Planalto, a Estados menores, como a Paraíba, onde nas eleições de 2022 o PSDB conseguiu avançar para o segundo turno das eleições de governador, com o nome do então deputado federal Pedro Cunha Lima, atualmente sem mandato e prestando consultoria a governos estaduais, como contratado da Unesco, na área da Educação. Uma prévia do esfacelamento do PSDB paraibano está no fato de que o partido não terá candidatos próprios a prefeito, este ano, nos dois maiores colégios eleitorais do Estado – João Pessoa e Campina Grande. Na Capital, Pedro Cunha Lima já declarou apoio à candidatura de um ex-tucano, o deputado federal Ruy Carneiro, do Podemos. Em Campina Grande, o compromisso é com a candidatura do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) à reeleição. O PSDB atua como coadjuvante – e coadjuvante secundário, não indicando, sequer, candidatos a vice-prefeito nesses colégios considerados decisivos.